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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2009 Carol Marinelli. Todos os direitos reservados.

UM NEGÓCIO PARA DOIS , N.º 1227 - Agosto 2012

Título original: Bedded for Pleasure, Purchased for Pregnancy

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2010

 

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

™ ®,Harlequin, logotipo Harlequin e Sabrina são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-0612-2

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Capítulo 1

 

– Adivinha quem vem esta noite?

Emma sorriu face ao entusiasmo que havia na voz da sua mãe quando Lydia Hayes desligou o telefone.

– Vem metade de Melbourne!

A festa do sexagésimo aniversário do seu pai fora a única coisa de que a sua mãe falara nas últimas semanas e o jantar íntimo que tinham planeado ao princípio adquirira dimensões descomunais.

O toldo montado para a ocasião estava aberto com o objectivo de revelar a Baía de Port Phillip em toda a sua glória, coisa a que o céu limpo ajudava. Montara-se a pista de dança, a banda estava a preparar-se, os supervisores de catering andavam de um lado para o outro e Lydia estava cheia de nervos à medida que se aproximava a hora.

– Temos um convidado inesperado! – juntou as mãos, contente. – Vá lá, Emma, adivinha quem é.

– Hum... – murmurou, embrulhada numa toalha enquanto pintava as unhas dos pés. Depois de ter dedicado o dia a ajudar a sua mãe, estava a despachar-se à pressa para estar pronta. – Simplesmente, diz-me.

– Zarios!

Uma pincelada de verniz vermelho marcou um dedo do seu pé. Limpou a zona com uma bolinha de algodão, recusando-se a deixar que a presença de Zarios a afectasse naquela noite.

Mas afectava.

Zarios... Aquela palavra bastava para causar um formigueiro pelas costas de qualquer mulher. Um homem que não precisava de usar o seu apelido famoso para ser imediatamente reconhecível.

O seu rosto sério e atraente aparecia com frequência nas colunas de sociedade. A sua fama com as mulheres era horrível... tanto que, depois de vários artigos demolidores contra ele, era um milagre que alguma mulher pudesse sequer considerar a ideia de ter uma relação com ele.

Mas era assim, várias vezes. E sem excepção, acabava sempre em lágrimas... para a mulher.

– Porquê? – a curiosidade venceu enquanto tapava o frasco de verniz.

Os seus respectivos pais podiam ser muito bons amigos, porém, porque é que Zarios D’Amilo havia de pensar em ir à celebração do pai dela? Num sábado à noite não devia estar na cama com uma modelo?

Rocco D’Amilo chegara à Austrália há quase meio século, com onze anos. Filho de imigrantes italianos, sofrera brincadeiras e escárnios nos primeiros tempos na escola. Incapaz de falar inglês e com a lancheira sempre cheia com comida de cheiro forte, fora um alvo fácil, até Eric Hayes, que também sofrera a sua cota de brincadeiras, ter posto um olho arroxeado ao chefe. Depois, tinham-se tornado amigos da alma.

Rocco iniciara a sua vida profissional como construtor, Eric, como agente imobiliário e tinham mantido o contacto até quando Rocco levara a sua jovem esposa e o seu filho recém-nascido de volta para Itália. Tinham sido padrinhos no casamento um do outro, nos baptizados dos respectivos filhos e a amizade fora o sustento de que Rocco precisara quando a sua jovem esposa o abandonara, juntamente com o menino de quatro anos que tinham tido juntos.

Eric tivera sucesso com o passar dos anos e os investimentos inteligentes em propriedades tinham significado que a sua família vivia de forma confortável. Comprara uma casa velha num bairro exclusivo da costa e reformara-a com mimo até mostrar a mesma grandiosidade que a vista de que gozava.

Também Rocco alcançara o sucesso, tanto na Austrália como em Roma, mas fora o seu filho Zarios que transformara o negócio familiar no império que era naquele momento. A ética de trabalho do seu pai, combinada com uma educação cara e um cérebro brilhante, tinham sido uma receita garantida para o sucesso.

Zarios saíra da universidade com grandes planos que, com rapidez, levara a cabo, transformando a modesta empresa de construção numa empresa global de propriedades e finanças. A D’Amilo Financiers possuía múltiplas sucursais espalhadas pela Europa e começava a espalhar a sua influência para o resto do globo. Como a reforma de Rocco estava próxima, esperava-se que Zarios ficasse oficialmente a gerir a empresa.

– Fizeram-lhe um ultimato! – embora estivessem sozinhas no quarto, Lydia falou num sussurro. – O teu pai contou-me que, aparentemente, a direcção está farta da má conduta de Zarios. Não gostam da ideia de ser o accionista maioritário...

– Isso depende de Rocco... – franziu o sobrolho.

– Rocco também está farto dele. Deu tudo àquele rapaz e vê o que Zarios faz para lhe pagar. Basta que o resto da direcção se junte... – baixou ainda mais o tom de voz, – e agora dá a impressão de que podem fazê-lo. Se os rumores de que Zarios acabou com Miranda forem verdadeiros... Ela era a única pessoa que o redimia.

– Mas só estavam juntos há alguns meses! – exclamou Emma.

– O que é muito tempo em anos caninos!

Riram-se durante um bom bocado.

Os seus pais enfureciam-na às vezes... Na verdade, era quase sempre assim. Não suportava a predilecção aberta que sentiam pelo seu irmão, Jake, nem o modo como menosprezavam constantemente a sua escolha profissional de carreira, como se, por ser artista, não tivesse um trabalho a sério... e, no entanto, ela adorava-os. A sua mãe era, e para ela sempre fora, a mulher mais divertida que conhecia.

Embrulhada numa toalha, ria-se abertamente enquanto o sol se punha sobre a baía, enchendo a sala de ouro, e soube que, de algum modo, aquele momento era especial.

– Vamos! – limpando os olhos, Lydia apressou a sua filha. – Onde diabos posso pô-lo?

– Vai ficar a passar a noite aqui? – Emma esbugalhou os olhos face à ideia de que Zarios D’Amilo dormiria naquela casa.

– Claro! – gritou Lydia, esquecendo o momento de brincar e recuperando a tensão. – Sabia que Rocco o faria... mas Zarios! Terás de lhe dar o teu quarto!

– Nem pensar!

– Não podemos pô-lo na cama desdobrável do escritório... Jake mudou-se para o seu antigo quarto e Rocco ocupará o quarto de hóspedes... Zarios tem de ficar com o teu. Vá lá, é hora de te vestires – indicou, recusando-se a debater a questão. – As minhas amigas vão morrer de ciúmes... Consegues imaginar a cara de Cindy quando descobrir? Compraste alguma coisa bonita para esta noite, não foi?

– Como um vestido de noiva? – brincou Emma.

– Ele acabou com Miranda!

Compreendeu que o seu sarcasmo passara despercebido para a sua mãe.

Lydia Hayes passara a sua vida de casada a tentar subir na escala social e estava decidida a fazer com que os seus filhos fizessem o que ela nunca conseguira.

– O solteiro mais cobiçado da Austrália vai juntar-se a nós para celebrar o sexagésimo aniversário do teu pai, Emma. Não estás pelo menos um pouco entusiasmada?

– Claro que estou – Emma sorriu. – Por causa do aniversário do pai...

– Então, prepara-te – repreendeu-a e, depois, massajou as têmporas. – Chegarão em breve...

– Mãe, acalma-te.

– E se estiverem à espera de uma coisa espectacular?

– Apresentar-lhes-emos Zarios! – Emma voltou a sorrir, mas a sua mãe não estava de humor para piadas. – Esperam uma festa de aniversário e é o que vai acontecer – segurou nas mãos da sua mãe. – Vêm para estar contigo e com o pai. É a única coisa que importa.

– Jake nem sequer está em casa! – exclamou. – O meu próprio filho não é capaz de chegar a tempo. Achas que se lembrou de encomendar os bolos para o pequeno-almoço?

O pânico voltava a aparecer na voz da sua mãe e, com prontidão, tentou afastá-lo.

– Claro que se lembrou. Vai buscar lençóis limpos para a minha cama e eu vestir-me-ei.

 

 

O seu quarto estava exactamente tal como há sete anos, quando saíra de casa para ir estudar Belas Artes na universidade. Adorava voltar e ficar no quarto antigo, entre as suas coisas familiares, porém, naquela tarde, observou-o com olho crítico, perguntando-se o que Zarios pensaria dos quadros que enfeitavam as paredes, das cortinas que ela própria tingira quando tinha doze anos, da estante cheia de livros e da cómoda com fotografias da infância.

Sempre quisera vestir uma coisa bonita para a noite especial do seu pai. A sua galeria minúscula era em Chapel Street, em Melbourne, onde proliferavam as lojas de roupa de marca. Enquanto vestia o vestido azul-escuro, perguntou-se o que raios passara pela sua cabeça. Chamara a sua atenção na montra e, embora o preço a tivesse dissuadido imediatamente, a vendedora sugerira que o experimentasse. Ao observar o seu reflexo, mordeu o lábio inferior enquanto se perguntava se não era demasiado.

Ou demasiado pouco!

Era alguns centímetros mais curto do que teria preferido, ajustava-se de forma provocadora em todos os pontos errados. O seu rabo parecia enorme e os seus seios pareciam ter crescido magicamente. A lã suave e fina mexia-se cada vez que andava.

Era, simplesmente, divino.

Abriu uma caixa e tirou umas sandálias horrivelmente caras com que tinha pensado acompanhar o vestido. Dignas das horas de cuidados que o seu corpo suportara e da primeira vez que pusera os pés num solário.

Penteou o cabelo loiro uma última vez e parou de morder o lábio inferior para pôr batom.

Levantou uma das fotografias da sua cómoda e observou o grupo nupcial. Embora fosse ridículo e só se tratasse de uma fotografia, continuava a corar ao olhar para os olhos sérios e escuros de Zarios.

Ela tinha dezanove anos...

Uma jovem extremamente ingénua que se vestira de cor-de-rosa para ser dama de honor no casamento de Jake.

Zarios fora convidado. Naquela época, só estava há algumas semanas de volta à Austrália e tivera um sotaque tão marcado que lhe custara entendê-lo... Embora não se importasse de passar um eternidade a ouvi-lo. Era o homem mais espantoso que alguma vez conhecera. Toda a cerimónia passara como numa nuvem até que, no fim, cumprindo o ritual, dançara com ela. E depois de estar nos seus braços e de beber demasiado champanhe, não demorara a ver-se embargada pelo desejo.

Pôs a fotografia virada para baixo na gaveta, tapando-a com o que havia lá dentro antes de a fechar. A última coisa que queria era que Zarios a visse... que recordasse o seu erro vergonhoso. Contudo, mesmo assim, custava-lhe conter o rubor e afastar a imagem de ambos a dançarem naquela noite. Zarios baixara a cabeça para lhe dizer qualquer coisa e, estupidamente, ela interpretara mal a acção, fechara os olhos e, com os lábios preparados, esperara que a beijasse, expectante.

Mesmo seis anos depois, a vergonha ainda a fazia corar.

Ainda conseguia ouvir a sua gargalhada profunda e rouca ao compreender o que ela pensara que ele ia fazer.

– Volta depois de cresceres... – ele sorrira e dera-lhe uma palmadinha o rabo no momento em que a música acabara. – Além disso, o meu pai nunca me perdoaria.

Consolou-se pensando que o mais certo era que se tivesse esquecido.

Com todas as mulheres com que saíra, não ia recordar a tentativa trôpega de uma adolescente de conseguir um beijo. Além disso, já era seis anos mais velha e muito mais inteligente... Conseguia ver um homem como Zarios exactamente como era. Um sedutor.

Certamente, não repetiria o mesmo erro. Mostrar-se-ia esquiva e distante. Praticou a expressão no espelho. Ou talvez pudesse fazer uma brincadeira sobre aquele incidente, considerá-lo simplesmente uma situação engraçada...

Talvez devesse arrumar o seu quarto!

A sua mãe ajudou-a e a colcha bordada foi substituída por uns lençóis novos e um edredão impecável enquanto Lydia ia arrumando os sutiãs, a maquilhagem e as caixas. Ao pé da cama, depositaram umas toalhas dobradas juntamente com um sabonete caro que Lydia usava. Ao lado da cama deixaram um jarro de água e um copo, cobertos por uma delicada peça de algodão.

Ao olhar pela janela para a baía, Emma sentiu um nó na garganta ao ouvir o ruído de um helicóptero e soube que era ele. Apesar de todos os amigos dos seus pais viverem de forma confortável, só os D’Amilo chegariam a uma festa num helicóptero. Observou o aparelho durante alguns segundos e conseguiu ver o toldo a ondular e a relva a ser esmagada pelo movimento das hélices. Depois...

Susteve a respiração enquanto Zarios saía do helicóptero.

Depois, ajudou o seu pai a sair e, baixando-se sob as hélices, atravessaram o jardim enquanto o helicóptero voltava a elevar-se no crepúsculo.

Vestia umas calças pretas e uma camisa branca justa e, como um puro-sangue exibido antes da corrida, estava cheio de energia e tinha um aspecto impressionante. Emma sentiu um nó no estômago ao vê-lo deitar a cabeça para trás e rir-se de alguma coisa que o pai dele dissera. Durante um instante, teve a certeza de que a vira. Aqueles olhos pretos levantaram-se como se soubesse que era observado, fazendo com que Emma recuasse com celeridade, como se a tivessem queimado.

– Emma! – exclamou a sua mãe. – Chegaram! Com uma hora de antecedência!

 

 

Questi sono i miei buoni amici.

Enquanto atravessavam o jardim, mais uma vez, o seu pai recordou-lhe que aquelas pessoas eram muito importantes para ele.

– Acreditas demasiado no que lês! – Zarios riu-se. – De vez em quando, sou capaz de me portar bem. Em qualquer caso, receio que não haja nada interessante num sexagésimo aniversário, pai!

– Zarios... – Rocco estava sério. Parecera-lhe uma boa ideia ir com o seu filho, contudo, naquele momento, já não tinha assim tanta certeza. Como acabara de sair de uma relação, os olhos de Zarios projectavam perigo e, se conseguisse evitar o escândalo antes de acontecer, fá-lo-ia. Durante o curto trajecto, recordara o casamento, a atracção instantânea que aparecera entre Emma Hayes e o seu filho. Naquela noite, ele avisara Zarios... e, por sorte, não o deixara ficar mal. No entanto, já era seis anos mais velho e não costumava seguir os conselhos do seu pai. – Lembras-te da filha dele, Emma?

– A loira atraente? – ele sorriu ao recordá-la imediatamente. Parecia que as coisas estavam a melhorar. – Sim.

– Tornou-se uma mulher muito bonita...

– Esplêndido!

Attesa! – pediu ao seu filho para desacelerar o passo, tirou o lenço e limpou a testa.

– Sentes-te bem, pai?

– Uma leve dor no peito... – extraiu um comprimido de uma pequena caixinha de prata e pô-lo por baixo da língua. – Nada a que não esteja habituado – o peito doía-lhe, embora talvez não tanto para tomar um comprimido, todavia, se recorrer ao ardil da simpatia o ajudasse, estava mais do que disposto a fazê-lo. – Sabes que adoro Lydia, mas também sabes como gosta de gastar... E, bom, parece que Emma tem a mesma tendência...

– Ainda bem que somos ricos, não é? – brincou Zarios, embora o seu pai não sorrisse.

– Eric anda preocupado... – Rocco consolou-se, dizendo para si que era uma mentira sem importância. Na verdade, disse para si que não era mentira, só dera a entender... era melhor afastar Zarios de Emma naquele momento que enfrentar Eric depois de Zarios ter partido coração da filha dele.

E sabia que o faria. Voltou a limpar a testa antes de guardar o lenço. Zarios partir-lhe-ia o coração.

– Não tenhas uma relação com ela, filho – começou novamente a andar. – Seria demasiado complicado.

 

 

– Chegaram cedo! – Eric, ao contrário da sua esposa, não se preocupava com coisas como quartos de convidados e mostrou-se contente quando Rocco atravessou a porta. Abraçou o seu amigo com alegria.

Zarios ficou para trás.

– Queríamos passar algum tempo contigo antes de chegarem os outros convidados – com um sorriso radiante, ofereceu a Eric um presente luxuosamente embrulhado. – Esconde-o e abre-o amanhã.

– O convite não falava de presentes! – repreendeu-o Lydia, embora estivesse claramente contente por Rocco lho ter trazido. – Zarios... entusiasma-nos que tenhas vindo.

– Fico contente por o ter feito.

Ainda tinha sotaque e o seu tom era profundo e rico. Ao descer a escada com ar distante, Emma sentiu pele de galinha enquanto via como dava um beijo à sua mãe em ambas as faces e, depois, fazia o mesmo com o seu pai. Os olhos pretos encontraram-se com os seus.

– Emma. Passou muito tempo...

Sorriu com uma expressão reservada e, em alguns segundos, os seus olhos assimilaram as mudanças.

O cabelo, que usara curto no passado, caía sobre os seus ombros naquele momento. O seu corpo antes fraco também se suavizara e as suas curvas femininas viam-se realçadas por aquele vestido delicado que oscilava em torno das suas pernas à medida que andava.

Sempre fora bonita, contudo, naquele momento estava deslumbrante!