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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2004 Susan Bova Crosby

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Só uma indiscrição, n.º 657 - Fevereiro 2015

Título original: Private Indiscretions.

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com

I.S.B.N.: 978-84-687-6469-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze

Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezasseis

Volta

Capítulo Um

 

Uma hora antes da cerimónia de graduação da escola secundária, há quinze anos atrás, Sam Remington encheu três sacos de papel com todos os seus pertences e colocou-os sobre o assento traseiro do seu velho carro. Cinco minutos depois do fim do acto, percorreu pela última vez as ruas da cidade, deixando atrás dele uma nuvem preta em jeito de despedida.

Hoje regressava num Mercedes preto novo que pagara a pronto, mas Sam não voltara para vangloriar-se do seu sucesso ante as pessoas que deixara para trás. Não era dessas pessoas que não superam o passado. Aquele dia era diferente: escolhera aquela data para voltar à cidade que o viu crescer; podia ter voltado noutro dia qualquer, mas ao saber que se realizaria uma reunião de todos os seus colegas de escola, decidiu-se. Havia certos cabos soltos que deixara demasiado tempo sem atar. Tinha de ver duas pessoas: já vira a primeira e naquele momento ia encontrar-se com a segunda.

Miner’s Camp era uma pequena localidade de 3.100 habitantes no norte da Califórnia, ao pé das colinas das Serras Nevadas. O olhar de Sam não se desviou da estrada ao passar pela rua onde cresceu, a mesma rua da que fugiu. O pouco habitual frio daquela noite de Agosto trouxe-lhe lembranças da sua infância, quando percorria aquelas ruas à procura de algo que nunca encontrou.

Ignorando as lembranças tristes, chegou ao estacionamento da Prospector High School, a sua escola secundária, abarrotada e decorada com balões e bandeiras com as cores escolares: dourado e vermelho.

Sam parou com um crepitar de gravilha sob os pneus. A festa já começara e os risos e conversas escapavam pelas portas e janelas abertas, bem como as notas do clássico de Madonna dos anos oitenta, Like a Virgin.

Não se deixou vencer pela nostalgia, nunca entendera o atractivo daquelas reuniões de antigos alunos; ele tinha ido ver uma pessoa concreta de entre os oitenta e sete que se tinham graduado no mesmo ano que ele e tinha a certeza de que a encontraria entre a multidão: Dana Cleary. Ou melhor, Dana Sterling, o seu nome de casada. Depois daquilo poderia fechar o livro do seu passado para sempre.

Tinha duas opções: podia esperar que saísse e ir buscá-la a casa dos seus pais, onde certamente passaria a noite, ou solucionar tudo naquele momento e voltar a São Francisco com os deveres feitos, antes da meia-noite, com o passado bem enterrado….

Sam decidiu desligar o motor e sair do carro. Já estivera em situações comprometidas, de vida ou morte, aceitara todos os desafios, os riscos e saíra-se bem deles, podia canalizar a adrenalina segregada pelo seu corpo, mas não podia controlar a sensação de saber que ia ver Dana. Estranhou aquele nervosismo e quase desfrutou dele. Aproximou-se lentamente do edifício, detendo-se pouco antes de chegar à porta para tentar relaxar-se. Podia ver a sala cheia de balões e as luzes de discoteca que a decoravam. Os seus pensamentos foram arrastados até ao último ano de escola e a outra festa também com música, risos, comida e baile. A lembrança provocou-lhe uma pontada…

Teria ido com ela também ao baile do último ano, mas a sua relação não mudou após terem ido juntos àquela festa.

Nada daquilo tinha importância quinze anos depois, quando Sam fazia a sua entrada na sala justamente no momento em que Candi James arrebatava o microfone ao DJ e subia ao palco. Enquanto ela lia a comprida lista de presentes e os notáveis lucros que tinham alcançado, quem tinha mais filhos ou quem chegara mais longe, Sam notou que conservava o mesmo tom de animadora de sempre.

Com a atenção de todos os presentes centrada em Candi, Sam avançou pelo perímetro da sala até que viu Dana. Sentiu uma emoção especial que não quis conter e deteve-se para observá-la melhor. Era algo mais alta que a média, o corpo mais anguloso que curvo, o cabelo de uma cor mel entre loiro e castanho, cortado à altura dos ombros em vez do lindo cabelo comprido até à cintura que costumava exibir há anos atrás.

Não conseguia ver-lhe os olhos, mas sabia que eram pretos como obsidianas, sempre a desafiá-lo desde a escola primária.

Ela usava um vestido discreto de marca e sapatos de salto baixo, práticos e elegantes, apropriados para a sua posição e muito diferentes do chamativo modelo rosa que usara no baile de fim de curso.

– E por fim – disse Candi, dobrando a lista que tinha nas mãos, – os nossos três colegas mais brilhantes. Harley Bonner, que possui o oitavo maior rancho da Califórnia.

Foi interrompida por gritos de júbilo. O sangue de Sam gelou nas veias. Se fosse um homem vingativo…

– Lilith Perry Paul, cujo programa de rádio é líder de audiência em todo o país – mais aplausos e assobios, – e por último, Dana Cleary Sterling. Dana, estamos muito orgulhosos de ti. Congratulamo-nos que estejas connosco mais seis anos.

«Então», pensou Sam, «as especulações acabaram». Ela tomara a sua decisão.

– Haverá música e baile durante mais duas horas – gritou Candi à multidão. – Não se esqueçam do almoço no parque, amanhã ao meio-dia. Se ainda não tiraram as fotos para o Livro de Memórias, despachem-se porque só lhes resta meia hora. Divirtam-se!

Sam presenciou de longe como as pessoas felicitavam Dana, que parecia estranhamente incómoda ante tantas atenções. Era como se tivesse erguido uma barreira invisível entre ela e os demais. Segurava o copo de vinho com as duas mãos, num sinal de que não desejava apertos de mão ou abraços. Só a sua melhor amiga, Lilith, se aproximou dela o suficiente para estreitá-la nos braços, e só durante um momento.

Aquela mudança surpreendeu-o. Quando se transformara numa pessoa tão reservada? Quando perdera a alegria vital?

A música soou de novo, desta vez Sting cantava o seu Every Breath You Take, trazendo a Sam uma multidão de lembranças do baile de fim de curso, não todas boas. Dana não fora animadora, mas quase tudo o resto. Sempre a admirara por aliar os estudos, os desportos que praticava e as actividades extra-escolares, como ser presidente do conselho de alunos.

Sam abriu caminho entre as pessoas, deixando atrás também as lembranças, e notou como a conversa diminuía tanto que pôde ouvir algumas das reacções que produziu a sua aparição.

– Quem…?

– Acho que é Sam Remington.

– Deveras? Mas é tão…

– Tão bonito. Não pode ser o Sam. Antes não vestia com tanto gosto.

– Pois melhorou bastante.

Quando Sam se deteve, as conversas também cessaram. A cara de Dana iluminou-se pela surpresa quando o viu. A ira que ele acumulara durante anos desapareceu num instante, abrindo caminho a tudo de bom que houvera entre eles.

Ele estendeu-lhe a mão, trespassando a barreira invisível. Era a vez de Dana.

 

 

Se não fosse por aqueles inconfundíveis olhos turquesa, Dana não o teria reconhecido. O rapaz desengraçado transformara-se num homem que atraía todos os olhares para si sem sequer pronunciar uma palavra.

Ela procurara-o noutras reuniões de antigos alunos com mais desejo de voltar a vê-lo do que estaria disposta a admitir. O impacto que lhe causou vê-lo ali deixou-a sem fala.

Ele crescera em todos os sentidos. Parecia… perigoso, seguro de si mesmo. Os seus jeans pretos e o seu casaco de couro sobressaíam entre os blazers e calças de pinças dos restantes homens. Naquela noite aproximara-se mais dela do que qualquer outra pessoa, oferecera-lhe a mão, e ela podia interpretá-lo como um cumprimento ou como um convite para dançar.

Ela queria dançar, mas, e ele? Rejeitara cinco propostas anteriores, que pensariam se a vissem a dançar com ele? Ele aproximou ainda mais a sua mão e ela, observando o brilho de desafio dos seus olhos, soube que não podia esperar mais. Passou o copo de vinho a Lilith e apertou-lhe a mão.

Esperara quinze anos pela oportunidade de falar com ele.

– Adoraria dançar – disse ela com um sorriso.

Ele não disse nada, mas levou-a até à pista e puxou-a para si, ainda que mantendo uma distância prudente entre eles. Ela não estava tão perto de um homem há mais de dois anos, e então sentira-se bem, não nervosa e agitada como estava agora.

Ela olhou-o, decidida a não deixar que notasse como a sua presença a alterava. Tinha conseguido aprender a controlar-se até tal ponto que se transformara num costume, mas o seu olhar foi suficiente para que os seus lábios começassem a tremer.

Com os seus olhos, a sua postura, a firmeza com que a agarrava, impunha-se sobre ela, e ela queria livrar-se do seu controlo, ainda que não fizesse ideia porquê.

– Então – disse ela, obrigando-se a sorrir, – o Cérebro pródigo voltou…

A expressão dos seus olhos adoçou-se, tornou-se mais cálida.

– Como estás, Corada?

As antigas alcunhas proporcionaram um instante de intimidade. Ela sentiu que as suas faces se ruborizavam enquanto as lembranças se amontoavam na sua mente.

– Estou bem – disse, dando-se conta de que as suas coxas se roçavam ligeiramente ao dançar. – Onde estiveste, Sam?

– Queres que te resuma quinze anos numa só frase?

– Tão poucas coisas fizeste? – perguntou ela, baixando a voz.

Estava a brincar; surpreendia-a, mas não podia evitá-lo.

– Vivi.

Ela soube que a história completa devia ser fascinante.

– Começa pelo princípio, então. Que fizeste depois da graduação?

– Alistei-me no exército.

A surpresa deixou-a sem palavras por um instante.

– Porquê?

– Porque apareceu a oportunidade.

Aquilo não fazia sentido. Segundo o seu professor de matemática, o senhor Giannini, Sam estava destinado a ser uma eminência no campo da matemática. O adjectivo «Excelente» sempre precedera o seu nome nas qualificações.

– Todos os anos procurava o teu nome entre os premiados com o Nobel – disse ela, abanando a cabeça de um lado para o outro.

– As coisas mudam.

– Não estiveste no funeral do teu pai – ela lembrou-se de quão triste tinha sido; muito pouca gente e ninguém que lamentasse sinceramente o ocorrido.

– Tu sim.

Portanto tinha-se ido embora, mas mantivera-se informado.

– Porque estás aqui, Sam?

– Para agradecer-te.

– Por assistir ao funeral do teu pai?

– Não.

Ela desviou o olhar, incapaz de sustentar o seu por mais tempo.

Gratidão era o último que Dana esperava. Ele estava furioso com ela no dia da graduação e ela não tinha tido tempo para esclarecer as coisas ou para pedir-lhe desculpa. Quando o pôde procurar depois da cerimónia, ele já tinha saído da cidade.

– Como podes querer agradecer-me? – tentava manter-se calma aos olhos dos demais, mas o coração batia acelerado. – Por minha culpa bateram-te. Mal podias andar na graduação e tinhas um olho inchado. Foi culpa minha.

– Isso mudou a minha vida, Dana, de um modo que nunca pude imaginar.

Como podia estar tão tranquilo? Ela desejava gritar-lhe que aquilo também tinha mudado a sua vida.

– De que modo?

– É uma longa história.

Sam desceu a sua mão pela costas de Dana e atraiu-a mais para si, acariciando-a sem dar-se conta por cima da seda do vestido.

– Tenho tempo para histórias compridas – disse ela, com dificuldade em falar ao notar as suas carícias. Desde quando as costas eram uma zona erógena?

– Mas eu não. Já estou há mais tempo aqui do que pretendia. Para não falar de que toda a gente está a olhar para nós.

Ela afastou-se um pouco dele.

– Já estou acostumada a que todos os meus movimentos sejam vistos à lupa.

– E eu estou acostumado a olhar assim para os movimentos dos demais.

– Esse é um comentário em código… Importas-te de mo explicar?

– Sim.

A canção estava a acabar. Assustada por perder a sua oportunidade, apressou-se a dizer em segundos o que tinha desejado dizer durante todos aqueles anos.

– Eu tive muitíssima pena, Sam. Protegeste-me e fizeram-te mal por isso. Percebi as consequências dos meus actos muito tarde. Aprendi a ser cuidadosa.

– Por isso casaste com Randall Sterling? Era o mais prudente que podias fazer?

Capítulo Dois

 

Antes que Dana pudesse pensar numa resposta, notou que Sam parava de dançar e que sem soltá-la se virava para o homem que lhe tocara no ombro. Ela sentiu que o corpo de Sam ficava tenso, como um animal ante a sua presa, ou ante o seu inimigo. Harley Bonner era o inimigo. E ela já o rejeitara em duas ocasiões naquela noite.

– É preciso partilhar, Remington.

Dana agarrou-se mais a Sam e aproximou-se dele, esperando que entendesse que ela desejava evitar Harley, mesmo sabendo que era injusto esperar dele que voltasse a resgatá-la…

– Não acho que partilhar seja tão bom como dizem – replicou Sam enquanto a música mudava para Girls Just Want To Have Fun.

Ele afastou Dana, mas manteve a mão sobre as suas costas num gesto que podia interpretar-se como sedutor e também protector. Não sabia qual a atraía mais.

– Obrigada – disse Dana, mais agradecida do que podia expressar com palavras. – Volto a estar em dívida contigo.

– Estamos empatados. Ninguém deve nada – ele deu-lhe a mão e juntos saíram da multidão. – Tenho de ir, Dana. Adorei ver-te.

Já? Ela não disse nada, mas agarrou-lhe o braço com mais força.

– Tenho a tua medalha de Melhor Aluno – disse ela. – Está em casa dos meus pais.

Quando chegou ao carro depois da cerimónia, encontrara-a pendurada do espelho retrovisor. Ela tinha chorado enquanto o procurava; não podia acreditar que tivesse feito aquilo, que lhe tivesse dado a sua medalha.

– Não a queria então e não a quero agora.

– Por favor, Sam – ela era consciente em todo momento que estavam rodeados por um monte de gente, ainda que o volume da música mantivesse a sua conversa em privado. – Vem comigo, são só uns minutos. Os meus pais não estão em casa. Estaremos a sós.

– Tenho de ir – repetiu ele.

O que via nos seus olhos? Tentação? Arrependimento? Embora aquela relação tivesse começado na escola, só tinham saído juntos uma vez no liceu. Só uma vez. Era o encontro com o qual ela sempre sonhara durante anos, que começara maravilhosamente e que acabara terrivelmente logo depois. Ela nunca soube o que se passara, como tinha estragado tudo, mas a verdade era que o tinha feito.

Ela tinha muitas coisas que perguntar-lhe, imaginara a cena centenas de vezes. Como podia ir-se embora e deixá-la ali com tantas perguntas sem resposta?

– Sei que não me deves nada, mas pelo menos diz-me porque me deste a tua medalha – insistiu ela.

– A fugir de novo? – perguntou uma voz masculina.

Harley voltava a estar ao seu lado, de peito inchado, com os punhos fechados e um olhar de desafio. O ódio que Dana sentia por ele cresceu por momentos. Era um pistoleiro na escola e agora era um pistoleiro rico.

– Afasta-te – disse Sam, em voz baixa, ameaçadora.

– Oh! A fazer-te de valente, Remington? Achas que poderás ganhar desta vez?

– Para dizer verdade, também teria podido ganhar então. Mas sendo cinco contra um, a briga não estava muito equilibrada.

Dana não soubera nunca os detalhes. A maioria das pessoas supusera que o pai de Sam lhe tinha voltado a bater, mas Dana sabia que os responsáveis tinham sido Harley e os seus amigos. O que não sabia era quantos tinham sido. Se pudesse retroceder no tempo, teria agido de um modo completamente diferente.

– Não faças uma cena – disse Dana a Harley, magoada ao imaginar Sam golpeado como um saco, por sua causa. – Desaparece daqui.

Harley sorriu.

– Este é o meu terreno. Não tens poder aqui.

Fez silêncio entre eles até que Sam deu um passo para encarar directamente Harley.

– Eu achava que as tuas duas ex-mulheres te teriam ensinado algo acerca das mulheres e do poder, Bonner.

Harley levantou o braço, mas antes que Dana pudesse sequer pestanejar, ele estava no chão, mais surpreendido que dorido. Se Sam lhe deu um murro, ela não tinha visto.

– Que ocorreu? – perguntou alguém.

– O Harley caiu, acho – foi a resposta.

Dana sentiu o olhar de Sam sobre ela e correspondeu-lhe.

– Ouvi que vais concorrer às eleições de novo, por mais seis anos. Tens o meu voto, senadora Sterling – disse ele, com sinceridade.

– Esperarei a tua contribuição para a campanha – ele sorriu. – Tens a certeza que não queres vir lá a casa apanhar a tua medalha? – «não vás, por favor… temos tanto do que falar; erros, eleições, sonhos…».

Ele não captou os seus sinais silenciosos dessa vez, mas levou a mão ao bolso e tirou um cartão.

– Podes mandar-ma pelo correio, se isso te faz feliz.

– Claro que sim.

Tinha a sua morada, o seu número de telefone… Não seria pior isso que não saber onde estava? Quando ele se virava para ir-se, ela lembrou-se de uma coisa.

– Obrigado pelo cartão que me enviaste quando morreu o meu marido.

– Eu admirava-o, Dana – olhou-a durante uns segundos e depois partiu.

Ela pôde notar a marca que o exército deixara nele pela sua postura. Sabia que não podia ficar ali para sempre, vendo-o ir-se, mesmo que quisesse. Conseguira desculpar-se ante ele, como sempre quisera, mas não fora suficiente. Ele não sabia tudo ainda. E agora havia um elemento novo; a resposta do seu corpo ante a presença dele: uma necessidade ainda sussurrante, o forte bater do seu coração, a mente cheia de velhas imagens, e agora de outras novas.

Ela inspirou para acalmar-se enquanto as suas amigas de toda a vida, Lilith, Candi e Willow acorriam ao seu lado.

Candi inclinou-se sobre Harley.

– Talvez o melhor fosse que alguém te levasse a casa para que pudesses dormir um pouco. Não me apercebi que o teu problemazinho se tinha descontrolado tanto.

Dana lamentava que a conversa tivesse acabado assim. De facto, tinha-se saído bem com Harley até à chegada de Sam. Sam e o sentimento de culpa que chegou com ele. Sam e aquela surpreendente reacção física que lhe provocara.

Há muito tempo que não estava com um homem. Sem o seu marido, corrigiu, depois de mais de dois anos viúva. Dois anos terríveis nos quais nem sequer tinha tido tempo para encontros devido ao seu absorvente trabalho. Também ninguém a interessara o suficiente para fazer-lhe um espaço na sua agenda. Mas por Sam Remington fá-lo-ia…

– Tenho muitos amigos – disse Harley, em tom iracundo. – Amigos que deixarão de apoiar economicamente a tua campanha. Acredita, não esquecerei isto.

Dana manteve-se firme enquanto Harley se aproximava a tão só uns centímetros dela.

– És tal como me lembrava – respondeu, lembrando-se de muitas coisas. O que lhe fizera a ela já era bastante mau. O que fizera a Sam era imperdoável. – Acreditei nas tuas ameaças quando era jovem e inocente, mas esses dias já passaram.

– És uma pessoa com sorte. Procuraste um tipo rico e poderoso e ficaste com o seu cargo como se o tivesses ganho.

– Votaram em mim.

– Por pena, por lástima.

Antes que pudesse responder, sentiu que Lilith a agarrava pelo braço e a levava.