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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2011 Carole Mortimer

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Uma noite no palácio, n.º 1599 - Abril 2015

Título original: A Night in the Palace

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6600-3

Editor responsável: Luis Pugni

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

– Giselle Barton, por favor, apresente-se urgentemente no balcão número seis do terminal. Giselle Barton, passageira do voo com destino a Roma com saída às treze e trinta, por favor, apresente-se urgentemente no balcão número seis.

Lily Barton acabara de chegar ao balcão número cinquenta e dois e ficara na fila do check-in do seu voo para Roma, depois de ter de arrastar a mala por todo o terminal. Ao ouvir aquele aviso e perceber que tinha de voltar para trás, gemeu de incredulidade.

Naquela manhã gelada de dezembro, dois dias antes do Natal, correra tudo mal. O táxi chegara atrasado para ir buscá-la e o trajeto até ao aeroporto fora difícil e lento devido à neve e ao mau tempo. Assim, ela era a última passageira da fila e, certamente, iam atribuir-lhe o pior lugar do avião.

Para o caso de ser pouco, a mala perdera uma das rodas quando o taxista a tirara do porta-bagagem do carro. Nem o taxista nem ela tinham conseguido voltar a colocá-la, portanto, a mala tinha tendência para se desviar para a esquerda enquanto ela a arrastava com dificuldade.

Lily esperava que não a tirassem do voo para Roma por overbooking, algo muito comum naquela época do ano, porque aquilo seria o final de um dia desastroso e, certamente, começaria a chorar.

– Menina Giselle Barton, por favor, apresente-se urgentemente no balcão número seis do terminal de saída.

– Já vou, já vou! – exclamou Lily, ao ouvir a repetição do aviso por altifalante, e agarrou no puxador da mala para regressar ao princípio do caminho. O aviso fora mais imperioso naquela ocasião, o que devia significar que iam tirá-la daquele voo e, sem dúvida, oferecer-lhe outro bilhete para depois do dia de Natal.

Bolas…

Ir a Roma para passar o Natal com o irmão fora uma decisão muito rápida. Lily ficara sem planos para as festas no último momento. Devia ter percebido muito antes que Danny, o homem com quem saía há dois meses, não deixaria a mãe divorciada sozinha, com quem ainda vivia, para passar o Natal com ela, e Miriam deixara bem claro que não ia convidá-la para a sua casa. Assim, Lily decidira que era o momento mais adequado para acabar aquela relação que, por outro lado, não tinha muito futuro.

Felizmente, as suas emoções não se tinham visto envolvidas. Danny era professor na escola onde trabalhava e fora divertido ir ao cinema e sair para jantar com ele, mas a mãe era muito dominante e possessiva.

Quando tomara a decisão, começara a sentir-se muito alegre. Nunca estivera em Roma e sentia a falta de Felix, que fora viver para lá há três meses, porque encontrara trabalho como assistente pessoal do conde Dmitri Scarletti. Os pais tinham morrido há oito anos e, ao ficarem sozinhos, os dois irmãos tinham-se unido mais do que antes. As chamadas de telefone e as mensagens de correio eletrónico não eram suficientes para Lily. Ia ser fantástico poder estar com ele.

Na verdade… Teria sido fantástico poder passar o Natal com ele, mas estavam prestes a tirá-la do voo para Roma e, certamente, teria de voltar para casa e passar a véspera de Natal sozinha, à frente da televisão.

Depois de andar durante vários minutos a arrastar a mala, chegou ao balcão número seis e dirigiu-se à assistente de bordo.

– Bom dia, sou Lily Barton e…

A assistente de bordo olhou para ela com confusão.

– Lily? Mas… Pensava que se tratava de Giselle Barton…

– Não se preocupe, é uma coisa de família. Tome – indicou Lily. Tirou o passaporte da mala e mostrou-lho.

A fotografia do seu passaporte não era a melhor que lhe tinham tirado. O seu cabelo era loiro e muito liso e os olhos eram bonitos, grandes e azuis. No entanto, estavam muito abertos por causa do flash e tinha um ar de espanto. Além disso, parecia que tinha um pescoço demasiado esbelto para segurar aquele cabelo tão espesso.

– Olhe – começou, enquanto pegava no passaporte e o guardava novamente na mala, – se vai dizer-me que não posso ir para Roma hoje, penso que devia avisá-la de que, se mais alguma coisa correr mal, vou começar a gritar como uma histérica.

– Teve uma manhã difícil?

– Nem imagina.

A assistente de bordo sorriu.

– Então, fico feliz por poder dizer-lhe que não vou tornar-lhe as coisas mais difíceis.

– Não?

– Não, claro que não. Deixe-me levar isto – ofereceu-se a mulher e pegou no puxador da mala de Lily. Depois, virou-se e começou a andar, arrastando-a suavemente.

– Eh! – exclamou Lily. Rapidamente, alcançou-a e agarrou-a pelo braço. – Para onde vai com a minha mala?

A assistente de bordo sorriu com paciência.

– Vou fazer o check-in da bagagem e, depois, vou levá-la para a sala VIP.

Lily ficou espantada. Depois, abanou a cabeça.

– Deve haver um erro. Tenho um bilhete de classe económica – explicou.

A assistente de bordo continuou a sorrir.

– Penso que mudaram a sua reserva esta manhã.

– Mudaram a minha reserva? – perguntou Lily, com desespero. – Por favor, não me diga que vão mandar-me para a Noruega ou para algum sítio onde esteja mais frio do que em Inglaterra.

A assistente de bordo riu-se.

– Não, não vai para a Noruega.

– Para a Islândia? Para a Sibéria? – perguntou Lily, com um ar de dor. Dezembro fora muito frio em Inglaterra naquele ano e, embora soubesse que em Roma não estariam vinte graus, certamente, seria um pouco menos glacial do que Londres.

– Não, não vai para nenhum desses dois lugares. Tem um lugar no voo que sai para Roma dentro de duas horas.

– Graças a Deus! – exclamou Lily e franziu o sobrolho. – Olhe, não se preocupe comigo. Embora tenha a mala estragada e esteja um pouco nervosa, não preciso de ajuda especial. A única coisa que se passa é que é a primeira vez que ando de avião e é evidente que não me organizei bem.

A assistente de bordo teve de morder o lábio para conter outra gargalhada.

– É por isso que vou fazer-lhe o check-in.

– Antes de me acompanhar à sala VIP?

– Se não se importar, por favor, é por aqui…

Lily abanou a cabeça sem se mexer.

– A sério, tenho a certeza de que houve uma confusão. Eu sou Giselle Barton, sim. E tenho um bilhete para Roma. Mas tenho um bilhete de classe económica e…

– Não, já não – assegurou a outra mulher, com firmeza. – O conde Scarletti ligou pessoalmente para a companhia aérea para trocar o seu bilhete de classe económica por um de primeira classe e pediu que lhe déssemos uma atenção especial antes e durante o voo.

O conde Scarletti?

O mesmo conde rico e influente, de origem italiana e russa, para quem Felix trabalhava em Roma? Bom, não podia haver dois condes Scarletti, portanto, devia ser ele.

– Penso que também terá um carro à espera no aeroporto Leonardo da Vinci quando aterrar – acrescentou a assistente de bordo.

Supostamente, era Felix que ia buscá-la ao aeroporto…

A menos que o conde precisasse do seu assistente pessoal para algo indispensável naquele dia e o irmão não pudesse ir buscá-la, tal como tinham planeado. Talvez aquela fosse uma maneira de a compensar.

Sem dúvida, Felix explicaria tudo quando chegassem ao apartamento arrendado em que vivia…

Lily estava ligeiramente enjoada por causa da atenção especial do pessoal da companhia aérea antes e durante o voo. Sonia, a primeira assistente de bordo, fizera o check-in e levara-a para a sala VIP. Ali, outras assistentes de bordo tinham-lhe servido bebida e comida constantemente. Minutos antes do voo, tinham-na acompanhado ao avião e tinham-lhe atribuído um lugar na primeira classe, onde tinham voltado a servir-lhe champanhe e canapés. No fim, adormecera até à aterragem.

E, assim que saíra do terminal, vira um homem alto e uniformizado com um cartaz em que estava escrito o seu nome. Aquele motorista parecia mais um guarda-costas e apresentara-se apenas com o primeiro nome: Marco. Depois, pegara na mala estragada como se não pesasse nada e levara-a para uma limusina que estava estacionada numa zona proibida. Lily não tivera outro remédio senão segui-lo.

Ela tentara fazer algumas perguntas numa mistura de italiano muito precário e inglês, mas ele não respondera nada, exceto quando mencionara o conde Scarletti. Marco respondera um «sim» lacónico enquanto se certificava de que ela se sentava no banco traseiro da limusina e fechava a porta com firmeza. Muitas pessoas observavam a cena com curiosidade, questionando-se se aquela mulher loira, com umas calças de ganga desgastadas e um casaco preto e grosso, era famosa. Obviamente, uma famosa que comprava a roupa em lojas de segunda mão!

Quando Marco se sentou ao volante, ela estava corada de vergonha e o ecrã de vidro que separava a parte dianteira do resto da limusina não convidava a continuar a fazer perguntas ao motorista.

Lily não teve outro remédio senão recostar-se no banco de couro e desfrutar da vista dos subúrbios de Roma enquanto o carro avançava para o centro da cidade. Estava melhor tempo do que em Inglaterra e o sol brilhava. Lily adorou Roma. Em cada canto, havia uma estátua, uma fonte ou um presépio, para além de museus imponentes que rivalizavam com os de Londres. Muitas cafetarias tinham as esplanadas abertas para os clientes, embora tivessem de usar casacos e cachecóis para poderem estar na rua.

Não era de estranhar que Felix se tivesse apaixonado pela cidade. E não só pela cidade. Há algumas semanas, contara-lhe que estava a sair com uma jovem italiana chamada Dee e que queria apresentar-lha o quanto antes.

Parecia que Roma era uma cidade onde era muito fácil apaixonar-se…

Meia hora depois de sair do aeroporto, Lily franziu o sobrolho ao ver que Marco não parava o carro à frente de um edifício de apartamentos, mas à frente de um portão imponente de madeira de cerca de quatro metros de altura. As portas abriram-se lentamente e Marco entrou com o carro no pátio de um palácio magnífico.

As portas já se tinham fechado firmemente quando Marco saiu do carro e lhe abriu a porta para que saísse.

Apesar da agitação da cidade e do barulho do trânsito, no interior daquele pátio não se ouvia nada, e tanto silêncio era inquietante.

Lily ajustou as lapelas do casaco à volta do pescoço e virou-se para o motorista.

Mi scusi, signor, parla inglese?

– Não – respondeu, com brutalidade, e dirigiu-se para a parte traseira do carro para tirar a mala do porta-bagagem.

Obviamente, não ia ajudá-la.

Então, Lily começou a inquietar-se seriamente. Apercebeu-se de que, com todos aqueles cuidados no aeroporto de Inglaterra e durante o voo, se deixara invadir por uma sensação de falsa segurança e se fora embora do aeroporto Leonardo da Vinci com um homem que não conhecia e que quase não lhe dirigira a palavra depois de lhe dizer o nome. E fora ela que mencionara o conde e Felix, não Marco! Para além de tudo aquilo, o motorista acabara de a deixar no pátio de um edifício que, talvez, tivesse sido um palácio antigamente, mas que, na atualidade, bem poderia ser um bordel. Um bordel caro e exclusivo, mas um bordel.

Lily começou a lembrar-se de alguns artigos de imprensa sobre o tráfico lucrativo de mulheres, sobretudo, jovens de cabelo loiro e olhos azuis.

Com desassossego, virou-se para o motorista enquanto ele deixava a mala no chão empedrado do pátio.

Signor, tenho de…

– Isso é tudo. Obrigado, Marco.

Lily ficou paralisada ao ouvir aquela voz cheia de autoridade e levantou o olhar para a galeria superior. Ao ver um homem lá em cima, entre as sombras, ficou com falta de ar. Não conseguia ver-lhe a cara, mas distinguia a sua grande estatura e a sua aura de poder.

Talvez fosse o dono do bordel?

«Oh, pelo amor de Deus, Lily», pensou. Era óbvio que não era o dono de um bordel, visto que aquilo não era um bordel. Tinha de haver uma explicação razoável para ela estar ali e era evidente que aquele homem da galeria ia dar-lha, tendo em conta que se dirigira ao motorista num inglês perfeito.

Lily virou-se novamente para Marco para lhe pedir ajuda, mas apercebeu-se de que o motorista acabara de desaparecer no interior do palacete enquanto ela observava, como que hipnotizada, o homem da galeria.

E se aquela fosse a sua intenção? E se o que queria era distraí-la para que Marco pudesse desaparecer e tê-la à sua mercê?

– Oh, meu Deus – murmurou e gemeu ao ver o homem, que saiu de entre as sombras como se se tivesse apercebido dos seus pensamentos tumultuosos. Apoiou-se na balaustrada da galeria para a observar.

Certamente, era muito alto. Devia medir, pelo menos, um metro e noventa, o que queria dizer que tinha, pelo menos, mais trinta centímetros do que ela. E, quanto à aura de poder… Embora usasse um fato caro e uma camisa branca impecável com uma gravata cinzenta, o homem irradiava força. Tinha uns ombros muito largos, a cintura estreita e as pernas muito compridas.

No entanto, foi o seu rosto que hipnotizou Lily. Tinha o cabelo preto, a pele bronzeada e uns olhos muito claros. O nariz era reto e os lábios, carnudos. O queixo era quadrado e muito masculino e, em geral, as feições da cara dele eram angulosas.

Parecia que tinha saído de uma das suas fantasias. Era o homem que qualquer mulher quereria para si.

Ele arqueou uma das sobrancelhas perfeitas e sorriu, com ironia, ao responder ao seu comentário anterior.

– Receio que não me aproxime disso, menina Barton.

Sabia o seu apelido!

– Penso que tem a vantagem, senhor.

Ele inclinou a cabeça.

– Se me fizer o favor de esperar aí, descerei para me apresentar…

– Não!

– Não?

– Não – repetiu Lily. – Pode dizer-me quem e o que é de onde está neste momento.

– Quem e o que sou? – repetiu ele, num tom vagamente ameaçador.

– Sim, exatamente – insistiu Lily.

Ele percorreu-a com o olhar, desde o cocuruto até aos pés, com um sorriso de diversão.

– E quem pensa que sou, exatamente? – perguntou.

– Se soubesse, não teria necessidade de perguntar!

– Vejamos… – começou o homem, que continuava na galeria. – No aeroporto, entrou no carro de um homem que não conhecia e deixou que a trouxesse até aqui. Fez tudo isso sem saber quem ou o que estaria à sua espera no fim da viagem? – perguntou, com um olhar desdenhoso.

Ela franziu o sobrolho.

– Pensei que o motorista estava a levar-me para o apartamento do meu irmão. É evidente que devia ter tido um pouco mais de cautela…

– Só um pouco mais? Espero que não se importe que o diga, mas foi muito ingénua.

– Importo-me, sim – replicou ela. – E, se me trouxe aqui com ideia de pedir um resgate à minha família para me libertar, penso que devia dizer-lhe que o meu irmão, que é o meu único familiar vivo, é tão pobre como eu.

– A sério?

– Sim. E, agora, diga-me quem é e o que quer.

Ele abanou a cabeça com incredulidade.

– Não sabe?

– A única coisa que sei é que, assim que sair daqui, vou contar tudo à polícia.

– Então, não parece que me convenha deixá-la sair, não acha?

Lily apercebera-se disso assim que fizera a sua ameaça.

– Penso que é muito razoável que queira saber quem é.

– Certo – concedeu homem. – Sou o conde Dmitri Scarletti, menina Barton – apresentou-se. – E, neste momento, encontra-se no pátio do Palazzo Scarletti.

Oh!

O patrão do irmão.

O mesmo homem que organizara tudo para que ela recebesse os melhores cuidados durante a sua viagem.

E ela acabara de ameaçar acusá-lo de sequestro!