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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2005 Joan Hohl

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

A magia do momento, n.º 667 - Fevereiro 2015

Título original: A Man Apart

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6473-3

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Volta

Capítulo Um

 

Justin Grainger era um homem diferente, e gostava de ser assim. Era um homem que estava contente com a sua vida. A sua afinidade com os cavalos era admirável, e gostava do seu trabalho, que era gerir o seu rancho de criação de cavalos no distante estado do Montana.

Mas Justin não era um eremita nem um lobo solitário. Adorava a relação que tinha com os trabalhadores da sua quinta, sobretudo com o capataz, Ben Daniels. Desde o seu casamento falhado seguido de divórcio há cinco anos, Justin não queria voltar a ter mais nenhuma mulher na sua propriedade, mas tinha aceitado a presença da nova mulher de Ben, Karla.

Karla fora a ajudante pessoal de Mitch, o irmão de Justin que se ocupava da gestão do casino que a família possuía em Deadwood, Dakota do Sul.

Justin visitava os seus pais de vez em quando, eles agora estavam reformados e tinham decidido mudar-se para Sedona, no Arizona, um lugar com temperaturas bastante mais quentes durante a maior parte do ano. Os dois estavam de boa saúde e desfrutavam de uma intensa vida social. A sua irmã Beth, ainda solteira, vivia em São Francisco dedicada ao mundo da moda, e o seu irmão mais velho, Adam, geria os diversos negócios familiares desde os escritórios centrais em Casper, Wyoming.

Adam estava casado com uma mulher adorável chamada Sunny, a quem num princípio Justin decidira tolerar em nome da unidade familiar, mas rapidamente se afeiçoou a ela e passou a respeitá-la. Gostava dela como se fosse a sua própria irmã. O casal tinha uma filha, Becky, que Justin adorava.

De vez em quando, ele tinha uma que outra namorada, mas só e quando ela aceitava que não havia compromissos da sua parte. Isso, para ele, era a situação perfeita. Justin afirmava que era muito mais fácil lidar com cavalos do que com mulheres, que além de não discutir, concordavam sempre com ele, pelo que se tornava bastante mais fácil falar e fazer-se entender.

Contudo, depois de um longo e quente Verão com muito trabalho, de um Outono igualmente intenso, e de um Inverno que acabava de começar, Justin sentia-se inquieto, pelo que não reclamou quando recebeu um telefonema urgente do seu irmão Mitch na semana anterior ao Natal.

– Preciso que venhas a Deadwood – disse Mitch sem rodeios, como sempre.

– Ai é? Porquê? – respondeu Justin naquele tom indiferente que lhe era habitual.

– Vou casar e quero que sejas o meu padrinho – anunciou Mitch. – É esse o motivo.

Para deixar qualquer um de boca aberta. Não podia competir com uma resposta à explicação oferecida pelo seu irmão, reconheceu Justin para si mesmo.

O certo era que a relação entre os irmãos Grainger assentava sobre as bases de uma total lealdade e devoção em qualquer situação.

– Quando é que a perdeste, Mitch? – perguntou Justin finalmente, adoptando um tom suave de lamento.

– Perder o quê? – perguntou o seu irmão, algo confuso.

Justin sorriu.

– A cabeça, mano, a cabeça. Para mergulhares dessa forma no poço do casamento, só a podes ter perdido irreversivelmente.

– Não perdi a cabeça, meu querido irmão – respondeu Mitch, divertido. – Por muito vulgar que pareça, o que perdi foi o coração.

Para Justin era impossível deixar passar o desabafo do irmão sem fazer um comentário sarcástico.

– Nada disso de «que pareça» – repetiu Justin, desfrutando daquele momento. – É mesmo a coisa mais vulgar que já ouvi em toda a minha vida, e não há mais nada a dizer.

Mitch soltou uma gargalhada.

– Não sei o que dizer-te, mano – disse, mudando para um tom de voz sério. – Estou completamente apaixonado por ela.

Oh, sim, pensou Justin, ouvindo a intensidade com que o seu irmão lhe dizia aquilo. Mitch estava a falar a sério. Estava completamente caidinho por aquela mulher, e ele suspeitava de quem se tratava.

– É a Maggie Reynolds, não é?

– Sim… claro.

Claro. Justin não se surpreendeu. Um ligeiro sorriso fez com que os seus lábios se curvassem. De facto, depois de todos os incríveis comentários que o seu irmão tinha feito sobre a senhorita Reynolds desde que ela ocupara o lugar de assistente pessoal que Karla deixara vago, Justin devia ter estado preparado para o anúncio do casamento a qualquer momento.

– E então?

A voz impaciente de Mitch penetrou nos pensamentos de Justin.

– E então o quê? – perguntou Justin.

Mitch suspirou longamente, e Justin não conseguiu conter uma gargalhada.

– Serás o meu padrinho?

– Claro que sim – respondeu Justin. – Antes ser padrinho que noivo.

– Fica descansado, no meu casamento não o serás.

– Quando é que queres que eu vá a Deadwood? – perguntou Justin, após deixar escapar um risinho.

– Marcamos a data para o primeiro sábado de Janeiro, mas podes vir passar o Natal connosco – sugeriu Mitch, cauteloso.

– Penso que não vou conseguir – respondeu Justin, dirigindo o olhar para um enorme pinheiro, completamente decorado, que estava à frente da janela da sala.

A árvore e as outras decorações natalícias que se encontravam pelas diferentes divisões da casa, eram uma concessão à nova esposa de Ben, mas não significava que ele tivesse decidido unir-se às celebrações do Natal.

– Já sabes que eu não gosto…

– Do Natal – respondeu Mitch acabando a frase. – Sim, eu sei – o seu irmão deixou fugir um suspiro de cansaço. – Este Natal faz cinco anos que a Angie fugiu com aquele vendedor. Não achas que já está na hora de esqueceres tudo isso e procurares uma mulher que seja boa e decente, que…?

– Esquece, Mitch – avisou Justin num tom seco, sem querer lembrar aquele triste Inverno. – A única mulher que eu quero encontrar, não tem que ser nem boa, nem decente, só preciso que ela tenha vontade de passar um bom bocado comigo.

– Ei, ei! – disse Micth num tom de desaprovação. – Espero que, se fazes tenções de procurar alguém com essas qualidades aqui, em Deadwood, o faças discretamente.

– Não queres que a tua futura mulher fique escandalizada, é?

– A minha futura mulher e a senhora Ben, e a senhora Adam – respondeu Mitch, sério. – Para não falar da tua mãe e da tua irmã, Beth.

– Ai! – riu-se Justin. – Está bem. Serei discreto, até mesmo cauteloso.

Mitch começou a rir.

– Como quiseres.

– A propósito, quem vai ser a madrinha, a Karla?

– Sim, mas vão haver duas.

– Duas, quê?

– Duas madrinhas – explicou Mitch. – A melhor amiga da Maggie vem de propósito desde Filadélfia, depois de passar pelo Nebraska, para ser a sua madrinha.

– Desde Filadélfia depois de passar pelo Nebraska?

– A Hannah é do Nebraska. Vai visitar a sua família antes de vir até Deadwood.

– Hannah, é?

Justin imaginou imediatamente uma mulher seria e de ar enjoado, que encaixava bem naquele nome antiquado. Uma mulher gordinha, formal e virgem, e de certeza horrorosa.

– Sim, Hannah Deturk.

E, com aquele apelido, também baixinha.

– E aconselho-te que sejas amável com ela – advertiu Mitch.

– Claro, vou ser adorável com ela. Por que raio não havia de ser? – disse Justin, magoado com aviso de seu irmão.

O que pensaria ele para lhe fazer aquele aviso? Nem que fosse um mulherengo, a correr o dia inteiro atrás de qualquer rabo de saia.

– Está bem – o tom de Mitch era conciliador. – Nunca guardaste segredo sobre o que pensas das mulheres e eu não quero que faças nada que possa magoar a Maggie.

– Pareces estar tão dominado como o Ben – disse Justin mudando de assunto. – Desta vez bateu-te forte, não foi?

– Amo-a mais que à minha própria vida, Justin – admitiu Mitch com firmeza.

– Já te ouvi, e prometo que me vou comportar como um autentico gentelman.

Justin sabia que ele nunca sentira nada semelhante ao que o seu irmão parecia sentir por aquela mulher, nem sequer sentira isso pela sua ex-mulher, Angie, e tinha a certeza que nunca o sentiria.

Que diabo, nem sequer estava interessado em sentir aquele tipo de emoção intensa por nenhuma mulher, pensou para si minutos mais tarde, franzindo o sobrolho, enquanto desligava o telefone.

A única coisa que se podia conseguir era sofrimento e dor. E não queria voltar a passar pelo mesmo.

Primeiro Ben e Karla, agora Mitch e Maggie, pensou enquanto falava baixinho, com o olhar perdido. Dois casais em menos de um ano.

Embora Justin não tivesse tendência para se deixar levar por ideias extravagantes, perguntou-se se as águas de Deadwood não teriam algum afrodisíaco, ou talvez fosse o ambiente do casino, que exalava uma espécie de feitiço amoroso.

No dia a seguir ao Natal, Justin partiu rumo a Deadwood, convencido de que ele era imune a qualquer tipo de feitiço ou porção mágica. Ele já tinha apreendido a sua lição.

 

 

Hannah Deturk não ficou nada satisfeita por ter de abandonar Filadélfia na terceira semana de Dezembro para ir até ao Dakota do Sul, embora antes desse um salto no Nebraska. Para ela, Deadwood, Dakota do Sul, era como o fim do mundo ou ainda pior: um lugar bastante mais perdido e isolado do que a zona do Nebraska onde ela tinha nascido e crescido.

Depois de se ter formado na universidade e de se ter mudado, primeiro para Chicago, onde fazia demasiado vento, depois para Nova Iorque, que era grande demais, e finalmente para Filadélfia, onde tinha encontrado o seu novo lar, Hannah jurara nunca mais voltar àquela zona do pais, excepto para visitar aos seus pais.

Também prometera nunca mais voltar entre os meses de Novembro e Março, mas mesmo Outubro, Abril e Maio lhe pareciam meses muito arriscados.

Só um pedido dos seus pais ou, neste caso, o casamento da sua querida amiga Maggie, a podiam convencer a dedicar as três semanas de ferias que tinha por ano a uma remota e provinciana cidade de Dakota do Sul chamada Deadwood, que transbordava de casinos e de jogo.

Não gostava do jogo. Nunca tinha posto os pés nos casinos de Atlantic City, que apenas estavam a uma hora de distância de Filadélfia. E, no entanto, quando Maggie lhe telefonara para a informar de que ia casar em Janeiro e para lhe pedir que fosse uma das suas madrinhas, nem lhe tinha passado pela cabeça recusar o convite.

Desta feita, uns dias depois do fim do ano e, depois de ter passado o Natal no Nebraska com a sua família, Hannah deu por si, mais uma vez, na auto-estrada para Deadwood, a guiar um jipe alugado, sob um terrível nevão.

Quando finalmente chegou à cidade que tinha ficado famosa, entre outras coisas, pelos feitos das figuras lendárias Calamity Jane e Bill Hickok, já era de noite e as ruas estavam cobertas de neve.

Aqueles dias do famoso casal tinham passado e Deadwood era praticamente igual a qualquer outra pequena cidade do centro dos Estados Unidos. Hannah teve saudades de Filadélfia, que naquele momento estaria em plena hora de ponta do regresso a casa, quando o trânsito era um horror. Até disso tinha saudades.

Bom, pensando melhor, talvez não.

Sorrindo para si, Hannah concentrou-se nas ruas, à procura do sítio onde Maggie lhe dissera para virar. Minutos mais tarde, deteve o carro à frente de um edifício de estilo vitoriano que tinha sido transformado em apartamentos.

Não lhe parecia estranho que Maggie se tivesse apaixonado pela casa, pensou Hannah, saindo do jipe para admirar, por trás da fina camada de neve que caía, a antiga mansão que outrora fora dos Grainger. Era um edifício impressionante que trazia à mente imagens de um passado repleto de elegância e esplendor.

– Hannah!

Hannah pestanejou de volta ao presente ao ouvir o histérico grito da sua amiga Maggie, que descia a escadaria de pedra a correr, sem casaco e sem guarda-chuva, na direcção dela.

– Maggie! – Hannah abriu os braços para abraçar a sua amiga. – Estás doida? – perguntou a rir enquanto dava um passo para trás para ver o rosto resplandecente da sua amiga. – Está a nevar e está um frio terrível.

– Sim, estou doida – respondeu Maggie, também a rir. Tão doida e tão apaixonada que nem sequer sinto frio.

– Tens o teu amorzinho para te manter quentinha, não é? – brincou Hannah.

– Sim, é isso – assegurou Maggie, estremecendo de frio. Estou mortinha por to apresentar.

– Eu também estou mortinha por conhecer o felizardo – disse Hannah, apoiando-se no braço de Maggie e começando a andar ao lado dela em direcção à casa. – Mas o melhor será entrarmos. Estou gelada.

– Lá dentro está-se muito melhor – garantiu-lhe Maggie com um sorriso radiante, – especialmente no meu ninho, no terceiro andar.

Hannah soltou o braço de Maggie por uns instantes e olhou para o seu carro.

– Vai à frente. Eu vou buscar minhas malas e encontro-me contigo num minuto.

– Trouxeste o vestido para o casamento? – perguntou Maggie desde o patamar na entrada do prédio.

– Claro que sim – gritou Hannah desde o seu carro, arrepiando-se ao sentir a neve na sua cara. – Dá-me um minuto, vou já.

Meia hora mais tarde, com as malas desfeitas, e o vestido especial que com tanto carinho procurara por toda Filadélfia pendurado no armário, Hannah estava sentada num almofadão do quarto daquele quente «ninho» de Maggie, com uma chávena de leite com chocolate nas mãos.

Cuidadosamente deu um golo e suspirou.

– Mmm, delicioso. Mas, muito quente. Queimei a língua.

Maggie começou-se a rir.

– Tem que estar muito quente – disse a sua amiga, divertida. – É por isso que tira o frio.

Uma leve careta de dor no rosto de Hannah transformou-se num suave sorriso. Era óptimo voltar a ver a sua amiga a rir, ver o brilho da felicidade no seu rosto, a substituir a dor amarga da traição do Verão anterior.

– Desta vez sim, estás mesmo apaixonada – disse Hannah, bebendo cuidadosamente outro golo – não é?

– Estou. Embora há uns meses atrás não acreditasse que fosse possível, estou muito apaixonada – disse Maggie, com um suspiro de satisfação e com uma expressão sonhadora nos olhos. – O Mitch é tão querido, tão…

– Tão tudo o que Todd não era? – Hannah acabou a frase por ela.

– Qual Todd? – perguntou Maggie, com fingida inocência.

Hannah sorriu, convencida finalmente de que a sua amiga estava completamente recuperada.

– Oh, já sabes, o Todd, ou lá como ele se chame, o idiota com quem ias casar. O mesmo idiota que casou com a filha do teu chefe.

Maggie fez uma careta.

– Ah, aquele idiota. Sim, o Mitch é tudo o que Todd não era – garantiu-lhe com um sorriso suave. – E muito mais que isso.

– Bem.

Hannah relaxou totalmente ao ouvir as palavras da sua amiga, e estudou o rosto radiante de Maggie.

– Desta vez estás mesmo apaixonada não é? – murmurou Hannah.

Maggie desatou a rir.

– Não te respondi a essa pergunta há bocado? Sim, Hannah estou profundamente, loucamente, desesperadamente, deliciosamente…

– Está bem, está bem – interrompeu-a Hannah, levantando as mãos no ar e rindo. – Pronto, acredito.

– Já não era sem tempo! – disse Maggie, rindo-se com ela. – Queres mais alguma coisa? Uma bolacha?

– Não, obrigada – respondeu Hannah, negando com a cabeça. – Ainda tenho leite no copo e já comi bolachas a mais. Estão deliciosas.

– Foi a Karla que as fez.

Hannah franziu o sobrolho.

– A Karla?

Então lembrou-se do que a Maggie lhe contara acerca do seu trabalho.

– Oh, já me lembro, a mulher que vieste substituir, a que também será madrinha.

– Sim, disse Maggie. – Adora cozinhar e fez estas bolachas para o Natal.

Quando veio deixou-nos algumas.

– Que simpática – disse Hannah sorrindo. – Então, já cá está. Tenho vontade de a conhecer.