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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2004 Susan Macias Redmond. Todos os direitos reservados.

O XEQUE APAIXONADO, N.º 1285 - Julho 2011

Título original: The Sheik & The Princess in Waiting

Publicado originalmente por Silhoutte® Books.

Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, são reservados. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Enterprises II BV.

Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer semelhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.

® Harlequin, logotipo Harlequin e Bianca são marcas registadas por Harlequin Books S.A.

® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

I.S.B.N.: 978-84-9000-584-2

Editor responsável: Luis Pugni

ePub: Publidisa

Inhalt

Um

Dois

Três

Quatro

Cinco

Seis

Sete

Oito

Nove

Dez

Onze

Doze

Treze

Catorze

Promo

Capítulo 1

Depois de um longo dia de trabalho na sala de parto, Emma Kennedy estava pronta para passar a tarde com os pés ao alto à frente da televisão e com uma grande tigela de gelado. Sim, certamente, comeria alguma coisa decente ao jantar, mas o gelado era uma necessidade num dia como aquele.

Depois de uma manhã tranquila, quatro mulheres pareciam ter concordado em dar à luz ao meio-dia. Uma era uma adolescente aterrorizada e Emma ficara com ela todo o tempo possível. Com vinte e quatro anos era a enfermeira mais jovem, embora com uma experiência muito diferente daquela jovem com tatuagens e piercings que aprendera tudo nas ruas.

Abriu a caixa do correio, tirou a conta do telefone e um cupão de desconto para o Dillard’s e dirigiu-se para o seu apartamento. Estava cansada, mas satisfeita. Fora um bom dia. Uma das coisas de que mais gostava no seu trabalho era de ver a felicidade das mães quando os seus filhos nasciam. Fazer parte desse processo, mesmo ficando à margem, era todo o agradecimento de que precisava. E quando pensava nisso...

Parou bruscamente no hall. Dois homens com fatos escuros estavam junto da sua porta. Ambos pareciam respeitáveis, com cortes de cabelo perfeitos e sapatos brilhantes, mas, sem dúvida, estavam à espera de alguém.

Emma recebera aulas de defesa pessoal, mas não achava que lhe servissem de muito contra dois homens altos e fortes. Olhou para ambos os lados e calculou a distância que havia até ao vizinho mais próximo. Quanto tempo demoraria a correr até ao carro e o que aconteceria se gritasse?

Então, um dos homens levantou o olhar e viu-a.

– Menina Kennedy? Sou Alex Dunnard, do Departamento de Estado. Este é o meu colega, Jack Sanders. Pode conceder-nos alguns minutos?

Enquanto falava, tirou a sua identificação e o seu colega fez o mesmo.

Emma abandonou a ideia de escapar e aproximou-se da porta. As fotografias eram dos homens e os distintivos pareciam oficiais, mas ela nunca vira uma identificação do Departamento de Estado, portanto não sabia ver as diferenças.

Alex Dunnard guardou a sua identificação no bolso do casaco e sorriu.

– Temos assuntos oficiais para discutir consigo. Podemos entrar ou sentir-se-ia mais confortável se fôssemos ao café da esquina?

Emma sabia que nenhuma das duas opções a pouparia de ter de falar com eles. Mas aquilo era uma loucura. O que é que o Departamento de Estado podia querer dela?

Olhou para eles de cima a baixo e decidiu deixá-los entrar. O bairro de Dallas onde vivia era tranquilo e normal. Aqueles homens tinham-se enganado, sem dúvida. E ir-se-iam embora assim que percebessem o seu erro.

– Entremos – disse, pondo a chave na fechadura.

Os dois homens seguiram-na para a sala minúscula. Já escurecera, portanto Emma acendeu vários candeeiros e indicou-lhes o sofá, sentando-se ela na poltrona oposta. Ao deixar a mala no chão, viu várias manchas na sua camisa. Ossos do ofício, recordou-se.

Alex sentou-se na beira do sofá, enquanto o outro cavalheiro permanecia de pé junto da porta de vidro.

– Menina Kennedy, estamos aqui a pedido do rei de Bahania...

– O rei de Bahania? – interrompeu-o ela, levantando uma mão.

– Sim, menina. Entrou em contacto com o Departamento de Estado e pediu-nos para a localizarmos para lhe transmitir um convite oficial para visitar o seu país.

Emma desatou a rir-se, sem acreditar numa palavra.

– Querem vender alguma coisa? Porque se é assim, receio que estejam a perder tempo.

– Não, menina. Somos do Departamento de Estado e estamos aqui...

– Sim, eu sei. Por desejo do rei de Bahania. Mas enganaram-se. De certeza que se trata de outra Emma Kennedy que a Sua Alteza Real quer ver.

Deu uma olhadela ao seu apartamento modesto. Precisava de dinheiro para pagar os seus empréstimos de estudos, assim como pneus novos para o seu velho carro. No seu próxima vida teria de ser rica, já que naquela era apenas uma mulher solteira com dificuldades para pagar as contas.

Alex tirou um pedaço de papel do bolso do seu casaco.

– «Emma Kennedy» – leu e enumerou a sua data e lugar de nascimento, os nomes dos seus pais e o número do seu passaporte.

– Espere um momento – disse ela. Levantou-se e entrou no seu quarto.

O seu passaporte estava ao fundo da gaveta das meias. Tirou-o e voltou para a sala, onde pediu a Alex para voltar a ler o número. Coincidia.

– Isto é incrível – murmurou. – Olhe, não conheço o rei de Bahania. Nem sequer saberia localizar Bahania no mapa. Tem de haver um erro. O que é que esse rei poderia querer de mim?

– Será a sua convidada durante as próximas duas semanas – disse Alex. Levantou-se e sorriu. – Há um jacto privado à espera para a levar para o seu país, menina Kennedy. Bahania é um aliado muito poderoso no Médio Oriente. Juntamente com o seu vizinho, El Bahar, é visto como a Suíça da região. São países muito desenvolvidos que oferecem um refúgio de paz e estabilidade económica numa das zonas mais conflituosas do mundo. Além disso, proporcionam uma grande percentagem do petróleo que importamos.

Emma quase não estudara nada de Ciências Políticas, mas não era estúpida e percebeu a mensagem. Quando o rei de Bahania convidava uma jovem enfermeira do Texas para passar duas semanas de férias no seu país, o governo dos Estados Unidos esperava que aceitasse o convite sem hesitar.

Estava a ser raptada?

– Não podem obrigar-me a ir – disse, mais para ouvir as palavras do que porque acreditava nelas. Tinha o pressentimento de que Alex e o seu colega podiam obrigá-la a ir.

– Tem razão. Não podemos obrigá-la a aceitar o convite. No entanto, o seu país estaria muito agradecido se considerasse a sua oferta – ele sorriu. – Estará completamente segura, menina Kennedy. O rei é um homem honrado. Não vai prendê-la num harém.

– Nem sequer me tinha passado essa ideia pela cabeça – declarou ela, com veemência, embora não fosse sincera.

Um harém? Isso era impossível! Os homens não a achavam especialmente atraente e ela... bom, fazia o possível para evitar os assuntos do coração. Apaixonara-se uma vez e fora um completo desastre.

– Trata-se de uma grande honra – disse Alex. – Sendo a convidada pessoal do rei, alojar-se-á no famoso palácio cor-de-rosa. É uma coisa extraordinária.

Emma voltou para a poltrona e sentou-se.

– Podemos parar por um segundo e reflectir sobre a situação? Sou enfermeira. Assisto a partos para ganhar a vida. A menos que o rei tenha uma esposa grávida, porque havia de estar interessado em mim? Suponho que se sabem o número do meu passaporte, também saberão que só saí uma vez do país e foi há seis anos. Tenho uma vida bastante tranquila e enfadonha. Repito que se enganaram na pessoa.

– Duas semanas, menina Kennedy – insistiu Alex, sem perder o seu bom humor. – Parece-lhe que é pedir demasiado? As enfermeiras voluntárias do exército dedicam muito mais tempo ao país.

Oh, maldito! Queria fazê-la sentir-se culpada. E Emma não gostava nada disso. Os seus pais tinham sido peritos em inculcar-lhe remorsos.

– Eu acompanhá-la-ei a Bahania para me certificar de que chega sem problemas – continuou Alex. – Assim que estiver instalada, voltarei para Washington – fez uma pausa. – É uma grande oportunidade para si, menina Kennedy. Espero que não a perca. Se pudermos ir para o aeroporto dentro de uma hora, estaremos em Bahania amanhã à tarde.

A cabeça de Emma começou a dar voltas.

– Quer ir agora mesmo?

– Por favor.

Emma olhou para o outro homem, que continuava junto da porta. Receava que, se se recusasse, a levassem contra a sua vontade e não era um pensamento muito tranquilizador. De modo que parecia que era obrigada a fazer uma viagem.

Duas horas e meia mais tarde, estava sentada num jacto privado luxuoso que se elevava sobre as luzes de Dallas. Tinha uma mala no compartimento de carga, uma pequena mala junto dos seus pés e, como prometera, Alex Dunnard estava sentado ao seu lado.

Ainda não sabia como tudo acontecera. De alguma forma, Alex convencera-a a telefonar para o hospital, a fazer as malas e a deixar uma mensagem aos seus pais a dizer que ia de viagem com uma amiga.

Depois, tomou banho e mudou de roupa e, poucos minutos depois, estava numa limusina tão grande como um campo de futebol, em direcção ao aeroporto.

Se o visse pelo lado positivo, estava a ser raptada, no caso de ser um rapto, por alguém com dinheiro e estilo. O problema era que deixara a sua vida de lado durante as próximas duas semanas com apenas algumas chamadas telefónicas e o rogo à sua vizinha para que lhe visse o correio. O que dizia aquilo dela?

Antes de poder responder a si mesma, aproximou-se uma mulher com uniforme.

– Menina Kennedy, sou Aneesa, e será um prazer atendê-la durante o voo para Bahania.

Informou-a sobre a hora prevista de chegada, mencionou uma escala em Espanha para encher o depósito e ofereceu-lhe a selecção de pratos para jantar.

– Quando desejar retirar-se para dormir, há um compartimento para o seu uso exclusivo – continuou com um sorriso. – Está equipado com uma casa de banho completa.

– Incrível – respondeu Emma, tentando não se mostrar impressionada, como se aquilo lhe acontecesse todos os dias.

– Quer que lhe sirva o jantar?

– Eh... claro, porque não?

A assistente de bordo afastou-se e Emma virou-se para Alex.

– Vai dizer-me o que está a acontecer aqui realmente?

– Disse-lhe tudo o que sei.

– O rei quer que seja a sua convidada durante duas semanas.

– Sim.

– E não sabe porquê?

– Não.

Não lhe servia de muita ajuda, portanto devolveu a atenção à paisagem que ia deixando para trás e questionou-se se voltaria a ver o Texas.

Decidida a não se deixar levar por pensamentos desagradáveis, agarrou no guia do avião e fingiu que se interessava pelos DVD disponíveis.

Meia hora mais tarde, serviram-lhes o jantar. Estava delicioso e Alex devorou-o com avidez. Emma comeu o frango fumado, mas rejeitou o vinho e observou o seu companheiro de viagem. Alex Dunnard era um homem atraente, de quarenta e poucos anos e, a julgar pela sua aliança, casado. A senhora Dunnard importar-se-ia que o seu marido se fosse embora sem prévio aviso? Ou ele já esperava aquela viagem? E porque é que o rei de Bahania queria conhecê-la? Mais perguntas sem resposta. Quando tentou surripiar mais informação a Alex, ele mostrou-se cortês, mas nada comunicativo.

Depois de uma noite inquieta numa cabina de luxo, várias mudanças horárias e uma escala para encher o depósito, Emma não sabia mais do que soubera ao entrar no avião em Dallas. A única diferença era que estavam a aterrar num aeroporto que confinava com o deserto. Olhou pela janela e tentou não ficar boquiaberta. A vista era tão impressionante que quase a deixou com falta de ar.

Um mar azul-turquesa acariciava uma praia de areia branca, depois da qual se prolongavam quilómetros de edificações, folhagem exuberante e subúrbios que, a pouco e pouco, davam lugar à extensão interminável do deserto. Emma conseguiu ver zonas industriais, edifícios enormes que pareciam muito antigos e dúzias de parques espalhados por toda a cidade.

Aterraram com uma ligeira sacudidela e o avião parou junto do terminal. Emma foi escoltada para a pista, onde a tarde era quente, ensolarada e seca. O sol brilhava com tanta força que quase a cegou. Ao entrar numa sala acondicionada, um homem uniformizado fez-lhe uma reverência quando ela se apresentou e lhe mostrou o passaporte.

– Menina Kennedy – disse, com um sorriso radiante, – bem-vinda a Bahania. Desejo-lhe uma estadia muito agradável.

– Obrigada – murmurou ela, perguntando-se se todos seriam sempre assim tão educados.

As surpresas não acabaram. Minutos mais tarde, Alex escoltou-a até outra enorme limusina, em cujo interior havia uma garrafa de champanhe num balde de gelo e um pequeno ramo de flores.

– São para mim? – perguntou a Alex.

– Duvido que o rei as tenha mandado para mim – respondeu ele e apontou para a garrafa. – Apetece-lhe um pouco de champanhe?

– Não dormi no avião e entre o cansaço, a situação estranha e a diferença horária, a última coisa que preciso é de beber álcool.

Quando saíram do aeroporto, Alex começou a falar da cidade. Mostrou-lhe o distrito financeiro, o bazar e o acesso às famosas praias de Bahania. Emma fez o possível para prestar atenção, mas quanto mais avançavam pela estrada, mais se arrependia de ter ido até ali. Bahania era linda, sem dúvida, mas ela acabara de percorrer meio mundo com um desconhecido para conhecer um rei de que mal ouvira falar. E, à excepção desse rei e do seu companheiro de viagem, mais ninguém no planeta sabia onde ela estava.

Não era uma situação que convidasse a relaxar.

Quarenta minutos depois, a limusina atravessou um portão aberto onde havia vários guardas e percorreu o que pareceram quilómetros de jardins e pomares. Emma olhou pela janela e viu o lendário palácio cor-de-rosa ao longe.

– Isto não pode estar a acontecer – murmurou, incapaz de acreditar.

A limusina parou à frente da entrada, um portal em forma de arco suficientemente grande para que passasse um desfile de músicos.

– Já chegámos – disse Alex.

– E agora? – perguntou ela.

– Agora conhecerás o rei.

Incrível! Se alguma vez saísse daquilo, a primeira coisa que faria seria queixar-se pela falta de informação de Alex.

A porta da limusina abriu-se e Alex saiu primeiro. Emma alisou a saia que vestira no avião e respirou fundo para reunir forças e coragem. Não foi suficiente, por isso não a surpreendeu que começasse a tremer quando saiu para o calor da tarde.

Havia várias pessoas à entrada do palácio. Alex, o motorista da limusina e uns homens uniformizados que pareciam ser criados. Não havia vestígio do rei. Estaria à espera no interior? Alex devia ter-lhe explicado qual era o protocolo a seguir?

Antes de poder perguntar-lhe, reparou num movimento à sua esquerda. Virou-se e viu um homem a emergir das sombras. Era alto, de uma beleza escura e quase familiar. Então, a luz do sol iluminou-lhe o rosto e Emma conteve um grito de espanto. Não podia ser. Não depois de tanto tempo. Tinha pensado que... Ele nunca...

A mistura do choque, da falta de sono, da comida e do jet-lag fez com que o seu coração acelerasse e com que o sangue lhe subisse à cabeça. O mundo começou a dar voltas, tornou-se difuso e acabou por escurecer por completo quando Emma caiu ao chão.

O príncipe Reyhan olhou para o seu pai, o rei de Bahania, e abanou a cabeça.

– Não foi assim tão mau.

Capítulo 2

Vários criados correram para a mulher desmaiada, mas Reyhan afastou-os e ajoelhou-se junto de Emma. Agarrou-a e verificou os sinais vitais. Tinha o coração acelerado, mas estava estável.

– Chamem um médico! – ordenou firmemente e alguém se apressou a obedecer.

– Não bateu com a cabeça – disse uma jovem, tocando na testa de Emma. – Eu estava a olhar para ela quando desmaiou, Alteza.

– Obrigado. Os seus aposentos estão prontos?

A mulher assentiu e Reyhan pegou em Emma ao colo. O seu corpo estava lânguido e fraco, com uma mão pressionada contra o peito de Reyhan e a outra a agarrar-lhe as costas. Estava pálida e respirava lentamente.

Reyhan parou por um momento para observar as suas longas pestanas e os seus lábios generosos. O cabelo espesso e avermelhado que ele recordava caía em ondulações suaves à volta do rosto e sabia que, se as contasse, encontraria as onze sardas no nariz e nas faces.

Como teria mudado?, questionou-se em silêncio.

Mas apercebeu-se de que não queria sabê-lo. Levantou-se e dirigiu-se para o palácio.

O seu pai caminhou junto dele.

– Pelo menos, lembrou-se de ti – disse-lhe.

– Com grande deleite, obviamente.

– Talvez tenha desmaiado com alívio por saber que vão estar juntos.

Reyhan não se incomodou em responder. Emma não o via há seis anos e, a julgar pelo que ele conseguira descobrir, não fizera a menor tentativa de contactar com ele. Não sabia o que ela recordaria da sua breve... relação, mas duvidava que o seu desmaio tivesse alguma coisa a ver com alívio.

Os aposentos dos convidados eram no segundo andar e Reyhan dirigiu-se directamente para lá, agradecendo em silêncio que o seu pai não dissesse mais nada. Entrou na suíte e deixou Emma no sofá. Uma aia aguardava num canto.

– Descobre quando chega o médico! – ordenou ele.

A aia assentiu e agarrou num telefone de uma mesinha, enquanto Reyhan se sentava no sofá junto de Emma e segurava na sua mão. Tinha os dedos frios, portanto levou-os à boca e aqueceu-os com a sua respiração.

– Emma... – sussurrou. – Acorda.

Ela mexeu ligeiramente a cabeça e emitiu um gemido fraco.

– O médico chegará dentro de quinze minutos – informou a aia.

– Obrigado. Um copo de água, por favor.

– É para já, Alteza.

– Outra pessoa podia tê-la trazido – disse o rei, da poltrona que tinha ocupado à frente do sofá. – E podia estar a ser ajudada por outra pessoa.

– Ninguém toca na minha mulher – replicou Reyhan, semicerrando os olhos.

O seu pai levantou-se e dirigiu-se para a porta.

– Passaram seis anos, Reyhan. Tens a certeza de que ainda queres ser seu marido?

Mesmo que não quisesse, era verdade. E Emma também era dele.

Emma sentia-se como se estivesse a nadar contra a maré, mas em vez de água, estava presa por fortes correntes de ar que a impediam de alcançar a superfície. Os pensamentos formavam-se e desfaziam-se na sua cabeça e sentia o corpo muito pesado. Alguma coisa acontecera. Recordava-o. Mas o quê?

Uma superfície fria e suave pressionou contra a sua boca.

– Bebe isto! – ordenou um homem.

Emma afastou os lábios sem pensar em negar-se e a água deslizou na sua boca. Bebeu, agradecida, e suspirou quando o copo se afastou. Sentindo-se melhor, abriu os olhos.

Oh, meu Deus... era ele! Os seus olhos não a tinham enganado. Conseguia sentir o seu calor e a sua força, sentado junto dela no sofá, com a sua anca a pressionar-lhe a coxa e uma das suas mãos a segurar a dela, enquanto o seu olhar penetrante a prendia como se fosse um passarinho numa gaiola.

Reyhan.

Não sabia se pronunciara o nome em voz alta ou se só pensara nele. Como era possível depois de tantos anos? Pestanejou e questionou-se se seria um sonho.

Mas não, não tinha tanta sorte. Ele era real e estava junto dela, por muito inverosímil que parecesse. Tinham passado seis anos desde que ele se aproveitara dela para depois a abandonar. Seis anos desde que ela se fechara em casa dos seus pais a chorar pelo que podia ter sido, desejando em segredo que voltasse por ela.

Mas ele nunca voltara e, finalmente, ela regressara à sua vida... mais velha, mais sábia e emocionalmente devastada.

– Já volta a estar connosco – disse ele, com uma voz baixa e profunda que ecoou como um trovão distante. – Não recordava que eras propensa aos desmaios.

– Eu nunca desmaio – respondeu ela.

– Acabaste de o fazer. Foi uma viagem muito comprida. Conseguiste dormir no avião?

Falava com uma naturalidade espantosa, como se o que estava a acontecer não fosse extraordinário. Como se só tivessem passado alguns dias e não seis anos desde a última vez que tinham estado juntos.

A indignação transformou-se em fúria. Queria gritar, insultá-lo, atirar-lhe alguma coisa à cabeça... Mas a educação que recebera como uma dama não lhe permitia mais do que fulminá-lo com o olhar.

Reyhan tocou-lhe ligeiramente na face.

– As tuas olheiras mostram a falta de sono. Suponho que não devia estranhar que não tenhas dormido. Não te explicaram porque te trouxeram para aqui. E, se bem me lembro, estavas sempre impaciente e ansiosa para saber tudo.

Emma desconcentrou-se momentaneamente enquanto lhe acariciava a pele, o que a irritou. Quando o polegar de Reyhan lhe tocou no lábio inferior, assustou-se. A sensação do seu toque atravessou-a como um relâmpago, derretendo tudo no seu caminho.

Não! Não podia reagir assim. Não podia sentir nada.

Se aquele homem era realmente Reyhan, a única coisa que podia causar-lhe era desprezo. Nem sequer merecia a sua atenção.

– Vejo a raiva nos teus olhos – disse ele, com um sorriso retorcido. – Como uma gata selvagem. Ainda bem que não tens garras. Caso contrário, poderias magoar-me.

E dito isto, voltou a surpreendê-la, beijando-lhe os nós dos dedos.

Emma sentiu como o calor da sua boca lhe chegava até aos dedos dos pés. A sensação ardente cresceu até sentir vontade de ronronar como a gata que ele mencionara.

– Pára! – ordenou, retirando a mão. Uma ordem que era dirigida aos dois. Nas últimas vinte e quatro horas, a sua vida mudara por completo, mas estava decidida a descobrir o que estava a acontecer. E para isso tinha de manter a calma e a concentração.

Afastou-se e ergueu-se até se sentar. E quando ele decidiu ajudá-la, ela rejeitou-o.

– Estou bem – disse-lhe, no tom mais gélido que pôde. – O que preciso de ti é que me expliques o que está a acontecer, o que faço aqui e, já agora, o que fazes aqui?

Antes de ele conseguir responder, um gato cor de canela com olhos violetas saltou para o colo de Emma. Ficou perplexa. Gatos no palácio?

Reyhan pegou no animal e pô-lo no chão. O gato olhou para ele, miou de desagrado e afastou-se.

– És alérgica aos gatos? – perguntou-lhe ele.

– O quê? Não.

– Ainda bem. Porque o palácio está cheio de gatos. São do meu pai.

Do seu pai? Esfregou a têmpora e pensou se queria perguntar-lhe quem era o seu pai. Por muito que gostasse de saber, a resposta dava-lhe medo. Porque tinha o pressentimento de que Reyhan tinha algum parentesco com o rei de Bahania.

Obrigou-se a acalmar-se enquanto Reyhan voltava a dar-lhe o copo de água. Ela aceitou-o e os seus olhares encontraram-se.

O que mais recordava dele eram os seus olhos. Escuros e cheios de segredos. Uma vez, acreditara que podia aprender-se a ler nos seus olhos, chegaria a conhecer a sua alma... Mas as poucas semanas que tinham passado juntos não lhes tinham dado tempo para se conhecer.

A tristeza ameaçava invadi-la e tentou proteger-se recordando o que Reyhan lhe fizera, como se fora embora e como ficara sozinha e preocupada. Era melhor estar zangada. Pressentia que ia precisar das energias da raiva.

– Não sei que jogo é este – replicou, – mas não vou participar. Quero voltar para minha casa imediatamente. Por favor, chama Alex e faz com que me leve de volta ao avião.

– A tua escolta do Departamento de Estado saiu do palácio. Passará a noite num dos nossos melhores hotéis da costa e voltará ao teu país de manhã – explicou-lhe Reyhan. – Não voltarás a vê-lo.

A fúria desapareceu e o medo ocupou o seu lugar. Alex fora-se embora? E ela ficara sozinha no palácio e naquele país?

Emma não sabia se devia começar a correr ou tentar escapulir-se. A cabeça ainda lhe dava voltas e não se sentia capaz de se levantar, de modo que a primeira opção ficava descartada.

– O que estou a fazer aqui? – perguntou. – Porque é que o rei da Bahania me pediu para vir? E o que estás a fazer aqui? Seja o que for, não pode haver nenhuma relação com o que está a acontecer-me.

A última frase foi mais uma súplica do que uma declaração. Reyhan olhou para ela. Os seus traços duros e atraentes pareciam esculpidos em pedra ou aço.

– Não adivinhaste? – perguntou-lhe, num tom tranquilo e jocoso. – O rei é o meu pai e o convite é tanto dele como meu.

Emma ficou com a mente em branco, completamente perdida e confusa. Foi como ficar sem luzes durante uma tempestade.

O homem sentado ao seu lado levantou-se, ergueu os ombros e olhou para ela com uma expressão altiva, possivelmente adquirida e aperfeiçoada por uma vida de arrogância real.

– Sou o príncipe Reyhan, o terceiro filho do rei Hassan de Bahania.

Emma pestanejou algumas vezes. Não era possível, disse-se, tentando apagar o pensamento que começava a formar-se na sua cabeça.

– Um prin... príncipe? – balbuciou. Não, não podia ser. Reyhan era um príncipe? O mesmo Reyhan que conhecera na universidade, com quem tivera alguns encontros, que a levara para longe... e que lhe partira o coração?

– O rei decidiu que é hora de me casar – disse-lhe ele. – E é impossível fazê-lo se já estou casado. Contigo.

Continuou a falar, mas ela não o ouvia. Não podia. Um príncipe? Casado?

– Mas... – falhou-lhe a voz e engoliu em seco antes de voltar a tentar. – Mas aquilo não foi a sério.

Recordou a tranquilidade da ilha caribenha, a brisa suave, o murmúrio das ondas, o quarto do hotel... Reyhan pedira-lhe para ir com ele e ela acedera porque não podia negar-lhe nada. Com dezoito anos era demasiado inocente e não se atrevera a dizer que nunca saíra com nenhum homem. Ele fora o primeiro, em todos os aspectos.

Anos mais tarde, quando recordava aqueles dias ardentes e as noites intermináveis, convencera-se de que estivera tão fascinada pelo amor que achava sentir por Reyhan que não conseguia negar-lhe nada. Nunca teria pensado em pedir-lhe que fossem mais devagar e que lhe desse tempo para se habituar. E quanto ao seu casamento, o advogado dos seus pais dissera-lhe que era uma farsa.

Durante muito tempo a verdade devastara-a. Odiara-se pela sua própria fraqueza com Reyhan e porque ainda continuava a desejá-lo, apesar de a ter usado e abandonado. O tempo fora a única coisa que a ajudara a curar as suas feridas.

– O que não foi real? – perguntou ele, franzindo o sobrolho.

– O nosso casamento. Só o fizeste para me levar para a cama... E para conseguir um visto de residência.

Assim que o disse, apercebeu-se de que cometera um erro. Reyhan pareceu crescer e tornar-se mais imponente à medida que o seu temperamento se avivava. A sua fúria era tão tangível como o sofá em que ela estava sentada e a sua expressão transformou-se numa careta de desprezo e desaprovação.

– Um visto de residência? Porque haveria de precisar disso? Sou o príncipe Reyhan, herdeiro ao trono de Bahania. Não tenho de procurar asilo em lado nenhum. Este é o meu país.

– Está bem – aceitou ela, pigarreando. Naquela altura, parecera-lhe uma possibilidade lógica. – Não te casaste comigo por isso.

– É claro que não. Fui ao teu país para continuar os meus estudos e honrei-te quando te dei o meu apelido e a minha protecção. E quanto a levar-te para cama, não valia a pena tanto esforço para uma recompensa tão miserável.

Emma afundou-se nas almofadas. A humilhação juntou-se ao seu medo. Por muito que tentasse bloquear as lembranças das suas noites partilhadas, continuavam a persegui-la. Supunha que o papel que ela interpretara poderia ser um bom exemplo do que não devia fazer-se numa noite de núpcias e nas noites seguintes.

Mas não fora culpa dela. Era virgem e ele também devia tê-lo feito melhor. Mas se Reyhan não se casara para conseguir um visto de residência nem para ir para a cama com ela, porque o fizera?

– Tens a certeza de que o casamento foi real? – perguntou-lhe. – O advogado dos meus pais disse o contrário.

– Esse advogado enganou-se – replicou Reyhan. – És a minha mulher. E agora que estás no meu país e na minha casa, tratar-me-ás com respeito e reverência. Entendido?

O impulso de fugir ganhou força repentinamente.

– Reyhan, eu...

Mas não conseguiu acabar o que ia dizer porque, naquele momento, uma rapariga, bonita, pequena e com curvas entrou no quarto.

– Ouvi dizer que Emma chegou e que desmaiou à tua frente. É verdade?

Reyhan desviou a atenção de Emma e olhou para ela, furioso. A mulher revirou os olhos.

– Sim, sim, eu sei. Sentes-te ofendido. Mas não esqueças que eu tive o filho do teu irmão mais velho, portanto tens de ser amável comigo.

– Pergunto-me o que Sadik vê em ti.

– Sou uma mulher ardente e apaixonada – disse ela, sorrindo enquanto se aproximava. – É uma maldição, mas é assim.

Emma não acreditava que pudesse surpreender-se mais, mas Reyhan demonstrou-lhe que se enganava quando sorriu para a mulher e a beijou na testa.

– Podes resolver isto? – perguntou ele à recém-chegada.

– Não sei se te referes a Emma ou à situação. Se me perguntares, és tu que precisas de ajuda – levantou a mão antes de ele conseguir replicar. – Farei o melhor que puder. Prometo-te. E agora, porque não nos deixas a sós? Responderei às perguntas de Emma e fá-la-ei sentir-se como em casa. Tu podes ir melhorar o teu encanto.

– Sou encantador – disse ele, arqueando as sobrancelhas.

– Deixa-me dar-te um conselho. Dizer «sou o príncipe Reyhan de Bahania» é muito antiquado. Acredita.

Sadik também o tentou comigo.

– A tua especialidade é criar problemas.

– Isso é verdade.

Reyhan assentiu e saiu do quarto.

– Isto está a acontecer realmente? – perguntou Emma, sentindo-se mais cansada e confusa do que em toda a sua vida.