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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2008 Susan Mallery Inc.

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Doces problemas, n.º 35 - Novembro 2015

Título original: Sweet Trouble

Publicado originalmente por HQN™ Books

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), acontecimentos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, HQN e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Dreamstime.com.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7460-2

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Dedicatória

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Quinze

Dezasseis

Dezassete

Dezoito

Dezanove

Vinte

Vinte e um

Se gostou deste livro…

 

 

Para Lee, que me mantém cordata.

És uma dádiva e estaria perdida sem ti.

Um

 

– Diz aqui que és um tipo implacável – disse Diane, enquanto lia o artigo da revista de negócios. – Deves ficar satisfeito.

Matthew Fenner olhou para a sua secretária, mas não disse nada. Por fim, ela levantou o olhar e sorriu.

– Gostas que te considerem um tipo implacável – recordou-lhe ela.

– Eu gosto de respeito.

– Ou de medo.

Ele assentiu.

– O medo também serve.

Diane deixou a revista em cima da mesa.

– Não queres que ninguém pense que és agradável?

– Não.

A sua secretária suspirou.

– Preocupas-me.

– Pois, é uma perda de tempo.

– Fica descansado. Só o faço durante as minhas horas livres.

Ele olhou com cara de poucos amigos para a assistente, mas Diane não lhe fez caso. Embora Matt nunca fosse admiti-lo, o facto de ela não se deixar intimidar era um dos motivos pelos quais tinha durado tanto tempo naquele emprego. Embora ele tivesse fama de ser o tipo de empresário que deixava os rivais a sangrar na sarjeta, não gostava que os seus funcionários se acovardassem. Pelo menos, não constantemente.

– Mais alguma coisa? – perguntou e olhou significativamente para a porta.

Ela levantou-se.

– Jesse voltou a telefonar. Já são três vezes em três dias. Vais telefonar-lhe?

– Isso importa?

– Sim. Se vais continuar a ignorá-la, eu gostaria de lho dizer para pôr fim à sua tortura – disse Diane e franziu o sobrolho. – Normalmente, és mais claro com as tuas loiras burras. Quase nunca voltam a telefonar-te depois de as teres deixado.

– Já te pedi que não lhes chames isso.

Diane pestanejou com inocência fingida.

– A sério? Desculpa, estou sempre a esquecer-me.

Estava a mentir, mas Matt não lhe chamou a atenção. Diane mostrava assim a desaprovação dela, queixava-se de que as suas namoradas eram descartáveis, como se fossem bonecas, de que todas se pareciam fisicamente, sendo muito bonitas e sem cérebro. Não estava enganada.

O que Diane não entendia era que ele saía com aquelas mulheres de propósito. Não pretendia mais.

– Conheço-a há muito tempo – disse Matt e arrependeu-se imediatamente. Diane não precisava daquela informação. Aquela parte da sua vida tinha acabado há muito tempo.

– A sério? E tem personalidade ou cérebro? Agora que o dizes, ao telefone parecia quase normal...

– Não o disse.

– Hum... Tenho a certeza de que sim. Bom, conta-me quem é essa mulher misteriosa do passado.

– Já podes ir-te embora.

– Porque voltou a Seattle? É simpática? Achas que eu gostaria dela? Tu gostas dela?

Ele apontou para a porta.

Diane atravessou o escritório.

– Então, da próxima vez que telefonar, passo-te a chamada, não é?

Ele não respondeu e ela foi-se embora.

Matt levantou-se e aproximou-se da janela. O seu escritório ficava numa das colinas do Eastside e tinha uma vista impressionante. A sua carreira profissional e os seus negócios ilustravam todos os aspetos do sucesso. Tinha tudo o que podia querer-se: dinheiro, poder, respeito... e ninguém a quem prestar contas.

Lentamente, amachucou o papel com a mensagem de Jesse e deitou-o no balde do lixo.

 

 

Apesar das garantias de vários poetas célebres e de algumas canções country de levar às lágrimas, Jesse Keyes descobriu que era possível voltar a casa, o que era um azar. Não podia culpar ninguém das circunstâncias, pois fora ela mesma quem tinha decidido regressar a Seattle. Embora, na realidade, talvez tivesse tido um pouco de ajuda do rapaz tão doce que havia na sua vida.

Olhou pelo espelho retrovisor e sorriu ao seu filho de quatro anos.

– Sabes uma coisa? – perguntou-lhe.

Brilharam-lhe os olhos e sorriu.

– Já chegámos?

– Já chegámos!

Gabe aplaudiu.

– Gosto de estar aqui.

Iam passar o verão na cidade, ou o tempo que fosse necessário para organizar o seu passado e decidir o seu futuro. Talvez uma semana.

Jesse desligou o motor, saiu do carro e abriu a porta traseira. Tirou o cinto de segurança a Gabe, ajudou-o a descer da cadeirinha e ambos ficaram a olhar para o edifício de quatro andares diante do qual se encontravam.

– Vamos ficar aqui? A sério? – perguntou o menino com reverência.

Era um hotel para estadias prolongadas e bastante modesto. Jesse não tinha dinheiro para se hospedar num hotel de luxo. O quarto tinha kitchenette e, segundo as críticas que lera na Internet, era limpo, o mais importante para ela.

No entanto, para Gabe, que nunca tinha estado num hotel, aquele refúgio temporário era algo novo e empolgante.

– A sério – respondeu ela e agarrou-lhe a mão. – Queres ficar num quarto do último andar?

Ele esbugalhou os olhos.

– Podemos? – perguntou num sussurro.

Ela teria de subir mais escadas, mas sentir-se-ia mais segura no andar mais alto.

– Foi o que pedi.

– Boa!

Meia hora mais tarde, estavam a testar as camas do quarto, enquanto Gabe decidia qual queria. Ela desfez as malas que carregara pelos três lances de escadas. Tinha de começar a pensar em fazer exercício novamente. Ainda tinha o coração acelerado da subida.

– Vamos jantar fora – disse ela. – Apetece-te esparguete?

Gabe correu para ela e abraçou-lhe as pernas com toda a força que conseguiu. Ela acariciou-lhe o cabelo castanho e suave.

– Obrigado, mamã – sussurrou.

Porque comer a sua comida favorita num restaurante era um luxo muito pouco frequente.

Jesse sentia-se um pouco culpada por não cozinhar na sua primeira noite em Seattle, mas decidiu que se recriminaria mais tarde. Naquele momento, estava cansada. Tinha conduzido durante cinco horas de Spokane até Seattle e trabalhara até depois da meia-noite no dia anterior, pois queria ganhar todas as gorjetas que pudesse. O dinheiro ia ser escasso enquanto estivesse em Seattle.

– De nada – disse e agachou-se para ficar à sua altura. – Acho que vais gostar muito do restaurante. Chama-se Old Spaghetti Factory.

Era um restaurante perfeito e adequado para crianças. Ninguém se importaria se Gabe se sujasse a comer o esparguete e ela poderia beber um copo de vinho e fingir que tudo era perfeito.

– E vou conhecer o papá amanhã?

– Amanhã, não, mas em breve.

Gabe mordeu o lábio.

– Eu adoro o papá.

– Eu sei.

Ou, pelo menos, a ideia de ter um pai. O seu filho era o motivo pelo qual tinha decidido enfrentar os fantasmas do passado e voltar a casa. O menino começara a fazer perguntas sobre o pai um ano antes: Porque é que ele não tinha um papá? Onde estava o seu papá? Porque é que o seu papá não queria estar com ele?

Jesse pensara em mentir, em dizer que Matt tinha morrido, mas, cinco anos antes, quando se tinha ido embora de Seattle, tinha jurado que viveria a sua vida de forma diferente. Sem mentiras. Sem estragar as coisas. Esforçara-se para crescer, para construir uma vida da qual estava orgulhosa, para criar o seu filho, para ser sincera independentemente do que acontecesse.

O que significava que tinha de dizer a verdade a Gabe. Que Matt não sabia nada dele, mas que talvez estivesse na altura de mudar isso.

Não se permitira pensar em como seria o seu reencontro com Matt. Não podia. Além disso, não tinha apenas de se encontrar com ele. Também havia Claire, a irmã que nunca conhecera verdadeiramente, e Nicole, a sua outra irmã, que provavelmente ainda a odiava. Encarregar-se-ia de tudo aquilo no dia seguinte.

– Bom, estás pronto? – perguntou a Gabe, enquanto pegava na sua mala. Depois, estendeu os braços ao seu filho.

Gabe atirou-se nos braços da sua mãe, carinhoso, crédulo, como se ela nunca fosse magoá-lo, nunca fosse falhar-lhe. Porque ela nunca o faria, fossem quais fossem as circunstâncias. Pelo menos, tinha razão nisso.

 

 

Jesse olhou para a morada no papel e, depois, para o GPS que Bill lhe tinha emprestado. Coincidiam.

– Parece que alguém subiu de nível – murmurou ao ver o longo caminho de entrada que conduzia a uma casa diante do lago, na zona mais exclusiva de Kirkland.

Havia um portão, mas estava aberto, portanto, Jesse atravessou-o e percorreu o caminho até à casa, onde estacionou atrás de um BMW descapotável. Tentou não pensar em como o seu Subaru de dez anos parecia velho em comparação. No entanto, era fiável e servia para conduzir na neve de Spokane.

Pegou na mala e saiu do veículo. Aproximou-se da porta da casa e, antes de tocar, teve de engolir em seco e respirar fundo. Depois, tocou a campainha e esperou. Poucos minutos depois, alguém abriu a porta, e Jesse preparou-se para ver Matt novamente, mas deparou-se com uma ruiva alta e esbelta com uma camisa de dormir muito curta e muito sensual, e que, aparentemente, não usava mais nada.

A mulher teria uns vinte anos e era mais do que bonita. Tinha os olhos verdes grandes e umas pestanas incríveis. A pele era branca, os seios apontavam para o teto e os lábios eram perfeitos.

– Matt... – chamou-o queixosamente. – Já me chega que me digas constantemente que não tenho exclusividade, eu aceito-o. Não gosto, mas aceito-o. Agora, que apareça outra durante o meu encontro... Isso não é justo.

– Não vim para nenhum encontro – disse Jesse rapidamente.

A ruiva franziu o sobrolho.

– Matt!

A porta abriu-se mais e, instintivamente, Jesse deu um passo atrás. Nem sequer a um metro de distância o impacto de o ver novamente seria menor.

Era tão alto como recordava, mas tornara-se mais corpulento, mais forte. Usava uma camisa de manga curta aberta no peito e umas calças de ganga desgastadas.

Jesse viu os músculos e os pelos escuros do peito. Depois, olhou-lhe para a cara, nos olhos, que eram tão parecidos com os do seu filho. Ao vê-lo, o seu corpo reagiu de tal forma que compreendeu que, apesar do tempo decorrido, continuava a sentir a falta dele. Nunca conseguiria esquecê-lo, Gabe recordar-lho-ia sempre.

Matt mudara. Emanava poder e segurança. Era o tipo de homem que fazia com que uma mulher se perguntasse quem era e como poderia estar com ele.

– Jesse...

Ele disse o seu nome com calma, como se não o tivesse surpreendido vê-la, como se se tivessem visto na semana anterior.

– Olá, Matt.

A ruiva apoiou as mãos nas ancas.

– Vai-te embora. Anda!

«Anda»? Jesse sorriu. Era o melhor que ocorria àquela rapariga?

– Espera-me na cozinha, Electra – disse Matt, sem desviar o olhar de Jesse. – Não vou demorar.

A ruiva foi-se embora contrariada. Matt esperou que desaparecesse para se afastar para o lado.

– Entra.

Jesse entrou na casa. Teve uma breve impressão do espaço, de muita madeira e das vistas incríveis do lago e do horizonte de Seattle ao longe. Depois, virou-se para Matt e respirou fundo.

– Lamento ter vindo sem avisar. Telefonei-te várias vezes.

– A sério?

– Não te entregaram as minhas mensagens? – perguntou ela, sabendo que lhas tinham dado.

– O que queres, Jesse? Passou muito tempo. Porque vieste?

De repente, ela sentiu-se nervosa e trôpega. Havia milhares de coisas que podia dizer, mas não lhe parecia que alguma tivesse importância.

Abriu a mala, tirou algumas fotografias e entregou-as a Matt.

– Há cinco anos, disse-te que estava grávida e que tu eras o pai do bebé. Não acreditaste em mim, embora te tivesse dito que podíamos fazer um teste de ADN para o verificar. Agora, o menino tem quatro anos e não para de perguntar por ti. Quer conhecer-te. Espero que tenha passado tempo suficiente para que tu também queiras conhecê-lo.

Queria continuar a falar, explicar-se, defender-se. No entanto, apertou os lábios e ficou em silêncio.

Matt pegou nas fotografias e olhou para elas. Ao princípio, não viu muito mais do que um menino pequeno. Um menino que se ria e que sorria para a câmara. As palavras de Jesse não significavam nada para ele. Um filho? Ele sabia que estava grávida. Seu filho? Não era possível. Recusara-se a acreditar nela antes e ainda não conseguia fazê-lo. Jesse tinha voltado porque ele tivera sucesso e ela queria uma fatia do bolo. Mais nada.

Quase contra a sua vontade, olhou uma segunda vez para as fotografias e, depois, uma terceira e apercebeu-se de que o menino lhe parecia familiar. Os olhos tinham qualquer coisa que...

Então, viu a parecença. A curva do queixo era a mesma que ele via ao espelho todas as manhãs ao barbear-se. O formato dos olhos. Reconheceu partes de si mesmo, traços da sua própria mãe.

– O que é isto? – resmungou.

Seu filho? Seu filho?

– Chama-se Gabe – disse Jesse suavemente. – Gabriel. Tem quatro anos e é um bom menino. É inteligente e divertido, e tem muitos amigos. Tem muito jeito para fazer contas, coisa que certamente herdou de ti.

Matt não conseguia concentrar-se nas palavras. Ouvia-as, mas não tinham sentido. Só conseguia sentir raiva, fúria. Tivera um filho dele e não se incomodara em dizer-lhe nada?

– Devias ter-mo dito! – exclamou, com a voz alterada pela raiva.

– Eu disse-to, mas tu não acreditaste em mim. Não te lembras? As tuas palavras exatas foram que não te importava que estivesse grávida de ti. Que não querias ter um filho comigo – disse Jesse. Depois, endireitou os ombros. – Quer conhecer-te, Matt. Quer conhecer o pai. Foi por isso que vim, porque é muito importante para ele.

Não era importante para ela. Jesse não precisava de o dizer. Ele já o sabia.

Matt estendeu-lhe as fotografias, mas ela abanou a cabeça.

– Fica com elas. Sei que isto é difícil de assimilar. Temos de falar, e tu tens de conhecer Gabe. Caso queiras fazê-lo.

Ele assentiu, pois estava demasiado encolerizado para falar.

– O meu número de telemóvel está no reverso da primeira fotografia. Telefona-me quando quiseres e pensamos em alguma coisa – disse Jesse e hesitou. – Lamento por tudo isto. Queria falar contigo antes de vir, mas não consegui. Não queria esconder-to... Só que tu deixaste-me muito claro que não te importava.

Depois, deu meia-volta. Matt observou como se ia embora. Fechou a porta e encaminhou-se para o seu escritório.

Electra apareceu no corredor.

– Quem era? O que queria? Não andas a sair com ela, pois não, Matt? Não parecia o teu tipo.

Ele não lhe fez caso e fechou-se no escritório. Depois, sentou-se à secretária, espalhou as fotografias e observou-as uma por uma.

Electra bateu à porta, mas não lha abriu. Ouviu que dizia algo sobre ir-se embora, mas não se incomodou em responder.

Tinha um filho. Um filho de quatro anos, do qual nunca soubera nada. Na realidade, Jesse tinha tentado dizer-lhe que o bebé era dele antes de se ir embora de Seattle, mas sabia que não tinha acreditado nela depois do que tinha acontecido. Fizera tudo aquilo de propósito.

Pegou no telefone e marcou um número de cor.

– Heath, é Matt. Tens um minuto?

– É óbvio. Vamos sair de barco, mas tenho tempo. O que se passa?

– Tenho um problema.

Explicou-lhe rapidamente que uma ex-namorada se apresentara inesperadamente na sua casa e lhe dissera que tinha um filho de quatro anos.

– A primeira coisa a fazer é estabelecer a paternidade – disse o seu advogado. – Que hipóteses há de que sejas o pai?

– É meu – disse Matt, olhando para as fotografias e odiando mais Jesse a cada segundo que passava. Como pudera esconder-lhe algo parecido?

– Então, o que queres fazer? – perguntou-lhe Heath.

– Prejudicar o máximo possível aquela mulher.