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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2005 Anna DePalo

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma mulher perseguida, n.º 668 - Fevereiro 2015

Título original: Under the Tycoon’s Protection

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2006

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Harlequin Desejo e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6474-0

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo Um

Capítulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capítulo Nove

Capítulo Dez

Epílogo

Volta

Capítulo Um

 

Allison Whittaker observou o homem que, provavelmente, estivera a tentar matá-la.

Girou as ripas da persiana para ter uma melhor visão da escura rua de Boston que se estendia à sua frente. A luz amarela emitida por um antigo candeeiro de gás travava uma batalha perdida com a escuridão daquela fria noite de Abril.

O homem estava sentado, sem se mexer, no lugar do condutor do carro preto, estacionado no outro lado da rua, com a cara na sombra.

Também estivera ali na noite passada.

Ela apercebera-se disso. Era lógico que se tivesse apercebido. Quatro anos como advogada no distrito de Boston davam alguma experiência. Quando terminou a faculdade de Direito era muito ingénua. Um trabalho simpático num escritório deveria ser o próximo passo da carreira. Era isso que a sua família esperava dela. A mãe, uma respeitável juíza, que acabava de publicar um artigo no The Boston Globe, era obviamente o que esperava.

No entanto, Allison surpreendera-os a todos. Escolhera trabalhar no Ministério Público. E nem se tentou tornar uma prestigiada advogada do Estado, lidando com casos federais.

Não. Envolvera-se no trabalho sujo, tratando dos casos locais de tráfico de drogas ou roubos, integrada no gabinete do Ministério Público.

Voltou a olhar para o homem do carro. Claro que os surpreenderia ainda mais a todos se aparecesse morta no seu apartamento, com o pescoço cortado pelo misterioso homem que lhe enviava ameaças de morte.

Conteve o fôlego enquanto o homem se mexia ligeiramente e abria a porta do carro.

Quando saiu do carro, ela procurou obter um melhor ponto de vista, mas não conseguiu ver os seus traços por causa da escuridão. Conseguiu apenas ver era que era alto, de constituição forte, com o cabelo castanho e roupa escura.

Ela observou-o enquanto perscrutava a rua de alto a baixo antes de dirigir-se para uma das casas. Dirigir-se-ia para a dela?

O seu coração acelerou-se e sentiu dificuldade em respirar. «Chama a polícia», dizia-lhe a sua parte racional.

Decerto que os vizinhos o ouviriam, se por acaso tentasse entrar na casa. Aquele bairro exclusivo de Beacon Hill era, normalmente, tranquilo e sereno.

O homem passou debaixo do candeeiro e, então, a mente de Allison fez soar o alarme.

Conhecia aquela cara.

De súbito, o medo foi substituído pela raiva. Uma raiva intensa. O tipo de raiva que faria esconder qualquer um dos seus três irmãos mais velhos.

Allison dirigiu-se para as escadas daquela casa de tijoleira vermelha que chamava de lar, alheia ao facto de estar vestida para ir para a cama, com uns calçõezinhos de seda e um roupão a condizer. Quando desceu, apercebendo-se de que ainda não tinha ouvido bater à porta, tirou o ferrolho e abriu sem mais demoras.

– Olá, princesa.

Allison sentiu a mesma carga de energia que sempre sentia na presença daquele homem, mas de imediato foi substituída por uma corrente de tensão.

Ele tinha um físico esbelto mas musculado, um físico que normalmente fazia com que as mulheres se derretessem e se rendessem à conquista. Mas ela não. Havia ali algo mais do que um mero acaso; ela duvidava seriamente que a sua presença à sua porta, naquela noite, fosse uma mera coincidência.

Allison cruzou os braços e disse:

– Enganaste-te no caminho, Connor? Da última vez que te vi, Beacon Hill era uma bairro demasiado exclusivo para gentalha como tu.

Ele teve a desfaçatez de parecer surpreendido.

– E tu continuas a ser o mesmo diamante perfeito de sangue azul, princesa. Igual à lembrança que tinha de ti.

– Se sabes alguma coisa sobre diamantes, deverás saber que são as pedras mais duras do mundo.

– Oh, ultimamente sei bastante de diamantes, flor – disse ele, tocando-lhe a ponta do nariz com o dedo enquanto entrava sem ter sido convidado. – Descobri que são o presente perfeito para mulheres da tua categoria.

Allison imaginou Connor a escolher diamantes para as suas namoradas. Provavelmente, num lugar tão exclusivo como a Van Cleef & Arpels. Podia ter crescido numa família trabalhadora do sul de Boston, mas, graças ao multimilionário negócio de segurança que fundara, a sua conta bancária já atingira os oito dígitos. Era um magnata por direito próprio.

Allison fechou a porta atrás dele, batendo-a com força e puxou o ferrolho.

– Faz como se estivesses em tua casa – disse ela.

O sarcasmo era muito mais fácil do que pensar nele a deambular às escuras pela sua casa, sem outra companhia que a sua, e reconhecendo os tempestuosos sentimentos que despertava nela.

– Estou certa de que encontrarás um momento para me dizeres o que estavas a fazer, investigando a minha casa a meio da noite.

– Que te faz pensar que estava a investigar alguma coisa? – perguntou ele, deixando o casaco numa cadeira próxima.

Ela passou a mão pelo queixo enquanto o seguia pela sala e ligava a luz.

– Oh, não sei. Talvez porque estiveste meia hora dentro do carro, do outro lado da rua, com o motor desligado?

Ela observou-o enquanto olhava em volta. Havia fotografias por todo o lado, incluindo fotos com a sua família, amigos e com o Sansão, o seu gato, que morrera de velho quatro meses antes. Sentia-se vulnerável e exposta com ele a ver a sua vida como se estivesse numa montra.

Mudara-se para aquela casa após ter vendido, no ano anterior, o seu apartamento. A sua melhor amiga e cunhada, Liz, que era decoradora de interiores, ajudara-a a decorá-lo com um estilo elegante que encaixava na história da casa.

– Bela casa – disse ele enquanto se agachava para observar uma foto dela em biquíni num praia das Caraíbas, sorrindo para a câmara enquanto corria com óculos e barbatanas para a água.

– Cresceste bem, princesa, desde que deixaste a puberdade.

Ela cerrou os dentes. Apesar de Connor Rafferty se ter tornado praticamente um membro da família, após ser companheiro de quarto do seu irmão mais velho, Quentin, em Harvard, ela nunca se sentira confortável ao pé dele. E, claro, nunca tinha pensado nele como um irmão.

– Por que estás aqui? E o mais importante, que fazias escondido em frente da minha casa numa quinta à noite?

Ele ergueu-se e meteu as mãos nos bolsos, levantando o queixo.

– Assustei-te? Achavas que era o porco que te tem estado a enviar bilhetes de amor perversos?

– Não!

Deu-se conta, demasiado tarde, de que a veemência da sua negação soava exactamente como a mentira que era, mas a sua mera presença enervara-a. Presumiu que algum dos seus irmãos, provavelmente Quentin, lhe tivesse falado sobre as cartas anónimas que estava a receber.

– O quê? Não pensaste no quanto te alegraria ver-me?

– Sê realista – disse ela. De facto, sentira-se aliviada por ser ele, um segundo antes de passar a sentir a raiva. – Não respondeste à pergunta. Que estás aqui a fazer?

Connor caminhou e recostou-se no sofá, esticando as pernas.

– Apenas o meu trabalho.

– Apenas… – parou no momento em que um pensamento desagradável surgiu na sua mente.

– Sempre foste muito rápida, petúnia. Tenho de confessar que é fascinante ver essa tua cabecinha a deitar fumo. Sempre disse que, se tivesses nascido ruiva, o pacote seria perfeito. Cabelo vermelho a condizer com o vermelho da tua ira.

– Rua.

– É essa a maneira de tratar o tipo que está aqui para te proteger?

Allison percorreu o quarto e voltou-se para ele quando chegou perto da lareira. Não podia acreditar que aquilo estivesse a acontecer.

– Não sei que membro da minha família te contratou, Connor – disse ela cruzando os braços, – e, francamente, não me importa. Talvez tenhas a melhor empresa de segurança do país, mas aqui ninguém te quer nem precisa de ti. Percebes?

Afastando-se do sofá, Connor cruzou os braços.

– Pelo que ouvi, diria que sim, precisas de mim. Quanto a ser desejado – encolheu os ombros… – disseram-me que faça um trabalho e vou fazê-lo.

Desejar. Aquela palavra ecoou na sua cabeça, mas em seguida procurou esquecê-la. Fosse o que fosse que sentisse por Connor, aquela não era, claro, a melhor definição.

Certo que, com os olhos cor de avelã e o cabelo curto, parecia um modelo, excepto no nariz, partido num par de ocasiões, e a cicatriz que lhe adornava o queixo. Mas na sua cabeça tudo isso desaparecia comparado com a sua maneira de ser tão condescendente e chata. Para não falar do pouco que se podia confiar nele.

Não o via desde o casamento do seu irmão Quentin, uns meses antes, mas apesar dos seus caminhos não se terem cruzado ultimamente, Connor era-lhe tão familiar como um membro da sua própria família. Por outro lado, ele não tinha uma família de que pudesse falar, visto que tinha perdido os seus pais após chegar a Harvard. Por isso, tinha passado quase todas as férias com os Whittaker.

– Não há forma de puderes fazer este trabalho se eu te digo que não podes – disse ela com as mãos nas ancas.

– Dado que o Quentin continua a ser o dono disto, porque não chegaste a um acordo de compra com ele, eu diria que te enganas. Portanto a primeira coisa que vamos fazer é assegurarmo-nos de que a segurança na casa da nossa solteira de ouro é de primeira classe.

Uma vez mais, a vontade de estrangular Connor Rafferty tomou conta dela. Certo, a casa não era sua, mas isso não passava de um detalhe técnico. A casa estivera vazia durante dois anos, desde que Quentin a adquirira como investimento, mas ela apaixonara-se pela casa e oferecera-se para lha comprar. Em qualquer caso, não precisava de um guarda-costas.

– Se precisar de protecção, tratarei de arranjá-la.

– Não será preciso – disse ele, cerrando os lábios, – porque penso colar-me a ti até que saibamos quem te está a enviar ameaças de morte e a escrever obscenidades com spray sobre o teu Mercedes.

– Posso cuidar de mim mesma. Eu vi-te escondido dentro de um carro estacionado, não foi?

– E que me dizes do homem que estava no carro estacionado na esquina? Não me digas que não o viste.

Não o tinha visto.

Ele arqueou uma sobrancelha e interpretou o seu silêncio como uma admissão.

– Não podes ter a certeza de que tivesse alguma coisa a ver comigo – disse ela, e sabia que tinha razão.

– Tens razão, não posso. Mas saiu dali disparado como uma flecha no momento em que decidi comprovar a minha teoria e sair do carro.

– E não o seguiste?

– Como poderia ter a certeza de que vinha atrás de ti? – perguntou ele atacando-a com as suas próprias palavras. – Em qualquer caso, era demasiado tarde para regressar ao carro e ir atrás dele. E não pude ver o número de matrícula nem a marca de carro por causa do escuro. Por isso, decidi vir à tua porta, pensando que ao menos a dama em perigo me agradeceria por ter corrido com o vilão.

– E agora que o escorraçaste, importavas-te de escorraçar-te a ti mesmo?

Talvez até precisasse de protecção, mas poderia tratar disso por si mesma. A última coisa que precisava era de um guarda-costas contratado pela sua família super-protectora e menos ainda tão incómodo como Connor.

– Realmente não percebes, pois não, princesa?

– Presumo que vais explicar-mo para que o perceba – disse ela, vendo como Connor se aproximava. Se pensava intimidá-la, ia apanhar uma surpresa.

– Presumes bem – disse Connor, após deter-se apenas a uns centímetros de distância.

Allison teve de elevar o queixo para manter o contacto visual. Deveria sentir-se satisfeita sabendo que, com o muito que ele a inquietava, ela parecia ter a habilidade de incomodá-lo também a ele.

– Trabalhar no gabinete do Ministério Público talvez te faça pensar que és muito esperta – disse ele, – mas não és. O que me faz perguntar por que não ficaste pelas coisas que as outras novatas e meninas da sociedade fazem, tipo serviço público. Já sabes, organizar leilões de beneficência e coisas assim. Porquê incomodares-te em trabalhar com os tipos duros do gabinete do promotor?

Ela cerrou os dentes e procurou ter paciência.

– Isto não é um hobby. É uma profissão.

Sabia que ele tinha tido uma infância difícil nas ruas do sul de Boston, mas isso não lhe dava o direito a apontar-lhe o dedo por ter crescido com todo o conforto.

– Fizeste da tua profissão um modo de viver emoções fortes, não foi, petúnia? Pergunto-me porque será, e porque parece que não consegues encontrar o que queres nos meninos mimados do clube de campo.

Ela olhou em volta, à procura de algo para atirar-lhe à cabeça, mas então pensou que seria uma pena gastar uma relíquia contra aquela cabeça dura. Além disso, estaria a agir de acordo com todos os preconceitos que ele tinha para com ela.

– Tens a mania de que sabes tudo, não é? Excepto uma coisa. Que já não sou a menina de quem podes ir contar coisas aos meus pais.

Ele olhou-a com frieza. Allison viu que Connor estava prestes a rebentar.

– Continuas sem poder perdoar-me por isso, não é?

Allison arqueou uma sobrancelha e procurou ignorar como a proximidade dele despertava todas as células do seu corpo.

– Não te dês demasiada importância. Dizer que não posso perdoar-te implica que ainda me importo com o que se passou. E não é assim.

– Sim, e não pareces ter aprendido a lição.

– Claro que aprendi – respondeu ela. – Aprendi que não podia confiar em ti.

– Eras uma criança de dezassete anos que estava a começar a dar-se com as pessoas erradas. O que é que achavas? Que esse motoqueiro do bar se tinha aproximado de ti porque queria levar-te para casa e oferecer-te uma cerveja?

– Tu não eras o meu guardião! – não lhe disse que uma das razões por que tinha ido para o bar naquela noite era a esperança de que ele aparecesse. Durante um curto período, nos seus anos de adolescência, tivera o que se poderia chamar um fraquinho por Connor. Mas isso fora antes de ele demonstrar, pela traição, que só a via como uma criança.

Ainda se lembrava da vergonha e humilhação que sentira quando Connor a pusera ao ombro no bar e a levara para o carro, ignorando os seus gritos e pontapés.

Como se isso não bastasse, apesar de lhe ter prometido que, se estivesse quieta, não contaria aos seus pais, acabou por contar, traindo-a. Allison tivera de suportar um sermão sobre o álcool e o sexo antes da maioridade, fora castigada um mês e, após isso, sempre fora interrogada sobre as suas idas e vindas.

– Diria que tu és tão culpado quanto eu, Connor, no que toca a não aprender lições do passado. Continuas a actuar como se fosses o meu guardião quando não o és.

– Que raio! És tão casmurra que não aceitas ajuda embora precises dela? Quando a tua própria vida pode estar em perigo?

– Casmurra? Parece-me a mim que tu é que poderias escrever um longo tratado sobre isso.

Tentou passar à frente dele, mas Connor agarrou-a por um braço e obrigou-a a olhar para ele. A sua expressão era de fúria e tinha a testa franzida e os lábios cerrados.

– Casmurra, teimosa…

– É indiferente – respondeu ela. Estavam quase nariz com nariz e, com a adrenalina a correr-lhe nas veias, Allison sentiu uma ligeira excitação ao verificar que por fim conseguira acabar com o seu auto-controlo.

Então, Connor inclinou a cabeça e cobriu os lábios dela com os seus num beijo furioso. Os seus lábios moviam-se com força sobre a sua boca e, quando Allison procurou afastar-se, ele colocou uma mão atrás da sua cabeça e manteve-a no mesmo sítio.

– Humm…!

Nos seus anos de adolescência, Allison fantasiara algumas vezes em ser beijada por Connor. Mas nenhuma das opções fora como aquela. Connor beijava do mesmo modo que fazia todas as coisas: com uma segurança avassaladora.