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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2012 Rebecca Winters

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

A governanta, n.º 1460 - Janeiro 2015

Título original: The Racher’s Housekeeper

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-6001-8

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

 

Colt Brannigan beijou a mãe na face.

– Vemo-nos esta noite – despediu-se, e virou-se para a pessoa que cuidava dela. – Liguei para o serviço de assistência em Sundance e enviarão alguém nos próximos dias para te ajudar com ela.

– Muito bem – replicou Ina. – Hank dá-me uma ajuda, sempre que tem um pouco de tempo livre.

– Fico feliz. Vemo-nos esta noite.

A mãe de Colt, uma mulher de sessenta anos, já não conhecia ninguém. Tinham-lhe diagnosticado Alzheimer depois da morte do marido, há dezasseis meses, mas piorara no último ano e precisava de cuidados permanentes.

– Colt?

Ele fechou a porta do quarto ao ouvir a voz do irmão Hank.

– Diz.

– Há uma chamada para ti da diretora da prisão de Pierre.

A diretora da prisão?

– Deve ter-se enganado no número – concluiu Colt.

Passou ao lado do irmão para sair pela porta das traseiras e Hank seguiu-o, a passo lento, devido à perna engessada.

– Puseste um anúncio no jornal a pedir uma governanta e ela quer saber se já contrataste alguém.

– Diz-lhe que sim.

– Mas…

– Nada de «mas» – interrompeu-o Colt.

Antes de o pai morrer por causa de um coágulo nos pulmões, fizera um favor ao comissário de Sundance que viera a lamentar.

O comissário pedira-lhe para contratar, como peão, um prisioneiro recém-saído da prisão e o tipo ficara o tempo suficiente para receber um cheque, levar a manta da sua cama, o dinheiro dos outros peões e, sobretudo, um dos cavalos do rancho.

Colt localizara-o e, para além de recuperar o cavalo, certificara-se de que voltava para a prisão. Infelizmente, a percentagem de ex-condenados que acabava na prisão era muito alta, e ele, que depois da morte do pai geria o rancho Floral Valley, não cometeria os mesmos erros.

– Vou estar a tratar das cercas todo o dia e só voltarei a casa tarde. Liga-me se houver alguma emergência – Colt dirigiu-se para o estábulo e afastou-se a galopar com Digger.

Precisava de uma mulher com caráter para gerir um rancho como aquele. De facto, precisava de uma santa, mas havia poucas que se candidatassem para um emprego como governanta. Colt sabia que nunca poderiam substituir Mary White Bird, a mulher da tribo Lakota que fora o braço direito da mãe e fazia parte do rancho. Mary morrera há um mês e, para além de perder a melhor governanta do mundo, tinham perdido uma amiga.

Colt pusera vários anúncios em jornais de Wyoming e Dacota do Sul, mas, naquele momento, nenhuma das candidatas era o que procurava e estava a começar a desesperar. No entanto, não o suficiente para contratar uma ex-presidiária.

 

 

Rancho Floral Valley, 6 quilómetros.

Geena Willians passou à frente do cartaz com a sua bicicleta e procurou o desvio. No armazém de Sundance, Wyoming, um velho ganadeiro dissera-lhe que devia estar atenta ou não o veria e tinha razão porque estava escondido entre as árvores. Dali, teria de seguir um caminho de terra.

Cansada, deteve-se por um instante para respirar fundo e beber um pouco de água. Durante o dia, a temperatura fora muito alta, com um pouco de vento à tarde, típico do mês de junho no norte de Wyoming, mas baixara à tarde e o seu casaco em segunda mão não servia de muito.

Embora o tempo tivesse cooperado, fora a adrenalina que a levara até ali. E o desespero teria de a ajudar a fazer o resto do caminho. Quase não tinha força nas pernas por causa do cansaço, mas precisava de chegar ao rancho antes de anoitecer.

Meia hora depois, viu um grupo de edifícios à frente dela, mas já passava das dez e não se atrevia a bater à porta tão tarde, de modo que desceu da bicicleta e deixou-a apoiada contra o tronco de um pinheiro.

Na mochila que tinha às costas, estavam todas as suas posses… Não, isso não era verdade. Tinha algumas coisas que eram preciosas para ela, mas ainda não sabia onde estavam ou quem as levara.

Suspirando, tirou a mochila para tirar uma manta térmica que esticou na erva e, usando a mochila como almofada, decidiu deitar-se um pouco, ainda surpreendida por, naquela noite, o seu teto ser um céu cheio de estrelas. Conseguia ver Vénus a oeste…

Era incrível, olhar para o céu.

 

 

– Vamos, Titus, está na hora de dormir – declarou Colt Brannigan, enquanto fechava a porta do estábulo.

O border collie corria à frente dele com uma energia incrível. Titus tinha uma vida perfeita para um cão. Era amado por todos, corria e trabalhava todo o dia, comia o que queria e não tinha uma só preocupação. Por isso ia dormir feliz e acordava igualmente feliz.

Quanto a ele próprio, não se descreveria como uma pessoa feliz, embora tivesse sido uma vez, durante algumas semanas. Apaixonara-se aos vinte e um anos, quando era uma estrela do rodeo.

Mas o «viveram felizes para sempre» não funcionara porque tinha obrigações no rancho e a sua mulher já não se divertia. O casamento durara onze meses, certamente, um dos mais curtos na história do condado de Crook, no Wyoming.

Aos trinta e quatro anos, Colt reconhecia o seu erro. Cheryl e ele eram muito jovens e imaturos e, simplesmente, não funcionara. Desde então, saíra com mulheres de vez em quando, mas não tinha a menor pressa por voltar a casar-se.

De repente, o cão afastou-se da casa e, quando começou a ladrar, Colt foi atrás dele. E os seus latidos avisavam-no de que havia um estranho na propriedade.

– Calma, lindo – ouviu uma voz feminina.

Titus era um santo, mas ouvir os seus latidos na escuridão devia ser aterrador para alguém que não o conhecesse.

A estranha estava deitada sob o pinheiro enorme que o avô plantara há cinquenta anos, embrulhada numa manta térmica que a tapava dos pés à cabeça.

Colt viu uma bicicleta apoiada no tronco da árvore e uma mochila no chão.

– Cala-te, Titus! – ordenou. Se aquela mulher era uma amante da Natureza, enganara-se no caminho. – Estás bem?

– Sim… sim… – gaguejou ela. – O cão assustou-me.

Tinha uma bonita voz, uma voz juvenil, e o facto de não parecer histérica depois do susto era uma surpresa.

– Pode saber-se o que fazes a dormir aqui? Podias ter sido atacada por algum animal, há pumas nesta zona.

Ela baixou a manta, revelando o seu rosto.

– Cheguei tarde e não queria incomodar ninguém, portanto, decidi dormir sob a árvore.

– Vinhas para este rancho em concreto?

– Sim, mas devia ter esperado pela manhã. Lamento.

A desculpa parecia sincera e falava num tom educado, embora isso não lhe desse nenhuma pista da razão por que estava ali. Colt inclinou-se para pegar na mochila, que era inesperadamente leve e vira dias melhores.

– Não sei porque vieste, mas não posso permitir que durmas aqui. Deixa a bicicleta e segue-me, estarás mais segura em casa.

– Não quero incomodar.

Não estava a incomodar, mas estava a chamar a sua atenção de uma maneira surpreendente.

– De qualquer forma, tens de vir comigo. Vamos.

O estranho trio entrou na casa uns minutos depois e Titus foi comer. Depois disso iria para o escritório para dormir debaixo da poltrona do pai de Colt, como fazia sempre. O seu pai morrera, mas ele tinha a impressão de que o animal continuava à espera que voltasse. Talvez Titus não fosse assim tão feliz…

Colt pousou a mochila na mesa da cozinha e, pelo canto do olho, viu-a a tirar a manta. Era alta, provavelmente, um metro e setenta e oito, pensou. Depois de a dobrar, deixou-a na mesa e tirou o casaco velho. Devia ter uns vinte e cinco anos e, à exceção das sapatilhas brancas, tudo o que usava, das calças de ganga à camisola azul, parecia velho e demasiado largo para ela. O cabelo castanho estava apanhado numa trança com um elástico simples e não tinha maquilhagem ou joias.

Colt pensou que o rosto dela lhe era familiar, mas parecia excessivamente magra. Teria estado doente? Tinha as faces afundadas, as maçãs do rosto muito pronunciadas. E, apesar disso, sentia-se estranhamente atraído por aqueles olhos azuis preciosos e expressão triste, rodeados por umas pestanas tão escuras como as suas sobrancelhas e o seu cabelo. Porque estava triste, não podia imaginar.

Se estava a fugir de alguma situação traumática, não o demonstrava. Antes pelo contrário, mantinha a cabeça orgulhosamente erguida… Fazia-o pensar num quadro por acabar que precisava de um pouco mais de trabalho antes de ganhar vida. E isso era algo que o intrigava.

– Podes usar a casa de banho – ofereceu, apontando para uma porta.

– Obrigado – murmurou ela. – Desculpe-me por um instante.

Quando a estranha entrou na casa de banho, Colt apoiou-se na bancada da cozinha, intrigado.

Hank fizera café, mas não estava ali, de modo que, certamente, estaria no quarto da mãe. Enquanto tirava duas chávenas do armário, a jovem voltou à cozinha.

– Posso oferecer-te um café. Ou preferes um chá?

– Café, por favor.

Colt serviu duas chávenas.

– Açúcar, leite?

– Por favor, não se incomode. Posso bebê-lo assim.

Ele voltou à mesa com as duas chávenas.

– Pus leite e açúcar no teu. Parece que precisas de um pouco de força.

– Tem razão. Obrigada, senhor…

– Colt Brannigan – Colt bebeu um gole de café.

Ela segurou a chávena com as duas mãos e bebeu um gole com os olhos fechados, quase como se estivesse a criar uma lembrança. Surpreendido, Colt continuou a observá-la. Na sua opinião, precisava de três refeições por dia e durante muito tempo.

– Vais dizer-me quem és?

Ela assentiu com a cabeça.

– O meu nome é Geena Willians.

Colt pensou que o nome lhe era familiar, ainda que não soubesse porquê.

– Bom, Geena, talvez, se te fizer uma sanduíche de presunto, possas contar-me o que fazias a dormir na minha propriedade.

– Lamento muito – desculpou-se. E Colt pensou que não conhecia ninguém que se desculpasse tanto. – Esta manhã, saí da prisão de Pierre, no Dacota do Sul, e vim diretamente para o seu rancho. Esperava fazer uma entrevista para o lugar de governanta, mas demorei mais do que pensava a chegar aqui.

Aquelas palavras foram como um pontapé no seu estômago. Num segundo, tudo começou a fazer sentido, começando pela chamada da diretora da prisão de Pierre naquela manhã. Mas a bicicleta apoiada na árvore não condizia com a roupa velha… Tê-la-ia roubado?

Geena Willians era uma ex-presidiária. E, ao pensar isso, sentiu uma desilusão inexplicável.

– O lugar continua livre? – a esperança que havia naquela pergunta, como se a resposta significasse a vida para ela, quase o comoveu.

E Colt teve de endurecer o seu coração.

– Receio que não.

Todos tinham um passado, mas ter estado na prisão era outra questão. Ele estava à procura de uma governanta que fosse como Mary White Bird, a mulher sensata e de absoluta confiança que ajudava a mãe a gerir a casa desde que ele era um pirralho.

Mary tinha uma habilidade especial para lidar com os peões e os convidados, já para não falar das diferentes personalidades teimosas do clã Brannigan.

Quanto a Geena… era muito jovem e estivera na prisão. Não sabia que delito cometera, mas sabia que contratá-la estava fora de questão.

Colt percebeu que os olhos dela se humedeciam, mas não derramou uma só lágrima.

– Foi muito amável comigo, mas vejo que cometi um erro ao vir sem telefonar primeiro.

Ele franziu o sobrolho.

– A diretora da prisão ligou esta manhã, mas o meu irmão disse-lhe que o lugar já estava ocupado. Parece que houve um problema de comunicação… Enfim, lamento muito que não lho tenha dito.

Olhou para ele, perturbada.

– Não sabia que tinha ligado, mas imagino que a senhora James estava a tentar ajudar-me a encontrar trabalho. Assim que saí da prisão, procurei o Rapid City Journal e vi o seu anúncio… vi que o tinha posto há uns dias e temi que o lugar já estivesse ocupado, mas decidi arriscar a vir diretamente.

Embora estivesse a dizer a verdade, não importava. Não havia trabalho ali para outro ex-presidiário… Embora se sentisse intrigado.

– Não tens um marido ou um namorado, alguém que possa ajudar-te?

– Não sou casada. E estava a sair com um homem antes de ir para a prisão, mas desapareceu quando me condenaram.

Colt pensou que a sua relação não podia ter sido assim tão sólida.

– Não tens nenhum parente?

– Não, nenhum – replicou, com os olhos toldados.

Não tinha ninguém?

Colt passou uma mão pelo cabelo, incapaz de imaginar que alguém não tivesse parentes… A menos que estivesse a mentir, claro. Talvez tivesse vergonha de voltar a casa por causa do que fizera. Claro que ele nunca passara por algo parecido, de modo que não seria justo julgá-la.

– Como chegaste até aqui? – quis saber. O anúncio só dizia que o rancho era perto de Sundance, no Wyoming. E não indicava a morada, só uma caixa postal.

– Sei que devia ter escrito uma carta para a caixa postal, mas não tinha acesso a nenhum computador – respondeu ela. – Quando o autocarro me deixou em Sundance, pensei que se alguém soubesse indicar-me onde era o rancho, o melhor seria vir diretamente. Portanto, comprei a bicicleta e fui ao armazém de gado. Indicaram-me como chegar.

– Ah, claro.

– Todos conheciam Colt Brannigan, o dono do rancho Floral Valley, e falavam muito bem de si.

– Vieste até aqui pela estrada, de noite?

– Sim, mas quando saí de Sundance não era de noite. Precisava de um meio de transporte e, como tenho de renovar a carta de condução, não posso comprar um carro.

– E a bicicleta nova não era muito cara?

– Sim, mas estava em saldo, custou quinhentos e trinta dólares, e deram-me um capacete em segunda mão por dez. Devia ter comprado roupa nova, mas só restavam cento e sessenta dólares porque gastei um pouco em comida, na manta térmica e nas sapatilhas.

Colt pestanejou.

– Imagino que ganhaste esse dinheiro na prisão.

– Sim, claro. Pagavam-me vinte e cinco cêntimos por hora de trabalho. Quarenta dólares por mês durante os treze meses que estive encarcerada.

Treze meses no inferno. Que crime teria cometido?

– De modo que vieste aqui com quinhentos e vinte dólares no bolso.

– Na verdade, setecentos. Trabalhei horas extras e, além disso, dão-nos cinquenta dólares quando saímos da prisão.

Colt decidiu que não voltaria a queixar-se por parte dos seus impostos serem para os ex-presidiários que pagaram a sua dívida para com a sociedade.

– Então, quanto dinheiro tens?

– Noventa e dois dólares. É por isso que preciso de um trabalho desesperadamente – explicou. – Asseguro-lhe que sou uma boa cozinheira. Na prisão, ajudava na cozinha… Embora também fizesse tarefas de limpeza, me encarregasse do armazém, da enfermaria e do pátio. Fiz de tudo. Sou uma boa trabalhadora, senhor Brannigan. Se ligar para a prisão, vão dizer-lhe que trabalhava mais de quarenta horas por semana e que nunca tive uma só sanção. Conhece alguém que tenha um emprego para mim?

Se conhecia alguém? Estava a olhar para alguém que precisava urgentemente de uma governanta.

Colt passou uma mão pelo pescoço, surpreendido por estar a considerar a possibilidade de a contratar quando não sabia nada dela, exceto que estivera na prisão. Talvez fosse a vulnerabilidade que via naqueles olhos azuis…

Antes de dizer mais, Titus entrou na cozinha para cumprimentar Hank, que acabara de entrar pela porta de trás com Mandy. E isso surpreendeu-o, pois pensava que Hank estaria com a mãe.

Estava tão concentrado na conversa com Geena que não ouvira chegar o carro de Mandy. Como Hank tinha uma perna partida, ela levava-o onde tinha de ir.

– Olá, Colt!

– Olá!