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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2013 Carol Marinelli

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O xeque atormentado, n.º 1512 - Janeiro 2014

Título original: Beholden to the Throne

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5005-7

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Capítulo 1

 

– Sua Majestade, o xeque Emir, acedeu a falar contigo.

Amy levantou o olhar e viu Fátima, uma das empregadas, a entrar nos aposentos das crianças, onde estava a dar o jantar às jovens princesas.

– Obrigada. A que horas...?

– Está à tua espera – interrompeu Fátima, num tom impaciente.

– Estão a jantar... – começou por dizer Amy, mas não se incomodou em continuar.

Ao fim e ao cabo, o xeque não se importava com a rotina das filhas. Na verdade, quase não via as gémeas e isso partia o coração a Amy.

Nem sequer sabia que, ultimamente, se sentiam muito enjoadas e comiam mal. Esse era um dos motivos por que Amy pedira para falar com ele. No dia seguinte, as meninas passariam para as mãos dos beduínos. Primeiro, ficariam num oásis e, depois, passariam a noite com pessoas que não conheciam. Fátima dissera-lhe que era uma tradição ancestral e as tradições não podiam ser mudadas.

Contudo, ela ia tentar.

As meninas tinham perdido a mãe com apenas duas semanas de vida e, desde então, o pai quase não fora vê-las. Era ela que estava com as crianças todos os dias. Era nela que confiavam. Não podia entregá-las a estranhos, sem resistir.

– Eu ficarei com elas e dar-lhes-ei o jantar – propôs Fátima. – Tu deves ir arranjar-te para a audiência com o xeque.

Olhou para o vestido azul de Amy com desaprovação, pois era o uniforme da ama real. Vestira-o naquela manhã mas, àquelas horas, era evidente que passara a tarde a pintar com Clemira e Nakia.

Apesar de pensar que o xeque não iria reparar na sua roupa, Amy foi vestir um vestido limpo e prendeu o cabelo loiro numa trança. Depois, cobriu a cabeça com um lenço de seda, num azul mais escuro. Não estava maquilhada, mas tinha o costume de se certificar sempre de que as pontas do lenço lhe tapavam a cicatriz que tinha no pescoço. Odiava que olhassem para ela e, sobretudo, odiava que lhe fizessem perguntas sobre ela.

Não gostava de falar do acidente, nem das sequelas.

– São muito caprichosas com a comida! – protestou Fátima, quando Amy voltou a entrar no quarto das meninas.

Ela conteve um sorriso, ao ver que Clemira fazia uma careta e recusava a colher cheia de comida que Fátima lhe oferecia.

– Só tens de as convencer a provar – explicou. – É a primeira vez que comem essa comida.

– Têm de aprender a comportar-se! – exclamou Fátima. – As pessoas estarão atentas a elas quando estiverem em público e amanhã vão para o deserto. Lá, só poderão comer fruta e as pessoas do deserto não se importarão se a cuspirem.

Olhou para Amy dos pés à cabeça.

– Lembra-te de inclinar a cabeça quando entrares e de a manter baixa até o xeque falar. E agradece-lhe qualquer sugestão que te faça.

Agradecer!

Amy conteve-se para não responder.

Ao ver que se ia embora, Clemira chamou-a:

Ummi! – choramingou. – Ummi!

E Fátima olhou para ela, horrorizada, ao ver que lhe chamava «mamã» em árabe.

– Chama-te assim? – inquiriu.

– Não sabe o que quer dizer – respondeu Amy, rapidamente.

Porém, Fátima já se levantara e estava furiosa.

– O que lhe ensinaste? – insistiu.

– Eu não a ensinei a chamar-me assim – defendeu-se Amy, assustada. – De facto, tentei impedi-la de o fazer.

Era verdade. Tentara fazer com que as gémeas a chamassem pelo seu nome, mas não houvera maneira de impedir que Clemira lhe chamasse mamã.

– É parecido com o meu nome – explicou a Fátima.

Porém, Nakia imitou a irmã e também chamou:

Ummi.

– Amy! – corrigiu ela.

Contudo, Fátima continuava zangada.

– Se o xeque as ouvir a chamar-te assim, terás problemas – avisou. – Sérios problemas.

– Eu sei! – exclamou, contendo as lágrimas.

Saiu do quarto, tentando não se sentir afetada pelo pranto das meninas que deixava para trás.

«Tenho de falar com o xeque», pensou, nervosa. Contudo, a ideia de o fazer não a entusiasmava. O xeque Emir, rei de Alzan, não era um homem acessível, sobretudo, desde a morte da esposa, Hannah. Os muros do palácio estavam cobertos de retratos de homens morenos e imponentes mas, desde a morte da esposa, nenhum se impunha mais do que o xeque Emir.

E ela teria de o enfrentar. Viu os guardas que vigiavam a porta e pensou que tinha de o fazer, por muito difícil que fosse. Tinha de o fazer, antes de o xeque ir para o deserto com as filhas.

Parou à frente das portas pesadas e esperou que os guardas assentissem e as abrissem. A divisão recordou-lhe a sala de um tribunal. Emir estava sentado atrás de uma secretária grande, vestido de preto, com um kayefa. Estava no centro, rodeado de assistentes e anciões. Amy pensou que tinha de encontrar coragem para expor o seu caso.

– Baixa a cabeça! – recordou-lhe um dos guardas, bruscamente.

Amy fê-lo e entrou. Ainda não podia olhar para o xeque, mas sentiu o olhar escuro fixo nela, enquanto o secretário pessoal, Patel, a apresentava em árabe. E manteve a cabeça inclinada, até Emir falar, finalmente.

– Há vários dias, pediu para me ver, mas disseram-me que as gémeas estão bem.

Dirigiu-se a ela na sua língua e Amy pensou que passara muito tempo desde que o ouvira a falar assim. Normalmente, quando ia ver as meninas, só dizia algumas palavras em árabe, antes de se ir embora. Ali, de pé, diante dele, Amy apercebeu-se de como sentira a falta de ouvir aquela voz.

Recordou os dias posteriores ao nascimento das meninas, quando o xeque ainda era um homem acessível, preocupado com a esposa doente e agradecido por receber qualquer sugestão que lhe fizesse a respeito das filhas. Tão acessível, que Amy chegara a esquecer que era o xeque e tinham começado a tratar-se pelos seus nomes próprios. Tentou reter aquela imagem dele na sua mente e observou-o, decidida a falar com o pai das meninas e não com o xeque.

– Clemira e Nakia estão bem – indicou. – Bom, estão fisicamente bem...

Viu-o a franzir o sobrolho.

– Queria falar-lhe a respeito dos progressos delas e também da tradição...

– Amanhã, vamos para o deserto – interrompeu Emir. – Ficaremos lá durante vinte e quatro horas, portanto, teremos tempo de sobra para falar dos progressos delas.

– Mas queria falar disto sem as meninas nos ouvirem. Não quero que se incomodem com as minhas palavras.

– Vão fazer um ano – indicou Emir. – Duvido que entendam o que falarmos.

– É possível que...

Amy sentiu falta de ar e que a cicatriz do pescoço inflamava. Sabia o que era ter de ficar em silêncio, sabia o que era ouvir e não poder responder. Sabia muito bem o que era falarem da sua vida e não poder participar na conversa. Se existia a possibilidade de as meninas os entenderem, não se arriscaria a falar à frente delas. De todos os modos, estava ali para discutir algo mais, para além dos seus progressos.

– Fátima contou-me que as gémeas vão ter de passar a noite com os beduínos...

Emir assentiu.

– Não me parece ser uma boa ideia – continuou. – Neste momento, estão muito mimadas. Começam a chorar assim que saio da sala.

– É disso que se trata – esclareceu Emir. – Todos os membros da família real têm de passar alguns dias por ano com as pessoas do deserto.

– São muito pequenas!

– Sempre foi assim. É uma tradição e não está aberta a debates.

Amy apercebeu-se de que tinha de aceitar, pois aquela era uma terra em que as leis e as tradições eram respeitadas. A única coisa que podia fazer era ajudar as gémeas o máximo possível.

– Também queria falar de outros assuntos – indicou Amy, olhando à sua volta. – Podíamos conversar em privado?

– Em privado? – repetiu Emir, num tom incomodado. – Não é necessário. Diz o que vieste dizer-me.

– Mas...

– Fala!

Não gritou, mas havia aborrecimento e impaciência no tom de voz dele. E o olhar era desafiador. Amy quase não o reconhecia. Não era o mesmo homem que vira há um ano. Nessa altura, era um xeque corajoso, um governante severo, mas também era um homem sensível às necessidades da esposa doente, um homem que se esquecia do dever e do protocolo, para cuidar dela e das filhas.

– As meninas quase não o veem – começou por dizer Amy. – Sentem a sua falta.

– E disseram-te isso? – perguntou ele, fazendo uma careta. – Não sabia que tinham tanto vocabulário.

Patel riu-se, antes de dar um passo em frente.

– O xeque não precisa de ouvir isto – indicou a Amy.

– Talvez não – insistiu ela, – mas as meninas precisam do pai. Precisam...

– Não há nada a falar – interrompeu Emir, acabando a conversa.

Os guardas abriram a porta, Patel fez um gesto para que saísse, mas ela ficou onde estava.

– Nada disso, há muitas coisas de que falar!

Ouviu vários gritos abafados e apercebeu-se da tensão à sua volta. Ninguém contrariava o xeque e muito menos uma simples ama.

– Lamento, Majestade – desculpou-se Patel, fazendo uma reverência e aproximando-se de Amy.

– Tem de me ouvir! – insistiu ela.

– O xeque já acabou de falar consigo – avisou Patel.

– Mas eu não acabei de falar com ele – replicou Amy, elevando o tom de voz.

Olhou para Emir nos olhos. Estava nervosa, aterrada, sim, mas chegara até ali e não podia ir-se embora sem mais nem menos.

– Majestade, tenho de falar consigo sobre as suas filhas, antes de irmos para o deserto. Há dias que esperava por esta audiência. No meu contrato, diz que tenho o direito de me reunir regularmente com os pais das meninas, para falar delas.

Incomodava-a ter de pedir uma audiência com o xeque e não se iria embora dali sem lhe dizer tudo o que queria.

– Quando aceitei o emprego como ama real, fi-lo pensando que ia ajudar a criar as gémeas e que, quando elas fizessem quatro anos...

Fez uma pausa ao perceber que Emir não a estava a ouvir. Em vez disso, estava a falar com Patel, em árabe. Viu como pegavam numa pasta, provavelmente, o seu contrato, e como o xeque começava a ler o documento que havia dentro dela.

– Assinou um contrato de quatro anos – indicou. – Ficará aqui até as gémeas irem para um colégio interno, em Londres, e depois disso voltaremos a negociar os termos. Foi o que acordámos.

– E tenho de esperar mais três anos, para podermos falar sobre as meninas?

Amy esqueceu-se de que estava diante do xeque. Estava tão zangada, que falou num tom irónico.

– Tenho de esperar mais três anos, para poder falar de qualquer assunto? – insistiu. – Se quiser falar do contrato, falaremos dele. Não está a cumprir a sua parte!

– Já chega – afirmou Patel.

Fez um gesto a um dos guardas, para que a tirasse da sala, mas Amy manteve-se firme, até mesmo quando a agarraram pelo braço. O véu que lhe cobria o cabelo caiu e ela tentou escapar do guarda.

Foi Emir que impediu aquela saída tão pouco digna. Não precisava que um guarda se ocupasse daquela mulher, portanto, fez um gesto para que ele a soltasse e disse alguma coisa em árabe. O guarda obedeceu e soltou-a.

– Continua – desafiou Emir.

Aquela mulher atrevera-se a sugerir que ele, o xeque, Emir de Alzan, não cumprira um contrato.

– Diz-me porque não cumpri a minha palavra.

Ela manteve-se direita, sentia dificuldade em respirar, mas agradeceu que lhe desse outra oportunidade para falar.

– As gémeas precisam de um pai... – começou por dizer, sem pestanejar. – Como já referi, o meu papel consiste em ajudar a criá-las aqui, no palácio, e quando viajarem para Londres.

E então, pensou que talvez fosse melhor começar pelos assuntos menos emotivos.

– Há mais de um ano que não vou a casa.

– Continua – indicou ele.

Amy respirou fundo e tentou encontrar a melhor maneira de se expressar.

– As meninas precisam de mais, além do que eu posso dar-lhes...

Hesitou antes de prosseguir. As meninas precisavam de amor e ela dava-o mas, sobretudo, precisavam dos pais. E tinha de o dizer ao xeque. Tinha de lhe recordar o que Hannah teria desejado para as filhas.

– Vou estar com elas até fazerem quatro anos. E devia ter duas noites livres, por semana, mas...

Ele voltou a interrompê-la, para falar em árabe com Patel. Tiveram uma conversa breve e, em seguida, Emir indicou:

– Está bem, Fátima vai ajudar-te com as meninas. A partir de agora, terás as tuas noites livres e as tuas férias.

Amy não conseguia acreditar que o xeque tivesse dado a volta à conversa, assim. Não estava ali para falar apenas das férias.

– E é tudo.

– Não! – exclamou ela, num tom firme. – Não queria dizer isso. Quero dizer que o meu trabalho consiste em ajudar os pais a criar as meninas e não em criá-las sozinha. Nunca teria aceitado este trabalho, se não fosse assim. A rainha Hannah entrevistou-me...

Emir empalideceu, ao ouvir falar da falecida esposa, mas a dor demorou apenas alguns segundos, sendo substituída pela raiva.

Levantou-se e toda a sala ficou em silêncio. Era um homem imponente, alto, de ombros largos e muito moreno. Era um guerreiro, um homem do deserto que ninguém poderia domar. E, além disso, era o rei.

– Fora! – gritou Emir.

Dessa vez, Amy decidiu obedecer. Sabia que fora demasiado longe, ao falar do passado.

– Tu não! – acrescentou, fazendo com que ela parasse. – Todos os outros.

Amy virou-se muito devagar e olhou para o xeque. Aborrecera-o e teria de o enfrentar, a sós.

– A ama fica!