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Editado por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2007 Brenda Harlen

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

Lágrimas de esperança, n.º 1181 - Dezembro 2014

Título original: The New Girl in Town

Publicado originalmente por Silhouette® Books.

Publicado em português em 2009

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Julia e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5902-9

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Zoe Kozlowski já não estava em Manhattan. Anos a viver na cidade tinham feito com que se habituasse ao barulho do trânsito: o ruído das rodas, as buzinas, as sirenas… Teria dormido perfeitamente com o barulho, mas o canto suave dos pardais acordara-a rapidamente.

Com o tempo, tinha a certeza, acabaria por se habituar a esse som, mas, por enquanto, era novo e suficientemente agradável para que não se importasse de acordar tão cedo. Enquanto se dirigia com um chá para o alpendre traseiro, conseguia ouvir não só o canto dos pássaros, como também a brisa suave que abanava as folhas e, de fundo, o latido de um cão.

Parou para observar os arredores à luz da manhã. As cores eram tão vívidas e brilhantes que quase lhe custava olhar para eles. O azul reluzente do céu só era interrompido pela passagem ocasional de alguma nuvem. E as árvores… havia de tantos tipos, tantos tons de verde só à volta do perímetro do jardim. Carvalhos, áceres e álamos com folhas de todos os tamanhos, formas e cores que iam desde o verde-amarelado até ao verde-escuro.

O jardim precisava de uma boa quantidade de trabalho, tal como a velha casa em que passara a noite, mas enquanto dava outra olhadela à sua volta sentiu que uma grande paz a invadia.

Tinha de conseguir um baloiço para o alpendre, decidiu de repente, impulsivamente. Um lugar onde pudesse sentar-se a desfrutar da primeira chávena de chá da manhã. Criaria raízes ali, como as árvores, bem profundas. Faria daquele lugar o seu lar.

Era estranho que tivesse vivido dez anos em Nova Iorque e nunca tivesse sentido essa necessidade de criar raízes. E não era porque não gostava de Manhattan, que tinha uma aura que continuava a atraí-la, uma emoção que não sentira em nenhum outro lugar. Para uma fotógrafa jovem, fora o lugar onde estar e quando Scott propusera que se mudasse para lá depois de se casarem, aproveitara a oportunidade. Tinham começado num estúdio minúsculo em Brooklyn Heights, depois tinham-se mudado para um apartamento de um quarto em Soho e, finalmente, há quatro anos, para um apartamento clássico em Park Avenue.

Nunca imaginara a possibilidade de sair de lá, até uma visita rotineira ao médico destruir a sua paz.

Dezoito meses depois disso, a sua vida dera várias voltas inesperadas. A mais recente levara-a para Pinehurst, em Nova Iorque, para visitar a sua amiga Claire e… Oh!

Sentiu falta de ar e a chávena caiu-lhe da mão quando uma besta a empurrou pelas costas e, depois, se acomodou no seu peito. Teria gritado se tivesse ar nos pulmões. Quando abriu a boca para respirar, uma língua enorme passou-lhe pela cara.

Não sabia se aquela criatura peluda a lambia por afecto ou para verificar o seu sabor antes de a morder. Cuspiu e tentou afastá-lo.

Ouviu-se um assobio ao longe e o cão levantou a cabeça ao ouvir o som. Depois, voltou a lambê-la.

– Rosie!

O animal recuou e apoiou o seu peso impressionante na parte superior das coxas, deixando-a assim presa. Zoe olhou para ele, receosa, enquanto se apoiava nos cotovelos para se endireitar e tentar defender-se do próximo ataque. Um movimento no limite do bosque atraiu a sua atenção. Virou a cabeça e viu um homem alto e de ombros largos que atravessava o jardim. Voltou a empurrar o animal, mas não conseguiu nada.

– Podes afastar o cão? – perguntou, com os dentes cerrados.

– Lamento – o homem baixou-se e agarrou no animal pela coleira.

A irritação de Zoe passou assim que deu uma olhadela ao seu salvador.

Tinha o cabelo escuro, quase preto, e curto à volta de um rosto que parecia estar cinzelado em granito. A testa era ampla e as faces eram bem definidas. Tinha barba de alguns dias e os olhos, não conseguia ver bem a cor, mas teria dito que eram escuros, semicerrados a olhar para o cão. Tinha uma t-shirt velha da Universidade de Cornell, umas calças de ganga que se ajustavam às suas pernas musculadas e uns ténis de desporto.

– Estás bem? – perguntou, num tom de voz suave e quente como o bom uísque.

– Estou bem. Bom, estarei quando me tirar esta coisa de cima.

– Rosie, fora! – ordenou, puxando-a pela coleira.

A besta de quatro patas tirou imediatamente o seu peso de cima das pernas dela e sentou-se ao lado do homem com a língua de fora e a olhar para ele, entusiasmada.

Zoe imaginou que seria uma fêmea. Também pensou que aquele homem estaria habituado a essa reacção por parte das mulheres que o conheciam. Ela própria teria começado a babar-se se não estivesse imunizada contra as caras bonitas depois de doze anos de trabalho como fotógrafa de moda. Bom, quase, porque não podia negar que havia alguma coisa naquele homem que a fazia desejar ter a máquina fotográfica à mão.

O factor inesperado dessa urgência seria algo em que teria de pensar depois, decidiu Zoe, enquanto se levantava e passava uma mão pela cara para limpar a baba do cão. Sacudiu os calções e puxou-os, consciente de que eram muito curtos.

– O que raios é essa coisa? – perguntou, dando um passo atrás.

– É um cão – respondeu, no mesmo tom suave. – E embora seja excessivamente carinhoso às vezes, não costuma afeiçoar-se a estranhos.

– Evidentemente, é um cão – pelo menos tinha quatro patas e cauda, – mas de que raça? Nunca vi uma coisa tão… – «feia» foi a palavra que lhe veio à cabeça, mas não queria insultar o homem nem o seu melhor amigo, portanto optou por: – Grande.

– Tem um pedigree indeterminável – replicou, com um sorriso irónico. – Parte de sabujo, parte de pastor inglês e muito mais misturas.

Olhou novamente para o bonito estranho e percebeu que estava a fazer-lhe o mesmo estudo que o seu animal de estimação já fizera. Sentiu-se consciente de que tinha o cabelo despenteado, não lavara os dentes e tinha a t-shirt cheia de marcas do cão. Depois, os seus olhares encontraram-se e Zoe já só pensou que tinha os olhos azuis como o céu cor de safira que estava naquele momento.

– Pensaste alguma vez em levar o teu cão a aulas de obediência? – perguntou. – É melhor antes que deixe alguém inconsciente.

– Rosie acabou as aulas com sucesso. Sabe sentar-se, deitar-se, virar-se e falar – encolheu os ombros e voltou a sorrir. – Só lhe falta aprender a conter o seu entusiasmo.

– Não brinques! – exclamou, cortante. – Chamas-lhe Rosie? – franziu o sobrolho.

– É um diminutivo de Rosencrantz.

– Rosencrantz – repetiu Zoe, perguntando-se que tipo de pessoa torturaria um animal indefeso com aquele nome.

– Como Rosencrantz e Guildenstern – explicou. – De Hamlet.

Estava realmente surpreendida e muito mais intrigada do que queria por aquele estranho de olhos azuis e leitor de Shakespeare.

– Onde está Guildenstern? – perguntou, apreensiva.

– Com o meu irmão – respondeu. – O meu sócio encontrou os dois cachorrinhos abandonados num riacho atrás do seu pátio traseiro. A sua mulher e ele queriam ficar com eles, mas já tinham um gato e um bebé a caminho, portanto eu fiquei com um e o meu irmão ficou com o outro.

Percebeu que o seu sócio tinha esposa, mas não dissera se ele também. Não era que importasse, é claro. Tinha muitas razões para se mudar para Pinehurst, mas um romance não era uma delas, sobretudo porque as feridas do seu casamento fracassado ainda estavam abertas.

– Bom, devia andar com trela – redarguiu, tentando voltar a concentrar-se na conversa.

O animal, de repente, atirou-se ao chão e começou a ganir.

– O que se passa? – perguntou Zoe, com o sobrolho franzido.

– Disseste a palavra com «T» – respondeu ele.

Olhou para ele, inexpressiva.

– T-r-e-l-a.

– Estás a brincar…

– Rosie odeia estar preso – replicou, abanando a cabeça.

– Bom, pois terá de se habituar porque eu não gosto que o teu rafeiro me ataque no meu jardim.

– O teu jardim? – pareceu surpreendido. – Compraste a casa?

Ela assentiu.

– És rica e estás aborrecida ou estás completamente louca?

– Não és a primeira pessoa que questiona a minha saúde mental – admitiu, – mas és a primeira pessoa que tem o descaramento de o fazer dentro da minha propriedade.

– Eu só… estou surpreendido – replicou ele. – A casa estava à venda há muito tempo e não tinha ouvido nada sobre nenhum potencial comprador.

– Assinámos os últimos papéis ontem. É a minha casa, a minha terra.

– Se esta é a tua casa, a tua terra, então isso significa… – fez uma pausa e sorriu, o que fez com que o coração traidor de Zoe acelerasse, – que és minha vizinha.

 

 

Mason viu como as faces pálidas se tingiam de cor e pensou que seria bastante atraente se estivesse limpa. O cabelo loiro era um matagal à volta do seu rosto, tinha as sobrancelhas, que coroavam uns lindos olhos cor de chocolate, franzidas e a t-shirt estava coberta de lama. Não conseguiu evitar observar que, por baixo da roupa, se adivinhavam umas curvas suaves e redondas. E sentiu o estímulo da excitação.

Repreendeu-se. Era evidente que estava há tanto tempo sem uma mulher que a visão de uma bastante desalinhada o excitava.

O seu período sem encontros fora tanto uma escolha como uma necessidade. Desde a sua ruptura com Erika, tinham-lhe aparecido uma série de trabalhos bastante importantes que tinham requerido toda a sua atenção. Ultimamente, no entanto, no escritório as coisas tinham começado a ir mais devagar. O suficiente para conseguir dormir uma quantidade razoável de horas e até mesmo considerar a possibilidade de recuperar a vida social. Se o fizesse, talvez conhecesse uma mulher que fosse mais do seu tipo, mas era aquela mulher que atraía a sua atenção naquele momento. Porque era, se não o seu tipo, pelo menos sua vizinha, o que o fazia sentir uma curiosidade natural.

– Diz-me uma coisa – pediu Mason.

– O quê? – perguntou, receosa.

– Que ataque deu a uma rapariga da cidade como tu para comprar uma casa como esta?

– O que te faz pensar que sou uma rapariga da cidade?

– A roupa de marca e o relógio de moda, para começar. Mas sobretudo essa confiança em ti própria e que te fica tão bem como esses calções minúsculos e justos.

– É uma presunção bastante surpreendente depois de apenas cinco minutos de conversa.

– Gosto de observar as pessoas – declarou, com um sorriso. – Especialmente, as mulheres.

– Não duvido – declarou, cortante.

– Não respondeste à minha pergunta, porque compraste a casa?

– É bonita.

– Deve ter sido há mais de dez anos – reconheceu. – Antes de a senhora Hadfield envelhecer e se tornar demasiado miserável para pagar as reparações.

– O que aconteceu com a senhora Hadfield? – perguntou, tentando mudar de conversa.

– Morreu há um ano e meio e deixou a casa a uma neta que vive na Califórnia. Ela pô-la à venda imediatamente, mas só houve uma oferta de uma construtora e ela rejeitou-a porque pensava que a sua avó não gostaria que destruíssem a casa e dividissem a terra.

Depois dessa tentativa, a casa caíra no esquecimento. Mason ouvira a agente imobiliária dizer que a neta tinha uma ideia muito clara de quem Beatrice Hadfield teria gostado que vivesse na sua casa, mas não fizera uma lista de critérios, nem sequer à agente, que quase desistira da ideia de vender a casa, até àquele momento.

– E sabes tudo isso porque…

– Porque numa cidade pequena não há segredos.

– Óptimo… – murmurou. – E odiava ter vizinhos por cima em Nova Iorque…

Realmente não era o seu tipo, mas era feminina e bonita, portanto não conseguiu resistir a brincar.

– Eu só estarei por cima se quiseres, querida.

– Não quererei – redarguiu, fria. – E não me chames «querida».

– Não queria ofender… – fez uma pausa para lhe dar a oportunidade de dizer o seu nome.

– O meu nome é Zoe – indicou ela, finalmente. – Zoe Kozlowski.

– Mason Sullivan.

Zoe olhou para a mão que lhe estendeu antes de a apertar.

Rosie ladrou, levantou uma pata e a sua nova vizinha olhou para baixo com um sorriso nos lábios. Mason deu por si a olhar para aqueles lábios e a perguntar-se se seriam tão suaves como pareciam.

– Não me tinhas dito que sabia dar a pata – replicou ela, agarrando na pata de Rosie.

– Outra das suas muitas habilidades – disse, incomodado por ela se interessar mais pelo cão.

Não era que ele tivesse interesse nela, mas tinha uma reputação na cidade pelo seu sucesso com as mulheres e nunca antes nenhuma o trocara por um animal.

– Agora já só tens de lhe ensinar a respeitar os limites entre as nossas propriedades.

– Isso pode demorar algum tempo – avisou, enquanto ela soltava a pata de Rosie e se endireitava. – Habituou-se a vir correr por aqui.

– Não demorará nada se o tiveres prendido.

Rosie choramingou como se tivesse entendido a ameaça, obrigando Mason a defender o animal.

– É um espírito livre – replicou e, depois, sorriu. – Como eu.

– As mulheres desta zona deixam-se mesmo impressionar por frases tão antigas?

– Não tive nenhuma queixa – replicou Mason, esforçando-se para manter o sorriso.

– Trabalhei na Images em Nova Iorque durante seis anos – replicou Zoe, referindo-se a uma das principais revistas de moda. – Passei a maior parte dos dias rodeada de homens que vivem da sua imagem, portanto vai ser preciso mais do que um sorriso para me derreter.

– Parece um desafio…

– Só uma descrição dos factos. Agora, se me perdoares, tenho coisas para fazer.

Mason saiu do alpendre sem deixar de segurar no cão e sem deixar de olhar para a sua vizinha.

– Foi um prazer conhecer-te, Zoe.

– Foi realmente interessante – declarou ela, com um sorriso.

De volta a casa, deu por si a planear o seu próximo encontro com a nova vizinha.

 

 

Zoe entrou em casa com um sorriso no rosto e um olhar positivo sobre o dia, apesar dos acontecimentos inesperados da manhã. Apesar de não ter previsto encontrar-se com um dos seus vizinhos no jardim traseiro tão cedo, pensou que lidara bastante bem com a situação. Fora capaz de manter uma conversa informal sem se preocupar muito com o que ele estava a ver ou estaria a pensar. Fora uma experiência libertadora.

Mason era um estranho que não sabia nada dela nem do seu passado, o dono de um cão a desculpar-se pela atitude carinhosa do seu animal de estimação. Era um homem que olhara para ela como se fosse uma mulher, uma interacção normal depois de um ano e meio de se perguntar se alguma coisa voltaria a parecer normal.

Nos últimos dezoito meses, perdera tudo o que importava: o seu marido, o seu trabalho, a sua casa e, o pior de tudo, a sensação de ser ela própria. Empacotara a maior parte do que tinha e guardara-o num pequeno armazém, tudo menos uma dúzia de caixas que pusera no porta-bagagem do carro, e saíra da cidade decidida a começar uma nova vida noutro sítio. O que realmente queria era ir a algum lugar onde ninguém soubesse quem era, onde ninguém olhasse para ela com pena ou falasse de modo compassivo. Algum sítio onde pudesse voltar a ser a mulher que fora.

O que encontrara ao visitar Claire, a sua melhor amiga e confidente, fora uma casa encantadora que atraíra tanto a sua atenção que chegara a parar o carro no meio da estrada para olhar para ela.

Era um edifício impressionante de três andares com chaminés e torres, bastante descuidado e que precisava de uma boa reparação. O telhado do alpendre estava destruído, as chaminés, desfeitas, a pintura estava velha e algumas janelas estavam fechadas com tábuas.

Enquanto olhava para as partes mais ruinosas da casa, teve de conter as lágrimas. Não havia dúvida de que a casa que fora forte, orgulhosa e bonita já não era muito mais do que uma sombra do que devia ter sido. Tal como ela.

Quase não vira o cartaz «Vende-se» escondido pela relva que crescera no jardim dianteiro, mas quando o descobrira, soubera que era dirigido a ela. Tirara o carro da estrada, aproximara-se do jardim, tirara o telemóvel e marcara o número que havia no cartaz.

No ano e meio anterior procurara algum objectivo e ali, finalmente, encontrara-o.

Ou se calhar era verdade que estava louca. Considerou essa possibilidade enquanto deixava a chávena no lava-loiça. Mas mesmo que estivesse, tinha um compromisso. A casa era dela, para além da hipoteca que assinara para a compra e as reformas. E, embora uma parte dela estivesse aterrorizada a pensar que cometera um tremendo erro, outra, maior, estava contente com os desafios e oportunidades que se apresentavam: ia arranjar a sua casa velha e transformá-la numa pensão bem-sucedida. Embora já houvesse vários estabelecimentos semelhantes na cidade, nenhum tinha a magia do edifício que já era o seu lar.

Deu uma olhadela ao relógio e viu que eram quase oito horas. O arquitecto, que era o marido da advogada que a ajudara na compra, chegaria em menos de meia hora.

Estava excitada com a reunião, ansiosa por começar, mas também já sentia as primeiras dúvidas. Uma coisa era dar voltas a ideias na cabeça e outra completamente diferente era partilhar essas esperanças com alguém que podia ajudá-la a levá-las a cabo… ou destruí-las.

Enquanto percorria o chão poeirento, as perguntas e as dúvidas apareceram. O que estava a fazer?

Isso fora o que os seus amigos e colegas lhe tinham perguntado quando deixara o trabalho na revista. Tinham mostrado compreensão por tudo o que acontecera, mas todos lhe tinham recomendado que mantivesse a sua situação como estava. Parecia-lhe irónico, até mesmo irritante, que tanta gente que não passara pelo mesmo que ela, tivesse tantos conselhos para dar sobre como seguir em frente. Só Claire é que a entendera. E entusiasmara-se quando a sua amiga escolhera Pinehurst para começar de novo. A sua emoção vira-se bastante moderada quando vira a casa que Zoe comprara, mas nunca deixara de a apoiar.

Enquanto tirava uma teia de aranha, perguntou-se o que os seus colegas de Manhattan pensariam. Abanou a cabeça para deixar de ir por esse caminho. Não tinha tempo para dúvidas e recriminações, tinha de se arranjar para o seu encontro com o arquitecto.

As torneiras gotejavam e as tubagens rangiam, mas Zoe conseguira fazer com que saísse água pelo duche do primeiro andar. Não estava nem muito quente nem muito limpa, mas foi suficiente para ensopar uma esponja e lavar-se. Tentar passar o cabelo por água foi outra história e perguntou-se se teria valido a pena passar a noite no quarto de um hotel, pois teria podido tomar um duche em condições, mas sabia que a reforma da casa ia ser custosa e o que restava no banco depois dos gastos médicos e da entrada da casa não era uma quantia exagerada.

Desprezou as ideias negativas. Apesar de a vendedora a ter avisado de que a casa precisava de muitas reformas, Zoe não tinha medo de arregaçar as mangas e sujar as mãos. Na verdade, era o que procurava. Até pensava que o trabalho seria terapêutico. O que a preocupava era o que não podia fazer. O que lhe custariam os electricistas, canalizadores ou qualquer outro profissional que tivesse de contratar. Por sorte, o marido de Jessica dir-lhe-ia exactamente o que precisaria e até podia fazer-lhe alguma recomendação.

Outra olhadela rápida para o relógio disse-lhe que faltavam menos de dez minutos para a hora marcada. Sentiu um nó no estômago enquanto vestia umas calças de ganga e uma t-shirt. Não sabia o que esperar, o que lhe sugeriria o arquitecto, quanto lhe custaria…

Deu uma olhadela à sua volta com olho crítico. Seria um sonho desatinado pensar que conseguiria fazer com que aquela casa velha voltasse a ser tão bonita como ela sabia que fora?

Bom, desatinado ou não, era o seu sonho… e estava decidida a realizá-lo.

 

 

O telefone estava a tocar quando Mason entrou pela porta com Rosie. O cão correu até ao seu bebedouro e começou a beber ruidosamente. Mason levantou o auscultador.

– Sullivan.

– Estás aí! Meu Deus – Nick Armstrong parecia angustiado, o que não era frequente no homem que Mason conhecia desde a escola e com quem trabalhava há quinze anos.

– O que se passa? – perguntou.

– Preciso que vás a uma reunião por mim esta manhã – depois a sua voz perdeu-se enquanto dizia: – Aguenta, querida. Já quase chegámos.

Depois de um instante de confusão, Mason percebeu que a segunda parte não era para ele.

– Passa-se alguma coisa com Jess? – perguntou, preocupado.

– As águas rebentaram. Há menos de meia hora. Tem contracções cada vez mais frequentes.

Nick e Jess tinham passado muito tempo a desejar aquele bebé e a ideia de alguma coisa correr mal quase ao final era aterradora.

– Respira, querida – murmurou Nick, dirigindo-se à sua esposa.

Mason ouviu a resposta cortante de Jess. Nada a ver com a mulher serena e fria que normalmente era. Isso era o que acontecia com as pessoas normais e racionais quando tinham um bebé e agradeceu não querer ser pai.

Casamento e filhos? Tremia só de pensar. Diabos, só pensar no compromisso dava-lhe urticária.

O seu melhor amigo escolhera um caminho diferente, mas Mason desejava poder ajudar.

– Concentra-te nela – declarou. – Eu tratarei do negócio.

– Obrigado, Mason.

– Não te preocupes com nada. Diz a Jess que lhe levarei gelado de morango.

– Adorará – disse o seu amigo. – Deixo-te… estamos a chegar ao hospital.

– Espera – replicou, antes de ele desligar.

– O quê?

– Onde e quando é a reunião?

Recebeu a informação e sorriu enquanto desligava. O dia estava a correr cada vez melhor.