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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

© 2012 Fiona Harper

© 2015 Harlequin Ibérica, S.A.

És a única, n.º 1461 - Fevereiro 2015

Título original: Always the Best Man

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Bianca e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

I.S.B.N.: 978-84-687-6005-6

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Se fosse uma mulher, Damien Stone ter-se-ia transformado no bobo da corte. Dizia-se que ser dama de honor três vezes trazia azar. Duplicar esse número de vezes significava condenar-se ao celibato eterno. As tias ter-lho-iam recordado, rindo-se, à menor oportunidade e ter-lhe-iam dito que devia espevitar antes de ser demasiado tarde.

Mas ninguém cometera o erro de pensar que Damien era uma rapariga e ele nunca fora dama de honor. Ninguém parecia importar-se com o facto de ser padrinho de casamento tantas vezes. Em todo o caso, os outros homens davam-lhe palmadas nas costas e felicitavam-no por semelhante sucesso. Não, Damien não acreditava que aquilo trouxesse azar.

Significava que os amigos o respeitavam, que o consideravam um aliado incondicional. Era preciso ser uma pessoa especial para acompanhar um amigo até ao altar enquanto se preparava para pronunciar umas palavras que mudariam a sua existência por completo, portanto, supôs que devia sentir-se adulado.

Mas, acima de tudo, sentia-se agradecido, já que ia poder usar toda a sua experiência para sobreviver a esse dia.

Pela sexta vez, tinha uma flor na lapela e encontrava-se ao lado de um bom amigo. Pela sexta vez, estava junto do altar de uma linda igreja de pedra, no silêncio prévio à entrada da noiva. Mas era a primeira vez que lhe suavam as mãos e o coração acelerava como louco.

Porque era a primeira vez que a pessoa que estava à porta da igreja, prestes a percorrer o corredor para onde ele se encontrava, era a mulher dos seus sonhos.

Virou-se e olhou para Luke, o seu melhor amigo, e Luke esboçou um sorriso de ânimo e tocou-lhe nas costas. Damien engoliu em seco. Alegrou-se por Luke estar ali. Pensava que não teria conseguido superar aquele dia se qualquer outra pessoa estivesse ao seu lado.

Tentou sorrir, mas os nervos impediram-no. Os olhos de Luke brilharam, travessos, e Damien pensou que o amigo ia fazer um dos seus típicos comentários irónicos, mas, nesse momento, houve um movimento atrás dele. Fila atrás de fila, as cabeças dos convidados começaram a virar-se para a entrada da igreja e o órgão começou a tocar.

Ao princípio, não conseguiu virar-se, pois tinha de se preparar para o que estava prestes a ver. Chegara a hora. Não podia voltar atrás.

Só quando Luke lhe acotovelou ligeiramente as costelas é que respirou fundo e olhou por cima do ombro.

Ela estava perfeita.

Nem sequer reparou no vestido. Só nela.

Contudo, Sara Mortimer sempre lhe parecera maravilhosa. Fora assim desde a primeira vez em que a vira no outro extremo de um bar cheio de gente, a rir-se com Luke, e sentira-se como se um camião o atingisse.

Depois daquele dia, o resto do mundo também não duvidaria da sua perfeição. O vestido de cetim branco era pura elegância e tinha o cabelo loiro apanhado num coque alto. A cabeça estava coberta por um véu e uma tiara simples e tinha um ramo de lírios presos com uma fita branca.

Sara era desenvolvida, elegante, inteligente e amável. Ele era incapaz de lhe encontrar defeitos, à parte do seu gosto em relação aos homens. Expirou o ar que estivera a suster e voltou a inspirar.

Pareceu-lhe que passavam séculos até as damas de honor acabarem de passar, flutuando numa nuvem de ouro. Bom, a maioria flutuava. A primeira-dama de honor rebolava demasiado para fazer uma coisa tão graciosa.

Damien nunca compreendera porque Sara e Zoe eram amigas. Sara era esbelta, elegante e sofisticada e Zoe era… demasiado de tudo. Demasiado veemente, demasiado desinibida. Demasiado apertada no seu espartilho, se os seus olhos não o enganavam. Seria legal que o vestido de uma dama de honor tivesse tanto decote?

Por alguma estranha razão, a mera presença dela irritava-o. Ou seria a intensidade do seu perfume? Ao ver que ele olhava para ela, a expressão tornou-se insolente. Sabia que ele não a suportava. Não podia deixá-lo passar, mesmo que fosse apenas naquele dia? Tinha a certeza de que o fazia de propósito para o provocar.

Sara chegara ao altar enquanto ele estava distraído, o que o exasperou ainda mais.

Por sorte, naquele momento, a última das damas de honor afastou-se e pôde vê-la. Esqueceu tudo o resto. Sara era como uma rajada de ar fresco num dia quente de verão. À medida que se aproximava, esboçou o mais delicado dos sorrisos. Porém, não teve oportunidade de sorrir, porque os nervos o tinham deixado paralisado. No entanto, os seus olhos encontraram-se por um instante e algo surgiu fugazmente entre eles. Algo agridoce que o perseguiria durante as noites de insónia dos anos vindouros.

Porque, depois, o olhar de Sara pousou no homem que estava ao lado de Damien e o pai da noiva pousou a mão da filha sobre a de Luke, antes de se retirar. Damien ficou esquecido, afastado da mente de alguém pela presença de outra pessoa.

A noiva e o noivo avançaram com o olhar ansioso fixo no sacerdote. Todos os olhos se pousaram em Sara e em Luke, o casal feliz, e Damien teve de fechar os olhos por um instante e deixar que os seus dedos apertassem com força o anel que tinha no bolso.

O anel de Luke. Para Sara.

Não, se fosse qualquer outro, ele não conseguiria ter superado aquele dia. Não conseguiria ter estado ali a ver como Sara se casava com outro. Se se tivesse recusado a ser o padrinho quando Luke lho pedira, ter-lhe-ia perguntado o porquê e Damien não estava disposto a permitir que Luke ou Sara conhecessem os seus sentimentos por ela, nem os que tinham crescido ao mesmo tempo que os de Luke, à medida que se apaixonava pela noiva do melhor amigo.

Conseguira escondê-lo durante os últimos dezoito meses e não tencionava estragar tudo no último momento. Não, Luke nunca saberia.

Damien Stone devia ser, naquele dia e mais do que nunca, o padrinho perfeito.

 

 

Tilly, a prima de Sara, cravou os caules do seu ramo nas costelas de Zoe. Zoe tentou ignorá-la, mas Tilly inclinou-se para a frente e sussurrou-lhe, por trás dos lírios.

– O padrinho é muito bonito – afirmou, olhando para o corredor. – Tens sorte. Como primeira-dama de honor, tens preferência.

Zoe não conseguiu evitar olhar para o homem de que Tilly falava.

– Se for o teu tipo… – murmurou para Tilly.

Se gostasse de homens altos, morenos e bonitos. Se gostasse de homens com as pernas compridas, compleição forte e com aquela atitude distante tão incómoda. Se o achasse atraente, mesmo com boca aberta enquanto cantava uma das notas do hino. Intocável! E Zoe nunca se sentira atraída por alguém que era demasiado bom para ser tocado, alguém afastado do resto do mundo, como se estivesse por trás de um vidro e exibido num museu. Tinha de viver a vida plenamente, enlamear-se a cem por cento.

– O quê? – balbuciou Tilly, esquecendo-se de tapar a boca com o ramo. Ganhou o olhar de reprovação da mãe da noiva. – Não tens olhos na cara? – acrescentou Tilly, ignorando o olhar da tia.

Zoe revirou os olhos e abanou ligeiramente com a cabeça, mas bastou para que outra madeixa encaracolada lhe caísse sobre a cara. Estava prestes a soprar para a afastar quando se apercebeu de que a tia de Tilly estava a olhar para ela, portanto, pô-la delicadamente atrás da orelha.

O seu olhar viu-se atraído de modo inexplicável para o objeto da discussão.

Não, não era que não tivesse olhos na cara. Simplesmente, não era estúpida.

Sabia que ele não a suportava. Tentava escondê-lo, claro, e fazia-o bastante bem, mas recebera aquele tipo de comportamento durante tempo suficiente para reconhecer a desaprovação assim que a via.

Desdém. Essa era a palavra.

E aquele brilho desdenhoso no olhar do senhor Perfeito, quando olhava para ela, despertava a vontade de o provocar. E Zoe não era das que resistiam quando sentia vontade de fazer alguma coisa. A vida era muito curta. Por uma vez, desejava vê-lo perder a frieza, ver fogo em vez de gelo naqueles olhos azuis. Estivera muito perto de o conseguir antes, mas «perto» não era suficiente. O que Zoe queria realmente era ver foguetes.

Porém, não seria naquele dia, infelizmente. Não faria nada que pudesse incomodar Sara, já que a pobre iludida pensava que o senhor Damien Stone era um ser maravilhoso. Não tanto como Luke, claro, mas Zoe calculava que, para Sara, ocupava um segundo lugar. Virou-se para Tilly e fingiu que vomitava, para lhe mostrar o que pensava da sugestão que lhe fizera. Ena! A mãe de Sara olhava para elas com os dentes cerrados, portanto, olhou para o casal feliz, apertou o ramo com força e começou a cantar docemente.

O senhor Perfeito devia ter-se apercebido do movimento, porque virou ligeiramente a cabeça para olhar para ela. Zoe ignorou-o. Ignorou a faísca que viu nos olhos dele, justo antes de a esconder rapidamente. Ela adotou a sua expressão mais angelical e cantou em voz alta, reconfortada ao imaginar que conseguia ouvir como o sangue de Damien Stone fervia.

Desejava muito ver os foguetes!

«Mas esta noite não, Zoe. Deixa-o estar.» A explosão de Damien Stone teria de esperar… Naquele momento.

Mas isso não significava que não pudesse meter-se um pouco com ele, pois não?

 

 

– Não vais comer isso?

Damien observou o prato. Recordava ter comido um pouco, mas não se lembrava de ter espalhado a comida pelo prato daquele modo. Deitou os ombros ligeiramente para trás porque se sentia como se o casaco do fato tivesse encolhido.

– Passa-se alguma coisa com a tua sobremesa?

Virou-se e olhou para a dama de honor, que estava sentada ao seu lado na mesa principal. A disposição das pessoas parecia absurda. Nunca antes, nos cinco casamentos anteriores, o tinham sentado junto da primeira-dama de honor.

– Nada – respondeu, amavelmente. Com muita amabilidade. – Estava muito boa… mas era demasiado pequena. É por isso que estou a pedir-te a tua, se é que não vais fazer as honras.

Damien lançou um olhar fulminante ao seu prato, como se aquela sobremesa remexida tivesse a culpa da situação. Depois, empurrou-o em direção a Zoe, aguentando a vontade de fazer um comentário sobre corpos apertados em corpetes.

– Estás à vontade…

– Obrigada.

Ela lançou-se ao ataque diretamente, coisa que irritou Damien. Em breve, poderia escapulir-se à procura de um uísque só para lubrificar os músculos petrificados do rosto. Tinham ficado encaixados num sorriso forçado quando Sara pronunciara o «sim, aceito».

«O eterno padrinho…»

Damien começava a achar tudo uma brincadeira e não precisamente divertida. Muitos dos seus amigos viviam felizes, tal como ele desejava viver. Sentia-se o cavaleiro azarado de uma corrida de cavalos, cuja portinhola não abrira na partida, enquanto os outros se afastavam a toda velocidade pela pista. E, ainda por cima, o melhor amigo ficara com a única mulher que Damien considerava uma candidata viável para se tornar a senhora Stone, o que era ainda mais desesperante.

– Hum… Não sabes o que estás a perder – murmurou Zoe, ao seu lado.

Damien elevou os ombros doridos para evitar que continuassem a afundar-se. Infelizmente, sabia exatamente o que estava a perder naquele dia. Como podia não saber se estava sentada a apenas três lugares mais à frente? Cometeu o erro de olhar para a direita, na direção oposta da máquina devoradora de sobremesas que tinha à esquerda.

Devia ter-se esquecido momentaneamente do seu sorriso pétreo, porque conseguiu chamar a atenção de Sara por um instante. Perguntou-lhe o que se passava com um ar adorável, curvando os lábios para baixo e franzindo a testa.

Ele abanou a cabeça, encolheu um ombro e conseguiu reavivar o sorriso macabro com que enganara todos os outros durante aquele dia. Maldita Zoe! Fizera-o perder a concentração ao roubar-lhe a sobremesa. Porque não o tinham sentado ao lado da mãe de Sara? Ter-se-ia esquecido daquele desastre de dia a entreter-se a adulá-la.

Sara apercebeu-se da sua mudança de expressão e sorriu, antes de voltar a concentrar a atenção no marido.

Damien quis suspirar, mas tinha as costelas demasiado apertadas sob a pele para os pulmões conseguirem expandir-se, portanto, soprou de exasperação.

– Calma, tigre – as palavras saíram amortecidas por uma camada de nata e framboesas. – Ainda há um pouco, se é que te arrependeste de ser tão generoso.

Virou-se para Zoe enquanto ela empurrava o prato quase vazio na sua direção. A única coisa que restava era um bocado de merengue com uma framboesa no topo.

Damien abanou a cabeça porque não confiava que a sua língua mantivesse a formalidade necessária.

– Tens a certeza? – insistiu, enquanto aproximava a colher para a última trinca. – Penso que poderia encontrar outro prato em algum lugar ou enganar os empregados.

– Não duvido – murmurou Damien, com secura.

Outra vez a expressão insolente de Zoe. O fato de Damien encolheu mais um tamanho, o que o fazia sentir-se acalorado e nervoso.

– Está bem… – replicou, enquanto punha a colher cheia na boca e, depois, a virava para se certificar de que deixava cada milímetro completamente limpo. Fechou os olhos e deixou escapar um gemido de prazer.

Damien experimentou uma sacudidela de algo inesperado. Algo que se recusou a identificar. Sobretudo, se se devia à visão dos lábios de Zoe St James a deslizar por uma colherzinha.

Por sorte, o pai de Sara escolheu aquele momento para se levantar e bater com o garfo no copo. Todas as cabeças se viraram para a mesa principal e Damien endireitou-se na cadeira e voltou a adotar uma expressão animada.

Contudo, durante o tempo todo, a frustração e a raiva aumentavam no seu interior, de tal modo que desejou ter uma versão gigante da cobertura de metal que envolvia as rolhas do champanhe. Se não se enganava, a sua cabeça estava prestes a rebentar e isso não podia acontecer até acabar o brinde.

Mais palavras. Palavras que ouvira cem vezes em ocasiões como aquela. Até ao fim do discurso, que foi…

– Portanto – Colin Mortimer sorriu para a esposa e, depois, para a filha, – Brenda e eu decidimos que queríamos oferecer algo especial à nossa pequena. Sabemos que tinham planeado uma lua de mel simples a navegar para o sul a bordo do orgulho e alegria de Luke, mas pensámos que gostaríamos de a melhorar um pouco…

Damien endireitou-se ainda mais na cadeira. Ena! Luke preparara a lua de mel perfeita para Sara e para ele, a lua de mel que Damien teria dado um braço para ter. Quinze dias no Dream Weaver sozinho com Sara. Parecia-lhe o paraíso.

Tomando conta da situação como de costume, Damien começou a preparar mentalmente o discurso que pronunciaria à frente de Colin para tentar ajudar Luke a sair do apuro.

O pai da noiva deu uma pasta a Luke.

– Dois bilhetes de avião para as Ilhas Virgens.

Damien começou a ensaiar o seu pequeno discurso.

– E um iate de luxo alugado por três semanas!

Houve um grito de espanto coletivo por parte dos convidados, que começaram a aplaudir e a gritar. Damien ficou petrificado. Por alguma razão, não conseguia mexer-se. Meu Deus, nem sequer conseguia pensar com clareza.

Sara abraçou o pai e Luke apertou-lhe a mão com entusiasmo.

Não era de estranhar. Luke sonhara sulcar as águas turquesas das Caraíbas desde que Damien e ele competiam juntos com pequenas embarcações na escola de vela.

Porque é que Damien não pensara nisso? Devia ter-lhes dado esse presente. Afinal de contas, fora a navegação que o unira a Luke há já muitos anos.

«Sabes bem o porquê.»

Damien fechou os olhos. Sim, sabia. Deixara que o sentimento de culpa devido à atração que experimentava pela mulher do melhor amigo estragasse tudo.

«E os ciúmes também. Não te esqueças dos ciúmes.»

Não. Tentara por todos os meios fazer com que isso não acontecesse. Só lhes desejava o melhor. Pelo menos, queria desejar-lhes o melhor.

No entanto, sentira-se ciumento. Por mais que tentasse superá-lo, fora assim.

E isso transformava-o numa pessoa vil. Quando os cento e quinze convidados se levantaram e brindaram com Colin ao feliz casal, Damien começou a tremer.

E, então, o pai da noiva virou-se para ele com um sorriso benevolente, assentiu e voltou a sentar-se.

Era a sua vez. Teria de brindar… e mentir. Engoliu em seco, sabendo que estava prestes a abrir a boca e mostrar-se como o maior hipócrita à face da Terra.