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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2014 Harlequin Books S.A.

© 2017 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

O escândalo do xeque, n.º 2217 fevereiro 2017

Título original: Sheikh’s Scandal

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

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Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited.

Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-9398-6

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S.L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

Embora não fosse fácil impressioná-la, Liyah Amari não pôde evitar parar e abrir a boca, espantada, quando entrou no Chatsfield de Londres pela primeira vez. Era a insígnia do império hoteleiro da família Chatsfield, o alojamento preferido da elite da Europa.

O hotel que tinham em São Francisco, onde a mãe trabalhara durante toda a vida, era muito bonito, mas não podia comparar-se com a opulência daquele hotel. Desde o porteiro à grandeza de um vestíbulo que parecia uma grande sala de baile, sentia-se como se tivesse voltado ao passado e estivesse num palácio luxuoso de outra época.

O ambiente elegante contrastava com o ar de frenesim e antecipação que enchia tudo. Viu uma empregada a atravessar o vestíbulo a correr e supôs que não era algo comum. Outra mulher polia o corrimão de madeira da escada grande.

Pareceu-lhe que havia uma espécie de reunião improvisada à frente do balcão da receção. O pessoal estava muito ocupado com o telefone ou o computador enquanto ajudava a registar um casal de idosos muito elegantes e de aparência agradável.

– Bem-vindos ao Chatsfield de Londres, senhor e senhora Michaels. Aqui está a chave do vosso quarto – replicou um dos rececionistas, enquanto lhes entregava um saco. – E esta é a vossa oferta de boas-vindas. Esperamos que desfrutem da vossa estadia.

Estavam demasiado ocupados para prestar atenção às pessoas que entravam no hotel. Por trás do balcão da receção, viu uma fileira de fotografias do pessoal do Chatsfield de Londres. Sentiu um aperto no coração ao ver o retrato de Lucilla Chatsfield, era como se estivesse a olhar para ela.

Era uma Chatsfield e esperava poder conhecê-la. Mas Lucilla ocupava um posto demasiado importante e não achava que fosse fácil encontrá-la.

Um barulho chamou a sua atenção, um empregado da manutenção estava a trocar uma lâmpada do lustre grande que iluminava o vestíbulo com elegância. As paredes estavam pintadas num tom açafrão muito elegante que contrastava com as molduras beges e as colunas esbeltas. Tudo à sua volta emanava bom gosto e elegância.

Atravessou o vestíbulo quase sem fazer barulho e foi diretamente para o elevador, mas um homem interpôs-se no seu caminho.

– Posso ajudá-la?

Falou com educação, mas percebera que ela não devia alojar-se ali.

– Tenho uma reunião com a senhora Miller.

Como costumava fazer sempre, chegara quinze minutos mais cedo à reunião que ia ter com a chefe dos serviços de limpeza.

– Ah! Suponho que seja a empregada que vem de Zeena Sahra – concluiu o homem.

Não, na verdade, essa era a mãe dela.

– Bom, estou muito familiarizada com a cultura desse país, mas nasci nos Estados Unidos.

Tinham-na contratado como supervisora das empregadas do andar presidencial, que era por baixo das suítes mais luxuosas, as das águas-furtadas do hotel. Ia certificar-se de que os serviços de hospitalidade, manutenção e limpeza funcionavam bem e, para levar essas tarefas a cabo, teria de trabalhar e coordenar-se com a equipa da receção do hotel, tudo com o fim de aumentar a satisfação do cliente. O seu trabalho seria muito mais satisfatório do que o que a mãe tivera durante quase três décadas, algo de que Hena teria estado muito orgulhosa.

– Entendo – replicou o homem, enquanto se virava e começava a andar. – O elevador é aqui, acompanho-a para introduzir a sua chave de acesso e para que possa aceder ao porão.

– Obrigada.

Ainda faltavam uns minutos para a hora combinada quando Liyah bateu à porta da chefe dos serviços de limpeza.

– Entre – convidou alguém, do interior.

A senhora Miller era uma mulher alta e magra e usava um fato parecido com o de Liyah, mas ainda mais conservador e sério. A sua blusa branca estava engomada e abotoada até ao pescoço.

– É um prazer, menina Amari. Espero que esteja pronta para começar a trabalhar imediatamente.

– Sim, é claro.

– Ótimo. O seu andar foi reservado para o harém do xeque – explicou, com um pouco de desdém.

– Como? Um xeque de Zeena Sahra vai alojar-se aqui?

Na verdade, o que a surpreendia era que precisasse de um andar inteiro para o seu harém. Ao sabê-lo, não estranhou que tivessem querido transferir a mãe de São Francisco.

– É verdade. O xeque Bin Falah vai alojar-se aqui durante duas semanas. A noiva vai acompanhá-lo durante a segunda semana.

Liyah tentou esconder a sua surpresa.

– Trata-se do xeque Al Zeena ou Bin Falah al Zeena, poderia ofender-se se alguém se referir a ele como o xeque Bin Falah.

Não sabia se era boa ideia corrigir a nova chefe, mas presumia que fora contratada precisamente pelo seu conhecimento daquele tipo de coisas. Finalmente, entendia porque precisavam de alguém com a sua experiência. Não se tratava de mais um xeque, era o príncipe herdeiro de Zeena Sahra que ia alojar-se no Chatsfield de Londres.

Era um dos homens mais atraentes que alguma vez vira e não teria estranhado que se transformasse numa espécie de playboy, mas tinha a reputação de ser um homem sério e cabal e de estar completamente concentrado nas suas funções como emir de Zeena Sahra.

– Muito bem, tomarei nota – disse a senhora Miller. – É aceitável chamar-lhe «Sua Alteza»?

– Sim, mas li que prefere o título de emir.

– E como é que ninguém nos tinha informado disso? – perguntou, indignada. – Tudo o que se relaciona com esta visita é importante. Temos de estar atentos a cada detalhe.

– Vou esforçar-me ao máximo para que assim seja.

– Ótimo. Para além das suas tarefas, durante a visita do xeque, vai encarregar-se de fiscalizar o trabalho das empregadas nos aposentos do xeque e dos guarda-costas dele.

Sentia-se como se estivesse a empurrá-la diretamente para o fundo da piscina. Mas não se importou, gostava de desafios.

Alegrou-se por ter conseguido uma licenciatura em gestão hoteleira, pois era algo que a preparava para aquele tipo de trabalho. E também não fora mau ter tido a oportunidade de trabalhar todos os verões a limpar quartos no Chatsfield de São Francisco. Fizera-o durante os seus anos no liceu e na universidade. A mãe sempre se opusera a ter a filha a trabalhar no Chatsfield e, finalmente, sabia porquê.

Passou o primeiro dia a orientar os empregados sobre Zeena Sahra. Quando acabou, voltou para o estúdio que acabara de arrendar, cansada.

Era muito mais pequeno do que o apartamento que partilhara com a mãe em São Francisco. Mas não se importara de sair de lá quando conseguira aquele emprego. Fora uma coincidência maravilhosa, uma oportunidade de fazer o que a mãe lhe pedira como último desejo. E aquele novo emprego permitira-lhe poder mudar-se usando unicamente uma pequena parte do dinheiro que conseguira do seguro de vida da mãe. Essa compensação fora tão bem recebida como inesperada, uma das muitas surpresas que tivera depois da morte da mãe.

O hotel de Londres contactara a chefe do serviço de limpeza do hotel de São Francisco, Stephanie Carter, com a esperança de oferecer o emprego a Hena Amari. Precisavam de alguém que conhecesse bem o país natal da mãe.

Mas, como a mãe falecera, Stephanie sugerira que entrassem em contacto com Liyah. Devido à sua educação e à sua experiência, fora a candidata perfeita para aquele emprego.

E não deixava de ser irónico que aquele emprego no hotel lhe permitisse cumprir o último desejo de Hena. Não se sentia magoada com tudo o que a mãe lhe escondera, mas tivera de controlar as emoções ao máximo para aceitar tudo o que descobrira.

O que mais a impressionara fora saber que o hoteleiro inglês extremamente rico, Gene Chatsfield, era o seu pai biológico.

Depois de anos a saber das façanhas dos filhos dele pela imprensa cor-de-rosa, custava-lhe a acreditar que podia estar relacionada com eles. Não lhe parecia que pudesse ter nada em comum com os filhos famosos e malcriados de Chatsfield. Sentia curiosidade por aquele homem, capaz de dar tantos caprichos aos filhos enquanto enviara uma quantia tão pobre a Hena para tomar conta dos gastos da filha.

Aparentemente, Gene tivera numerosas aventuras com empregadas da limpeza do hotel, mas essas histórias nunca tinham chegado à imprensa. Sabia que a mãe não soubera dessas outras aventuras quando fora para a cama com ele. E só descobrira que estava grávida depois de o empresário hoteleiro ter saído de São Francisco. Contava-lhe isso na carta.

Nunca dissera a ninguém quem era o pai de Liyah. Envergonhara-a saber que estivera com um homem casado. Mesmo assim, na carta, Hena pedira-lhe que o perdoasse.

Nessa missiva, a mãe dizia que Gene Chatsfield não era uma má pessoa e chegava a desculpá-lo, dizendo que se deixara levar pela tentação num momento muito difícil da sua vida. A mãe pedira a Liyah para ir Londres e para falar com o pai.

Liyah respeitava a última vontade da mãe, mas estava contente por ter a oportunidade de observar aquele homem de longe e deixar que pensasse que era apenas uma empregada, não a filha que nunca quisera reconhecer.

 

 

Liyah ficou imóvel e meio escondida entre as sombras de um extremo do vestíbulo. Já estava em Londres há duas semanas, mas ainda não conseguira ver o pai.

Dizia-se que o xeque Sayed bin Falah al Zeena chegava naquele dia e Liyah tinha a certeza de que o pai desceria para receber o convidado importante pessoalmente.

A importância que a estadia do xeque tinha para o hotel ficara muito clara durante aqueles dias e sabia que seria ainda mais importante para o dono do Chatsfield. Descobrira que Gene Chatsfield residia no Chatsfield de Nova Iorque e que deixara o novo diretor executivo, Christos Giatrakos, a cargo do hotel em Londres. Mas mudara-se temporariamente para Londres para fiscalizar a visita do emir.

E, sabendo como era importante para o pai, estava a esforçar-se especialmente no seu trabalho. Quando finalmente dissesse a Gene quem era, não queria que pudesse atirar-lhe alguma coisa à cara.

O seu andar estava perfeito. Todos os quartos estavam prontos e tinham acrescentado, naquela manhã, cestas com frutas e jarras com jasmins. Fizera com que pusessem um biombo junto do elevador do seu andar para bloquear os quartos do harém dos olhares dos curiosos.

Também fiscalizara a suíte do xeque para se certificar de que não havia nada lá que pudesse ofendê-lo durante a sua estadia.

Parou de pensar nos preparativos quando viu um homem mais velho a atravessar o vestíbulo com grande segurança. Percebia-se que era o dono pela forma como olhava à volta. Viu que inclinava a cabeça com um ar régio quando os empregados o cumprimentavam. Era o pai.

Tinha o cabelo grisalho, olhos claros e brilhantes. Era alto, mas já começava a encurvar-se ligeiramente. Usava um fato feito à medida e sapatos artesanais. Tinha o aspeto de um homem que poderia dar-se ao luxo de se alojar naquele hotel.

Viu que ia até ao balcão e dizia alguma coisa ao chefe da receção. Ficou com falta de ar ao vê-lo sorrir. Vira aquele mesmo sorriso no espelho todos os dias. Os lábios daquele homem eram mais finos, mas aquele sorriso amplo e aquele queixo pontiagudo… Eram-lhe tão familiares que não pôde evitar que o coração acelerasse.

Tinha os olhos azuis e os dela eram verdes, mas a forma era a mesma.

Liyah herdara um tom de pele dourado da mãe. Também o rosto ovalado, um nariz pequeno, o cabelo preto como o de Hena e a estatura pequena. Bastava vê-las juntas para que todos percebessem que eram mãe e filha. Nunca lhe passara pela cabeça que podia partilhar alguns traços físicos com o pai.

A semelhança não era óbvia, mas aquele sorriso deixou tudo muito claro. Aquele homem era o seu pai.

Sentiu que lhe tremiam as pernas, custava-lhe acreditar que estava a vê-lo pela primeira vez. Nunca soubera quem era nem que enviara dinheiro à mãe para a ajudar. Liyah só se apercebera da rejeição da família Amari por Hena e por ela. Crescera sabendo que a mãe era toda a família que tinha. Os Amari não tinham querido saber nada dela quando ficara grávida sem estar casada.

E, desde a morte da mãe, estava sozinha. Fora por isso que decidira ir até lá, para cumprir o desejo da mãe e com a esperança de ter uma relação com o pai e não estar sozinha, embora pensasse que talvez Gene Chatsfield não quisesse torná-lo público.

Viu que o rosto do pai mudava de repente. O sorriso e a postura eram mais tensos.

Liyah seguiu o olhar do seu pai e, pela segunda vez em poucos minutos, as pernas voltaram a tremer.

Naquele momento, o homem mais atraente que vira na vida estava no hotel. Estava rodeado de um séquito impressionante e vestido com o traje tradicional de um xeque de Zeena Sahra. Era alto e forte. Tinha um queixo muito marcado e uma barba bastante bem aparada. Apercebeu-se de que as fotografias que vira não lhe faziam justiça.

O xeque Sayed bin Falah al Zeena transmitia poder e segurança com a sua simples presença.

Usava uma abaya preta sem enfeites, a túnica tradicional do seu país, por cima de um fato Armani, e um grande lenço ou kufiya cor de vinho na cabeça, preso por um cordão triplo em preto. A cor do kufiya era o da casa real de Zeena Sahra e os três cordões, em vez dos dois habituais, indicavam subtilmente a sua condição de emir. E o facto de usar a túnica tradicional por cima de um fato à medida mostrava a modernidade dele. Fora um antepassado daquele homem que conseguira a independência da sua tribo, o povo que, mais tarde, se transformou no emirato de Zeena Sahra. Mas tiveram de passar anos de lutas sangrentas até se transformarem num estado mais ou menos moderno.

De maneira inexplicável, sentiu-se atraída por aquele homem e começou a aproximar-se sem pensar no que fazia. Só parou, de maneira brusca, quando viu que estava a apenas alguns metros do xeque. Mas já era demasiado tarde para corrigir o seu erro.

O olhar escuro do xeque Sayed caiu sobre ela e não se desviou.

Todos pensavam que era imperturbável e tranquila, mas não soube o que fazer naquele momento. Não conseguia pensar em algo coerente para dizer, nem sequer umas palavras de boas-vindas.

Ficou onde estava e sentiu que o seu corpo reagia de uma maneira completamente nova, era o tipo de reação sobre a qual a mãe sempre a avisara.

Sabia que estava rodeado pelo seu séquito e que também estava atento a todo o pessoal do hotel, entre eles o seu próprio pai, mas Liyah só tinha olhos para o emir. Sentiu que o perfume do emir, misturado com o seu próprio cheiro masculino, a embargava.

Sentiu que os mamilos ficavam tensos e o coração começou a acelerar. A sua respiração também estava a ver-se afetada. Custava-lhe fingir o contrário.

Nada na expressão do emir mudou enquanto a observava, mas alguma coisa no fundo do olhar escuro dele deixou muito claro que ela não era a única que se sentia afetada.

– Xeque al Zeena, apresento-lhe Amari, a nossa supervisora dos serviços de limpeza. Estará a cargo do andar do harém e da sua suíte – interveio o chefe da receção.

Estava habituada a ser chamada pelo seu apelido, mas não a lidar com príncipes herdeiros. Felizmente, o seu cérebro conseguiu despertar, antes de fazer uma figura ainda mais ridícula. Conseguiu cobrir o punho esquerdo com a mão direita e pressionar ambas as mãos sobre o lado esquerdo do peito. Baixou a cabeça e inclinou-se um pouco para frente.

– Emir… Será um prazer servi-lo e ao seu séquito.

 

 

Sayed teve uma reação totalmente inaceitável ao ouvir as palavras e ver os gestos da empregada encantadora. Sentiu que o seu sexo despertava e não pôde evitar que a cabeça se enchesse de imagens muito sugestivas. Sem conseguir fazer nada para controlar os seus pensamentos, as mais incríveis fantasias eróticas encheram a sua mente.

Viu que a mulher corava e alguma coisa na expressão vulnerável, quase faminta, dos olhos verdes deixou muito claro que as fantasias que tinha poderiam cumprir-se. Aperceber-se disso só serviu para aumentar a reação sexual tão inesperada que estava a ter. Achava que era uma sorte que o seu corpo estivesse escondido por baixo da abaya. Todo o seu corpo parecia dominado por uma necessidade com que não estava familiarizado.

Recordou que estava prestes a casar-se e que era o emir do seu país. Tinha de se livrar das imagens que enchiam a sua cabeça e ignorar a resposta física do corpo.

– Obrigado, menina Amari – agradeceu, com seriedade.

Mostrou-se mais frio e distante do que seria necessário para esconder a reação que aquela mulher lhe causava. Fez um gesto à mulher que se encarregava de tratar das suas necessidades domésticas.

– Apresento-lhe Abdullah-Hasiba. Vai encarregar-se de lhe comunicar qualquer necessidade que possamos ter durante a nossa estadia no hotel. Se tiver alguma dúvida, fale com ela.

– Obrigada, Alteza – agradeceu, inclinando a cabeça novamente, segundo a tradição do seu país. – Será um prazer trabalhar consigo, Abdullah-Hasiba – acrescentou, virando-se para a outra mulher.

E foi então que a empregada atraente do hotel fez o que os empregados pareciam fazer tão bem, desapareceu rapidamente e ele teve de se conter para não se deixar levar pelo impulso avassalador de a chamar para que voltasse.

Capítulo 2

 

Enquanto batia à porta do quarto de Miz Abdullah-Hasiba, Liyah não conseguia parar de pensar no que lhe acontecera. Continuava sem entender como podia ter esquecido a presença do pai no vestíbulo quando o emir chegara.

Nem sequer tivera a oportunidade de olhar para Gene Chatsfield nos olhos pela primeira vez. Não entendia como podia ter perdido uma oportunidade tão boa.

Afinal de contas, estava ali para observar o pai e para lhe dizer quem era. Tinha de recordar que não aceitara o trabalho no Chatsfield de Londres para observar um príncipe de Zeena Sahran.

Não podia esquecer que ela não era assim, que Aaliyah Amari não desejava ninguém.

A porta abriu-se à frente dela e não conseguiu evitar assustar-se. Era absurdo. Afinal de contas, ela própria batera à porta, mas ainda estava perturbada com tudo o que acontecera naquele dia. Recordou-se que tinha de ser profissional e concentrar-se na tarefa.

A governanta pessoal do emir juntou as mãos à frente dela e inclinou a cabeça para frente. Usava um qamis, o vestido tradicional árabe, de cor damasco e com bordados dourados à volta do colarinho e dos punhos.

– Menina Amari, como posso ajudá-la? – perguntou a mulher.

– Queria certificar-me de que tanto a senhora como o resto das acompanhantes femininas do emir encontraram tudo ao vosso gosto.

– Está tudo perfeito – afirmou a mulher, dando um passo atrás e fazendo-lhe um gesto para que entrasse. – Por favor, entre.

– Não quero incomodá-la, deve estar muito ocupada.

– Não é um incómodo. Tem de partilhar uma chávena de chá comigo – convidou a mulher.

Não podia rejeitar o convite sem ser descortês e também não lhe apetecia fazê-lo. Liyah seguiu a outra mulher até ao pequeno sofá que havia num dos lados do quarto luxuoso. Embora lhe custasse admiti-lo, não podia negar o fascínio que sentia pelo emir.

O conjunto árabe de chá que comprara em nome do hotel estava na mesa do centro. Comprara outros dois, para o xeque e para a noiva.

Miz Abdullah-Hasiba usou a chaleira elegante de vidro e cobre para servir duas chávenas.

– Este conjunto é muito bonito – comentou a mulher.

– Sim? Alegra-me que goste.

A governanta assentiu com um sorriso.

– É claro. Nunca viajamos com conjuntos próprios, são demasiados frágeis.

Esperou que a outra mulher provasse o chá antes de fazer o mesmo. Adorou desfrutar da bebida quente e adocicada e das lembranças agridoces que evocava. A mãe sempre a ensinara a começar e a acabar o dia com uma chávena de chá de menta com um toque de mel.

– E o Chatsfield é o primeiro hotel durante este itinerário pela Europa que teve o detalhe de oferecer um conjunto de chá tradicional do nosso país ao emir.

– Mas receio que só haja conjuntos de chá no seu quarto, na suíte do emir e na da noiva.

A mulher sorriu ao ouvir aquelas palavras.

– O conhecimento que tem da nossa cultura é elogiável. Qualquer outro empregado do hotel teria posto o conjunto de chá no quarto do secretário do emir.

Liyah adorou o elogio, mas não disse nada. Estava mais a par da cultura de Zeena Sahran do que qualquer britânico ou americano, mas achava que qualquer pessoa que fosse um pouco observadora teria percebido que a governanta ocupava o quarto mais luxuoso, junto da suíte da noiva do emir.

– Sei que o secretário do xeque é bastante novo no emprego – comentou Liyah.

– É verdade. O emir gosta de se reger pelos velhos costumes e o seu assistente pessoal é, como não podia ser de outro modo, um homem, Duwad.