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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Robyn Donald

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Entre o amor e o ódio, n.º 713 - Março 2015

Título original: One Night at Parenga

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2003

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6458-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Se gostou deste livro…

 

Prólogo

 

– Parece que não nos resta nada – murmurou Sorrel Maitland, aparentemente impassível.

A Nova Zelândia ficava muito longe de Nova Iorque e já estava há oito anos a viver na América; no entanto, continuava com uma pronúncia da Nova Zelândia.

O advogado olhou-a, aliviado, ao comprovar que os enormes olhos verdes permaneciam secos, sem lágrimas.

– Temo que muito pouco.

– Perdeu-se muito dinheiro. O que é que foi dele?

– Parece que o seu pai é jogador, menina Maitland. Essa é uma forma rápida de perder dinheiro – respondeu o advogado olhando para os papéis.

Os milhões que Sorrel Maitland, a famosa modelo, tinha ganho durante aqueles anos tinham-se escapado por entre as mãos do pai como se fossem água.

Sorrel olhou para os papéis e fez algumas questões pertinentes.

Tinha tanto cérebro como beleza, pensou ele, olhando para o cabelo louro preso de forma muito elegante.

A lealdade à família podia causar-lhe enormes problemas, às vezes desastres como aquele.

Se tivesse recorrido a ele no início da sua carreira, tê-la-ia advertido que os pais não sabiam gerir bem o dinheiro dos filhos… mas que rapariga de apenas dezoito anos teria acreditado nisso?

– Oxalá pudesse dar-lhe melhores notícias.

A mulher que tinha à sua frente era uma das modelos mais cobiçadas do mundo e, como tinha apenas vinte e cinco anos, ainda lhe restavam uns quantos nas passerelles para refazer a sua fortuna.

Ainda assim, ter de lhe dar aquela notícia não era fácil.

– Se um viciado não recebe ajuda psicológica, perde tudo: a honestidade, a família, a vergonha… por causa desse vício. Um alcoólico precisa de ajuda profissional e com um ludómano acontece o mesmo. Algumas pessoas não admitem ter esse problema. Outros tentam controlá-lo, mas não podem.

– Eu sei que o meu pai gostava de ir ao casino de vez em quando e que apostava nos cavalos, mas… Não tinha ideia disto.

– Normalmente, os familiares são os últimos a saber. Menina Maitland, é melhor procurar outro administrador para os seus bens. É o melhor conselho que lhe posso dar.

– Vou fazer isso. Sei que a sua equipa tem trabalhado muito para separar as minhas contas das do meu pai – disse ela em voz baixa. – Muito obrigada.

– De nada. Se puder ajudá-la em alguma coisa, só tem de dizer.

Alta e maravilhosamente elegante, Sorrel levantou-se para lhe apertar a mão. O sorriso iluminou o seu rosto, mas não os seus olhos verdes.

– É muito amável, mas agora já sei o que fazer.

O advogado perguntou-se por que é que tinha apertado a mão dela com tanta delicadeza, como se tivesse medo de parti-la. Pelo contrário, o aperto dela foi firme; apenas um ligeiro tremor nos dedos indiciava a angústia que havia por detrás daquelas belíssimas feições.

Uma mulher com classe, pensou enquanto fechava a porta do escritório.

Uma mulher com classe e quase na ruína.

 

 

No apartamento que dividia com o pai, Sorrel tirou as luvas enquanto se aproximava da janela donde se podia ver o Central Park.

A tremer, apertou os olhos com as mãos, para evitar as lágrimas, até ver luzinhas amarelas. Num curto espaço de um mês, a sua vida tinha sido feita em pedaços.

Primeiro, a morte da sua madrinha na Nova Zelândia e depois o enfarte que tinha deixado inútil o seu pai. A casa de Cynthia, Parenga, estava vazia, mas o seu pai continuava vivo. Se é que se podia chamar vivo a quem vivia como um vegetal.

Sorrel pestanejou várias vezes para conseguir focar a imagem. Tinha uma hora para voltar para a residência que seria o lar de Nigel Maitland durante o que lhe restava de vida.

Como uma das coisas que o seu pai não tinha feito havia sido contratar um seguro médico, primeiro tinha de telefonar ao seu agente.

– Louise. Diz ao director da Founiere que aceito a oferta.

Louise lançou um grito.

– É uma grande notícia! A Belle Sandford começou a sua carreira com eles e este ano é quase certo que vai ser nomeada para um Oscar. A Fourniere é a melhor publicidade que se pode conseguir… não há empresa mais exótica no mercado.

– Exótica, claro – suspirou Sorrel.

Para ela, a palavra «erótica» enquadrava melhor nas campanhas daquela firma de perfumes.

– Não sejas irónica, Sorrel. Por que é que aceitas se continuas a pensar que a Fourniere faz porno suave?

Porque o dinheiro da campanha pagaria os gastos do seu pai na residência. Não pensava dizer isso a Louise; quanto menos gente soubesse da sua situação económica, melhor.

– Pensei que seria divertido… diferente – respondeu, tentando parecer entusiasmada. – E como tu mesma disseste, esta campanha poderia conseguir-me outros contactos.

– Muito bem. Fico muito contente por teres tomado essa decisão. Seguramente, era a tua última oportunidade com a Fourniere. Continuas a ser maravilhosa, claro, mas eu seria uma má agente se te escondesse que há muita concorrência por trás.

– Eu sei. Há centenas de adolescentes belíssimas, altíssimas e desejosas de ser modelos – suspirou Sorrel. – Bem, tenho de ir, falaremos mais tarde.

Depois de desligar, Sorrel olhou em redor. Teria de deixar aquele caríssimo apartamento. Felizmente, não sentia nenhum apego por ele.

Serviu-se de um copo de água na cozinha antes de entrar no quarto a que o pai chamava de escritório. Tal como ele, era uma divisão limpa e ordenada. Nigel Maitland tinha escondido as suas dívidas com surpreendente habilidade e elegância.

Tentou conciliar o pai que tinha conhecido toda a vida e de quem tinha gostado muito com o homem que a tinha deixado na ruína, mas era impossível.

Em qualquer caso, era seu pai e gostava dela e, sobretudo, precisava dela. Embora mal pudesse abrir os olhos, as enfermeiras tinham-lhe dito que o seu estado melhorava sempre que ela o ia visitar.

Tinha de arranjar dinheiro para pagar o tratamento até que…

– Até que fique melhor – murmurou para si mesma, embora soubesse que isso não ia acontecer.

Não havia esperanças de que ele recuperasse. Um homem sempre dinâmico, energético, cheio de vida…

Se para pagar o tratamento tivesse de posar meio nua para umas «elegantes» fotografias, faria isso.

Não podia permitir-se ao luxo de ter escrúpulos morais naquele momento.

Capítulo 1

 

Luke Hardcastle atravessava a mansão Waimanu e viu a governanta a discutir com o condutor de uma camioneta.

– O que é que se passa? – perguntou enrugando a sobrancelha.

Os dois voltaram-se, a falar ao mesmo tempo.

– Penn – disse Luke.

O condutor ficou em silêncio.

– Diz que tem uma caixa para a Sorrel Maitland e eu estou a tentar dizer-lhe que a Sorrel não vive em Parenga. Os Banning alugaram a casa quando morreu a senhora Copestake, mas foram para Taupo há uns meses. A casa está vazia.

– Já estive em Parenga e já vi que não estava lá ninguém – replicou o condutor. – Mas a direcção que aparece na encomenda é Sorrel Maitland, estrada de Hardcastle, Parenga. O que é que faço com isto?

Luke apertou os lábios. Aquilo não ia terminar nunca?

Durante dez longos anos, a lembrança de Sorrel tinha-o perseguido, enchendo-o de angústia e frustração. Repreendia-se a si mesmo por seguir a sua carreira através das revistas. Sentira-se aliviado quando pararam de falar dela nos últimos dois anos, depois de alguns rumores sobre casamento e problemas com drogas… tinham mesmo chegado a falar numa gravidez.

Havia sido quase um alívio pensar que se tinha casado.

– Não pode levá-la de novo para os correios? – perguntou, com o seu habitual tom autoritário.

– Já telefonei para o meu chefe, mas ele diz que não temos sítio para guardar isto até que apareça a menina Maitland. Também não posso deixá-la numa casa vazia, porque alguém tem de assinar a folha de entrega.

– Eu tenho uma chave de Parenga. Posso segui-lo até lá e deixamo-la no vestíbulo – replicou Luke. Pelo canto do olho, viu que a governanta fazia uma cara de surpresa. – Podes continuar com o teu trabalho, Penn.

– Mas…

– Obrigado, Penn.

Luke subiu para o seu jipe, pensativo.

Sorrel pensava viver na casa que tinha herdado da sua madrinha? Não, se ele pudesse evitar isso.

A Sorrel com quem tinha partilhado um mágico e inocente Verão, anos atrás, tinha desaparecido, transformada numa mulher que sorria de forma elegante e fria em centenas de revistas e que, por fim, com uma arriscada campanha de perfumes, tinha feito levantar a sobrancelha a meio mundo.

Às vezes, Luke sonhava ser o homem para quem ela dirigia aquele olhar convidativo, com os olhos semicerrados e os lábios entreabertos como que à espera de um beijo…

Repreendendo-se a si mesmo pelo desejo que aquela imagem lhe provocava, seguiu a camioneta pela estrada que levava até Parenga.

Na noite anterior ao aniversário dos seus dezoito anos, Sorrel tinha-o olhado da mesma forma. Ele, sem poder conter o seu desejo, tinha-a beijado.

Desde então, nada foi o mesmo.

Então, soube que se devia livrar dela e foi o que fez. Não se lamentava, embora Sorrel continuasse a povoar os seus sonhos.

Voltaria com o seu marido ou tinha-o deixado? Haveria mesmo marido? O facto de não ter mudado o seu apelido de solteira indicava que não, mas muitas mulheres conservavam-no depois de se casarem.

Para ele isso não importava.

Luke atravessou a ponte e parou o jipe no caminho de pedra. Embora fosse lá um homem fazer uma limpeza de dois em dois meses, a enorme mansão eduardina, que o seu pai tivera de vender para pagar os caprichos extravagantes das amantes, parecia solitária, quase fantasmagórica.

O condutor da camioneta deu-lhe um papel.

– Sei quem você é, mas regras são regras. Tem de assinar aqui.

– É uma caixa muito grande?

– Do tamanho de um móvel, mas não pesa muito. Seguramente será roupa – respondeu o homem, encolhendo os ombros. – A Sorrel Maitland é modelo, não?

Não lhe tinha perguntado com má intenção nem parecia haver nada de sugestivo na sua pergunta, mas Luke teve de conter uma resposta irritada.

– Era.

O condutor sorriu.

– Já vi algumas fotografias dela. É muito bonita.

Surpreendido pelo brilho de fúria no olhar de Luke, o homem guardou o papel.

– É melhor irmos buscar a caixa.

 

 

Nessa noite, Luke estava à janela, a observar as tumultuosas águas do rio que descia até ao estuário.

Pensava no sorriso provocante e sofisticado que tinha visto mais vezes do que tinha desejado. Para se recordar a si mesmo, olhou para a revista ao voltar de um longo dia a passear o gado pelos pastos… a fazer exercício para se livrar das caóticas emoções que o regresso de Sorrel lhe provocava.

Na capa, ela estava elegante e provocante com um vestido de baile… uma espécie de túnica sensual de seda. Nas páginas interiores, o anúncio mostrava uma Sorrel diferente.

Com uma exclamação de desgosto, Luke pegou no seu copo de whisky.

Às vezes, pensava que nunca se ia esquecer daquela maldita imagem.

Era encantadora, claro, brilhantemente iluminada e fotografada… e pecadoramente erótica. Dois corpos nus fundidos num abraço; a mão do homem roçava os peitos da mulher, que o olhava de forma possessiva, faminta, de entrega. Tinha os olhos verdes com pintinhas amarelas. Olhos de gata com a promessa de uma paixão selvagem…

O whisky queimava-lhe a garganta e pousou o copo sobre a mesa. Beber não o ajudaria em nada; já tinha visto o que é que o álcool fizera ao seu pai.

As aventuras românticas de Sorrel Maitland, publicadas em todas as revistas, para além de um compromisso quebrado e um possível matrimónio, mostravam em que tipo de mulher se tinha transformado.

A ruptura do compromisso foi notícia em todo o lado. O noivo abandonado, um cantor da moda, tinha utilizado a suposta «dor» da ruptura para lançar um novo disco, o melhor da sua carreira, segundo os críticos.

Luke não queria saber daquele homem, do compromisso desfeito ou da vida amorosa de Sorrel. O importante para ele era levar para a frente o seu negócio.

Com a revista na mão, saiu do salão. Estava a chegar ao seu escritório quando se encontrou com a governanta na porta da cozinha.

– Vou dormir – sorriu a mulher, olhando para a revista com uma expressão de surpresa.

– Boas noites.

Luke fechou-se no escritório e atirou com a revista para o lixo.

Não sabia porque a tinha conservado. Aos quinze anos, quando a sua madrasta o tentou seduzir, jurou a si mesmo que não seria igual ao seu pai. Não deixaria que uma cara bonita e um corpo tentador lhe roubassem o coração. Nenhuma mulher teria nunca tanto poder sobre ele.

A morte repentina do seu pai e a aparição de um testamento que a madrasta o tinha feito assinar numa das noites de bebedeiras reforçava a sua decisão.

Luke considerava-se a si mesmo um homem normal, com necessidades normais… que não tinha problemas em satisfazer. Muitas vezes, estava demasiado seguro de si mesmo e as suas amantes repreendiam-no, mas ele conhecia o seu poder de atracção sobre as mulheres. Embora se divertisse muito com elas, não permitia que nenhuma lhe chegasse ao coração.

Especialmente Sorrel que, quando mais nova, apenas ia passar as férias a Parenga.

Muito alta, delgadíssima, com olhos de gazela, tinha despertado nele um afecto e um instinto protector, mas estava demasiado ocupado a lidar com os assuntos que a morte do pai tinha deixado pendentes para se fixar demasiado nela.

Quando tinha vinte e cinco anos e ela dezoito, Sorrel voltou a Parenga para passar umas férias.

Luke ligou o computador, pensativo. A menina de pernas intermináveis tinha-se tornado numa mulher encantadora, mais excitante do que qualquer outra que tivesse conhecido.

Descobriu, então, que, como presente de Natal, Cynthia Copestake, a sua madrinha, tinha-lhe pago um curso numa escola de modelos.