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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2014 Melanie Milburne

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

Cativa de ninguém, n.º 1602 - Abril 2015

Título original: At No Man’s Command

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6608-9

Editor responsável: Luis Pugni

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

Aiesha estava há uma semana em Lochbannon sem que a imprensa falasse do seu paradeiro. E quem se lembraria de a procurar nas Terras Altas escocesas, em casa da mulher cujo casamento tinha destruído dez anos antes?

Era o esconderijo perfeito e o facto de que Louise Challender se tivesse ausentado para visitar uma amiga doente significava que Aiesha tivera a casa ao seu dispor durante os últimos dias. Além disso, estando no pico do inverno, não havia sequer uma governanta ou um jardineiro que perturbasse a sua tranquilidade. Uma maravilha.

Fechou os olhos, inclinou a cabeça para trás e inspirou o ar gelado ao mesmo tempo que começavam a cair flocos de neve. O roçar de cada um deles era como uma carícia sobre a sua pele. Comparado com o ar viciado e o ruído incessante de Las Vegas, o ar gélido e sereno das Terras Altas era como um elixir que devolvia o entusiasmo aos seus sentidos exaustos.

Estar sozinha naquele lugar onde ninguém a encontraria permitia-lhe abandonar o palco e desfazer-se da personagem de vedeta de Las Vegas. Ali podia apagar do seu rosto a expressão de sedutora, que gritava aos quatro ventos que adorava cantar num clube noturno porque as gorjetas eram fantásticas e dispunha de manhãs livres para ir às compras, deitar-se junto da piscina e submeter-se a sessões de bronzeamento no solário.

Ali, nas Terras Altas, podia relaxar, organizar os seus pensamentos, entrar em contacto com a natureza, repensar os seus sonhos… A única coisa que estragava a sua felicidade era a cadela. Aiesha não se importava de se encarregar dos gatos, animais bastante fáceis de cuidar. Bastava-lhe encher-lhes a taça de comida e limpar-lhes a caixa da areia. Não tinha de os acariciar, nem de se tornar sua amiga. A maioria dos gatos é bastante distante, o que lhe parecia fantástico. Os cães são diferentes: querem aproximar-se, tornar-se nossos amigos, adorar-nos, saber que connosco estão seguros.

Aiesha olhou para os olhos castanhos da perdigueira que, sentada aos seus pés com devoção de escrava, esfregava a cauda contra o manto de neve.

A lembrança de outro par de olhos castanhos crédulos cravou-se-lhe no coração. Uns olhos que, apesar dos anos que tinham passado, continuavam a atormentá-la. Subiu a manga do casaco e olhou para o nome escondido no seu pulso, onde a tatuagem azul e vermelha lhe recordava de forma vívida e permanente que fora incapaz de proteger o seu único e melhor amigo. Aiesha engoliu o nó de culpa que se lhe tinha formado na garganta e olhou para a cadela com o sobrolho franzido.

– Porque não vais passear sozinha? Até parece que precisas que te mostre o caminho – afugentou o animal com a mão. – Vá, vai perseguir um coelho, uma doninha ou seja lá o que for!

A cadela continuou a olhá-la sem pestanejar e emitiu um pequeno ganido que parecia dizer-lhe: «Vem brincar comigo». Aiesha suspirou com resignação e pôs-se a andar em direção ao bosque.

– Anda, rafeira estúpida. Mas vamos só até ao rio. Parece que a neve vai solidificar esta noite.

James Challender atravessou os portões de ferro forjado de Lochbannon, que estavam cobertos de neve. A propriedade isolada era espetacular em qualquer estação do ano, mas no inverno convertia-se no País das Maravilhas. A mansão gótica, com os seus torreões e capitéis, parecia saída de um conto de fadas. Atrás, o bosque denso estava coberto de neve pura e branca, e o ar era tão frio e cortante que lhe ardia o nariz ao respirar.

As luzes da casa estavam acesas, o que significava que a senhora McBain, a governanta, adiara amavelmente as férias para cuidar de Bonnie enquanto a sua mãe visitava uma amiga que tinha sofrido um acidente no deserto australiano. James tinha-se oferecido para cuidar do animal, mas a sua mãe mandara-lhe uma mensagem apressada antes de entrar no avião na qual insistia em que estava tudo organizado e que não tinha de se preocupar. Não entendia porque é que a sua mãe não levava a cadela para um hotel para cães, como fazia toda a gente. Podia pagá-lo. Ele tinha-se assegurado de que não lhe faltasse nada desde que se divorciara do seu pai.

Lochbannon era demasiado grande para uma mulher de meia-idade divorciada com um cão e uns quantos empregados como única companhia, mas quisera dar um refúgio à sua mãe, um lugar que não tivesse nada a ver com a vida que levara no passado como esposa de Clifford Challender.

Embora tivesse insistido em que a propriedade estivesse em nome da sua mãe, James gostava de passar de vez em quando uma semana nas Terras Altas e assim fugir da agitação londrina. Fora por isso que tinha decidido ir até lá, apesar da insistência da sua mãe em que a cadela estaria bem cuidada.

Era o único lugar onde podia trabalhar sem distrações. Uma semana ali equivalia a um mês no seu escritório de Londres. Gostava da paz e da tranquilidade de estar sozinho.

Ali podia relaxar, pensar, tirar da cabeça as preocupações inerentes à direção de uma empresa que ainda estava a recuperar da má gestão do seu pai.

Lochbannon era um dos poucos lugares onde conseguia escapar da intrusão dos meios de comunicação. As repercussões da vida dissoluta do seu pai tinham-se estendido à sua própria vida. Os jornalistas estavam sempre a tentar encontrar algo escandaloso na sua vida que demonstrasse a teoria: «Tal pai, tal filho».

Ouviu os latidos de boas-vindas de Bonnie antes de desligar o motor. Caminhou sorridente até à porta principal. Havia algo confortável e acolhedor na receção entusiasta da cadela.

A porta abriu-se antes que tivesse tempo de introduzir a chave na fechadura. Uns olhos cinzentos pestanejantes olharam-no surpreendidos e indignados ao mesmo tempo.

– O que raio fazes aqui?

James afastou a mão da porta e ficou imóvel, como se a neve que caía atrás dele o tivesse congelado. Aiesha Adams. A Aiesha Adams de péssima reputação, beleza letal, atrativo impossível e comportamento indómito em pessoa.

– Tiraste-me as palavras da boca! – respondeu-lhe ele quando recuperou a fala.

À primeira vista, o seu aspeto não tinha nada de excecional. Com um fato de treino largo e sem maquilhagem, parecia uma rapariga normal. Cabelo castanho nem curto, nem comprido, nem liso, nem encaracolado. Uma pele limpa e sem rugas, com apenas duas pequenas cicatrizes, produto talvez da varicela ou de uma borbulha infetada, uma no lado esquerdo da testa e a outra na face direita. De estatura média e compleição magra, algo fruto de uns bons genes mais do que de disciplina pessoal na opinião de James.

Durante alguns instantes, pareceu-lhe que voltava a ter quinze anos. Mas, ao olhá-la mais atentamente, reparou na cor estranha e perturbadora dos seus olhos, que lhe conferia um olhar esfumado, tormentoso, cheio de sombras. O formato da sua boca tinha a capacidade de deixar os homens sem palavras: era suculenta como uma fruta amadurecida, puro pecado. Os seus lábios carnudos e juvenis eram tão perfeitamente delineados que doía vê-los e não lhes tocar.

O que estava a fazer ali? Teria arrombado a porta? E se alguém descobrisse que estava ali… com ele? O coração de James disparou. E se a imprensa o descobrisse? E se chegasse aos ouvidos de Phoebe?

Aiesha levantou o queixo num gesto que James conhecia muito bem e que parecia dizer: «Não exageres». A sua postura transformou o seu corpo de adolescente no de uma víbora tórrida e desafiante.

– Convidou-me a tua mãe.

A sua mãe? James franziu tanto o sobrolho que começou a doer-lhe a testa. O que se passava ali? A sua mãe não tinha mencionado Aiesha na mensagem. E porque ia convidar a rapariga que tanta dor lhe tinha causado no passado? Não tinha sentido.

– Foi muito atencioso da parte dela dadas as circunstâncias, não te parece? – perguntou. – Guardou as pratas e as joias?

Aiesha lançou-lhe um olhar furioso.

– Vieste com alguém?

– Eu não gosto de me repetir, mas voltaste a tirar-me as palavras da boca.

James fechou a porta para fugir do ar gélido e, ao fazê-lo, ficaram envoltos num ambiente silencioso e muito íntimo. Estar na intimidade com Aiesha Adams era perigoso, fosse qual fosse o sentido que desse à palavra «intimidade». Não queria sequer pensar nisso. Se já era prejudicial para a sua reputação que ambos estivessem no mesmo país, o que dizer de estarem sozinhos na mesma casa?

Ela emanava sensualidade. Usava-a como se fosse um manto que pudesse pôr e tirar quando lhe conviesse. Cada um dos seus movimentos estava carregado de sedução. Quantos homens se teriam encantado com aquele corpo sensual e aquela boca de Lolita? Inclusive com aquele olhar de fúria e o queixo levantado, continuava a parecer uma gata sedutora. James sentiu o sangue a correr-lhe pelas veias e uma excitação arrebatadora e inoportuna.

Agachou-se para acariciar as orelhas a Bonnie para se distrair e a cadela recompensou-o com um ganido e uma lambidela. Pelo menos, alguém estava contente por o ver.

– Alguém te seguiu até aqui? – perguntou Aiesha. – Jornalistas? Alguém?

James endireitou-se e lançou-lhe um olhar mordaz.

– Andamos a fugir de outro escândalo?

Ela apertou os lábios e olhou para ele com o desprezo de sempre.

– Não te faças de desentendida. Publicaram-no em todo o lado.

Haveria alguém que não soubesse? A notícia da aventura dela com um político casado norte-americano espalhara-se de forma viral. James tinha-o ignorado deliberadamente, ou, pelo menos, tinha tentado. Mas um repórter sem escrúpulos mencionara o papel que Aiesha tivera no fim do casamento dos seus pais. Tinham sido apenas duas linhas, que nem sequer todos os meios de comunicação tinham publicado, mas o desgosto e a vergonha que ele tinha tentado esquecer durante os últimos dez anos voltavam agora com mais virulência.

O que poderia esperar? Aiesha era uma criatura indomável que atraía o escândalo e assim fora desde que a sua mãe a levara para o lar familiar, resgatando-a das ruas de Londres quando a rapariga fugira de casa em adolescente. Era uma descarada disposta a causar problemas inclusive àqueles que tentavam ajudá-la. A sua mãe já tinha sofrido na pele as consequências da conduta vergonhosa de Aiesha, daí a sua perplexidade perante o facto de que lhe tivesse permitido ficar ali em casa. Porque teria a sua mãe convidado uma rapariga sem escrúpulos que, não satisfeita por lhe roubar as joias da família, também tinha tentado roubar-lhe o marido?

James tirou o casaco e pendurou-o no bengaleiro do vestíbulo.

– Pelo que vejo, os homens casados são o teu ponto fraco.

Sentiu o olhar cinzento a cravar-se-lhe entre as omoplatas e, de repente, acelerou-lhe o pulso. Excitava-o pô-la nervosa. Ele era a única pessoa com quem ela não conseguia esconder o seu verdadeiro eu. Era um autêntico camaleão que mudava de aspeto em função dos seus interesses. Quando lhe convinha, recorria a todos os seus encantos, cativava a sua vítima seguinte e deleitava-se com o jogo de conseguir outro coração… e outra carteira.

Mas ele era imune. Tirara-lhe a pinta desde o início. Por muito que tivesse conseguido livrar-se do sotaque da zona este de Londres e da roupa barata, por dentro continuava a ser uma carteirista cujo objetivo era crescer na vida deitando-se com quem fosse preciso. A sua última vítima fora um senador americano cuja carreira e casamento estavam a desmoronar-se em consequência. A imprensa fotografara o instante em que Aiesha saía do quarto que o senador ocupava num hotel de Las Vegas onde ela cantava à noite.

– Ninguém deve saber que estou aqui – disse. – Entendeste? Ninguém.

James alisou cuidadosamente as mangas do casaco e deu meia-volta. Ela continuou a olhá-lo com ódio, mas havia algo mais nos seus olhos. Incerteza ou, talvez, medo? Fosse o que fosse, apressou-se a disfarçá-lo. Levantou o queixo e franziu os lábios carnudos.

Sempre o tinha fascinado aquela boca suculenta e desejável. Uma boca feita para o sexo, a sedução e o pecado. Quase lhe pareceu sentir aqueles lábios a fecharem-se sobre a sua pele, o que lhe provocou um tremor nos joelhos. Contendo um estremecimento traiçoeiro de desejo, obrigou-se a deixar de pensar naquela boca, naquele corpo e na lascívia que ardia no seu interior.

– Ninguém vai encontrar-te aqui porque te vais embora.

Ela seguiu-o até à sala de estar. Os seus pés descalços deslizavam pelo tapete persa, que amortecia os seus passos de leoa à espreita.

– Não podes mandar-me embora. Esta casa é da tua mãe, não é tua.

Cruzou os braços, oferecendo o mesmo aspeto de adolescente ressentida e mal-humorada de há uma década. Só que agora tinha vinte e cinco anos.

Ele olhou-a de cima a baixo, sem pressa, como se inspecionasse um artigo barato e de mau gosto que não tinha a mínima intenção de comprar.

– Faz as malas e sai daqui.

Ela semicerrou os olhos como uma gata selvagem enfrentando um lobo.

– Não me vou embora.

O sangue de James buliu-lhe nas veias e sentiu no sexo os rescaldos de um fogo que nunca tinha chegado a apagar-se. Odiou-se por isso. Era uma demonstração de fraqueza que o reduzia ao nível de um animal selvagem sem outro instinto que o de acasalar com a primeira fêmea disposta e disponível. Mas ele não era igual ao seu pai. Era capaz de controlar os seus impulsos. Aiesha tinha tentado seduzi-lo dez anos antes, mas não tinha mordido o anzol. E também não ia fazê-lo naquele momento.

– Estou à espera de uma pessoa – anunciou.

– De quem?

– A mulher com quem vou casar-me vem passar o fim de semana aqui. E tu estás a mais.

Ela soltou uma gargalhada estrondosa e agarrou-se ao estômago como se o que acabava de ouvir fosse a piada mais divertida que alguma vez lhe tinham contado.

– Estás a dizer que pediste em casamento aquela herdeira emproada e presunçosa que não faz outra coisa senão gastar o dinheiro do papá em High Street?

James apertou os dentes com tanta força que receou parti-los.

– Phoebe patrocina várias instituições de beneficência de renome.

Aiesha continuava com a gargalhada tola de adolescente travessa e James ficou tenso. Que típico dela rir-se da decisão mais importante da sua vida! Tinha escolhido a sua futura esposa depois de muito pensar. Phoebe Trentonfield tinha dinheiro próprio, o que lhe garantia que não era uma caçadora de fortunas. Encontrar uma mulher que o quisesse pela sua pessoa e não pelo seu dinheiro fora algo muito difícil ao longo da sua vida adulta. Era a primeira condição que procurava numa mulher. Tinha trinta e três anos e queria assentar, criar um lar estável como o que tinha acreditado ter até as aventuras do seu pai chegarem a público. Queria que a sua mãe tivesse a experiência de ser avó. Queria uma mulher que se contentasse em desempenhar o papel de esposa tradicional, enquanto ele se dedicava a reconstruir o império Challender que o seu pai tinha delapidado loucamente. Desejava uma vida estável e previsível, sem caos, nem escândalos. O seu pai era impulsivo, mas ele não era. Sabia o que queria e contava com a determinação e a força de vontade para o conseguir e o manter.

Aiesha aguilhoou-o com o olhar.

– O que vai dizer quando descobrir que estás aqui comigo?

– Não vai descobrir nada porque tu te vais embora amanhã de manhã.

Ela apoiou uma mão numa das suas ancas de modelo, enquanto os seus lábios se curvavam num sorriso zombador.

– Portanto, não vais ser mau ao ponto de me dar um pontapé no rabo e atirar-me para a neve esta noite…

Por ele, enterrá-la-ia na neve a três metros de profundidade. Assim, não teria a tentação de lhe tocar. E, quanto menos pensasse no seu pequeno rabo curvilíneo, melhor.

Como ia conseguir tirá-la dali? Não podia expulsá-la àquela hora da noite, com as estradas tão escorregadias e perigosas. Até a ele lhe custara chegar a casa. Havia um motel na cidade vizinha, mas fechava durante o inverno. O hotel mais próximo ficava a meia hora dali. Com aquelas condições meteorológicas, a uma hora.

– O teu carro tem correntes? – perguntou.

– Não vim de carro. A tua mãe foi buscar-me ao aeroporto de Edimburgo.

No que estava a pensar a sua mãe? Aquela situação parecia cada vez mais absurda. Não tinha a mínima ideia de que a sua mãe tivesse mantido o contacto com Aiesha ao longo daqueles anos. No que estava a pensar ao colocar a filha do diabo novamente nas suas vidas?

Seria aquilo uma armadilha? Uma brincadeira de mau gosto?

– Muito bem, eu levo-te de volta ao aeroporto amanhã de manhã – anunciou. – Os teus dias de cuidadora de casa e cão acabaram.

Ela aproximou-se com movimentos sedutores e deslizou o dedo por um dos seus tendões que tinham ficado salientes ao fechar os punhos com força.

– Relaxa, James. Estás muito tenso. Se precisares de um escape para tanta pressão… – disse, batendo as pestanas muito compridas – só tens de me chamar, está bem?

James suportou, sem desfalecer, a corrente elétrica que lhe provocou o contacto da sua pele. Resistiu à vontade de olhar para a sua boca, onde a ponta da língua rosada deixara um rasto húmido e brilhante. Proibiu-se de a empurrar contra a parede mais próxima e dar rédea solta à luxúria fazendo o que sempre quisera fazer-lhe. Cada uma das células do corpo vibravam-lhe de desejo e punha-o doente suspeitar que ela o sabia.

– Desaparece-me da frente!

Os seus olhos brilharam, pícaros.

– Adoro que me falem nesse tom – disse, simulando um calafrio que agitou os seus seios sob o pulôver. – Excita-me imenso.

James fechou os punhos com tanta força que lhe doeram as articulações.

– Quero-te pronta às sete. Entendido?

Ela dedicou-lhe outro sorriso sedutor que lhe abrasou o sexo.

– Não te livrarás de mim tão facilmente. Não ouviste o boletim meteorológico esta noite?

O pânico invadiu James. Tinha-o ouvido no carro meia hora antes, mas na altura agradara-lhe a ideia de ficar preso pela neve durante alguns dias. Assim, poderia dar os últimos toques aos desenhos do projeto Sherwood antes de Phoebe chegar para passar o fim de semana.

Olhou para Aiesha com um ódio tão intenso que lhe arderam os olhos.

– Tinhas tudo planeado, não tinhas?

Ela puxou a cabeleira castanha para um dos seus ombros e voltou a soltar uma gargalhada.

– Achas que tenho o poder de manipular o tempo à minha vontade? Lisonjeias-me, James.

Ele conteve o fôlego enquanto ela avançava para as escadas meneando as ancas. O desejo carnal rugiu dentro do seu corpo, mas não estava disposto a deixá-la ganhar. Mesmo que a neve os deixasse encurralados durante um mês, resistiria. Não ia ceder a ela de forma alguma. Nem pensar!