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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2011 Carol Marinelli

© 2014 Harlequin Ibérica, S.A.

O diabo veste Kolovsky, n.º 1551 - Julho 2014

Título original: The Devil Wears Kolovsky

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial. Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença. As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-5377-5

Editor responsável: Luis Pugni

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño

www.mtcolor.es

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Epílogo

Volta

Capítulo 1

 

Zakahr Belenki escolheu não ir a pé, embora os escritórios da Casa Kolovsky não fossem muito longe do hotel que seria o seu lar durante as próximas semanas.

Também podia ter feito o trajeto de helicóptero e, desse modo, evitar a imprensa, mas passara muito tempo à espera daquele momento. Fora o futuro que lhe permitira superar uma infância infernal e que, finalmente, se apresentava à frente dele.

Deu instruções ao motorista para que seguisse o caminho mais longo desde o hotel. A limusina de vidros fumados atraía os olhares enquanto percorria as ruas elegantes de Melbourne até à Casa Kolovsky. O edifício azul cerúleo com o logótipo dourado da Kolovsky pareceu-lhe familiar, pois as lojas eram conhecidas em todo o mundo. As montras exibiam, com uma simplicidade elegante, uma grande opala rodeada de seda que cintilava à luz da manhã. De um ponto de vista estético, era bonito, mas Zakahr sentia um nó no estômago.

– Continua.

O motorista obedeceu e, alguns instantes depois, pararam à frente dos escritórios da Casa Kolovsky.

Os jornalistas esperavam por ele com as câmaras preparadas, mas, por uma vez, Zakahr não se importou. Não era apenas imensamente rico e atraente, mas também se relacionara com as mulheres mais bonitas e famosas da Europa e todas as revistas cor-de-rosa falavam da sua fama de mulherengo.

Normalmente, Zakahr detestava que invadissem a sua privacidade, mas, naquele lugar, do outro lado do mundo, e naquele momento em particular, sorriu ao pensar nos Kolovsky a ver as notícias enquanto tomavam o pequeno-almoço.

Oxalá se engasgassem...

Ao sair da limusina, foi recebido por uma chuva de flashes, perguntas e microfones.

O magnata europeu ia apropriar-se da Casa Kolovsky? Ou só estava ali para substituir Aleksi Kolovsky durante a lua de mel?

Gostara do casamento?

Tinha alguma relação?

Estava interessado na Kolovsky?

Aquela era uma boa pergunta, considerando que o ícone da moda mundial era apenas um grão de areia numa carteira como a de Belenki.

Zakahr não fez nenhum comentário e também não o faria depois.

Muito em breve, os factos falariam por si só.

O sol aquecia-lhe a nuca. Com uns óculos escuros a esconder os seus olhos cinzentos, uns lábios firmes e uma expressão ininterpretável, oferecia uma imagem imponente. Era mais alto e tinha as costas mais largas do que qualquer um dos jornalistas congregados à sua volta. Estava impecavelmente barbeado e tinha uma tez branca que contrastava com os cabelos pretos e curtos. Porém, apesar do fato feito à medida, o relógio de pulso caro e os sapatos de primeira qualidade, a sua expressão mostrava um mal-estar que fez com que os jornalistas pensassem duas vezes antes de o incomodar. Nenhum deles queria transformar-se no alvo da sua raiva.

Atravessou a rua e subiu os degraus, deixou para trás o enxame de jornalistas e empurrou as portas giratórias para entrar no edifício.

Pensou em parar um momento para se deleitar com a situação. Finalmente, tudo aquilo era dele. Contudo, o sucesso não bastava para preencher o seu vazio interior. Zakahr sentia-se estimulado com um desafio e era com aquela disposição que estava ali. No entanto, ao revelar a sua identidade, tinham-lhe servido a Casa Kolovsky numa bandeja de prata.

Sentiu a inquietação de todos os que o rodeavam, mas nada podia afetá-lo.

– Senhor Belenki...

O cumprimento seco e lacónico seguiu-o até ao elevador, em cujo interior continuou a sentir o mesmo desassossego enquanto subia para o andar do seu escritório. Era como se uma inquietação estranha emanasse pelo ar condicionado e enchesse as paredes e as carpetes. Todos tinham razões para estar nervosos. A presença de Zakahr Belenki no edifício só podia significar uma mudança drástica na empresa.

Ninguém, para além da família, sabia quem era realmente.

Percorreu velozmente o corredor em direção ao seu escritório. Seria a primeira vez que entraria nele como patrão.

Abriu as portas pesadas de madeira, disposto a reclamar o seu direito de nascimento, mas o momento de triunfo soube a pouco quando foi recebido por uma escuridão total. Franziu o sobrolho enquanto acendia as luzes e o que viu fê-lo cerrar os dentes... Não havia ninguém para o receber, as cortinas estavam corridas e os computadores, desligados.

Os Kolovsky pensavam que tinham a última palavra?

Aleksi casara-se no fim de semana anterior com a assistente pessoal, Kate, mas assegurara a Zakahr que passara as últimas semanas a preparar a sua substituta. O problema era que não havia ninguém ali.

Agarrou no telefone da mesa mais próxima para ligar para a receção e exigir que enviassem alguém imediatamente. No entanto, naquele instante, a porta abriu-se e Zakahr ficou paralisado ao ver entrar uma loira com um grande copo de café. Passou ao seu lado e deixou o café numa mesa.

– Lamento chegar atrasada – desculpou-se, enquanto tirava o casaco e ligava o computador. – Sou Lavinia.

– Eu sei – respondeu Zakahr. Vira-a no casamento do irmão e era um rosto que não poderia passar desapercebido. Tinha uns olhos azuis grandes e um cabelo loiro que lhe conferiam uma beleza suave, apesar de o aspeto dela distar muito do que vira no casamento. As olheiras e a expressão cansada sugeriam que estava mais pronta para ir para a cama do que para trabalhar.

– É assim que tenciona causar uma boa impressão? – perguntou Zakahr, habituado às secretárias e empregadas bonitas, bem-educadas e escrupulosamente discretas. Não como aquele redemoinho loiro que irrompia no escritório e que tirava um espelho enorme da gaveta para se maquilhar na mesa.

– Dá-me cinco minutos – pediu, enquanto aplicava a base e fazia desaparecer as olheiras, – e já te dou uma boa impressão.

Zakahr não conseguia acreditar em semelhante ousadia.

– Onde está a secretária?

– Casou-se no sábado – esclareceu Lavinia, terminando a frase com um risinho. A resposta devia parecer-lhe engraçada, já que Zakahr estivera no casamento. – A substituta foi-se embora a chorar na sexta-feira e disse que nunca mais voltaria.

Não estava disposta a pintar a situação de cor-de-rosa. A Casa Kolovsky estava perdida no caos desde que se soubera que Zakahr Belenki ia tomar conta da empresa e, se aquele homem pensava que podia chegar ao escritório e encontrar tudo em ordem, estava muito enganado.

Lavinia sabia que estava a incomodá-lo ao maquilhar-se, mas não tinha outro remédio. Em menos de uma hora, sairiam para o aeroporto e era crucial que ela tivesse um aspeto decente.

– Kate maquilhava-se quando estava no escritório? – quis saber, sem esconder a sua irritação.

– Kate não foi contratada por causa do seu aspeto – indicou Lavinia.

Zakahr detetou o sarcasmo e reprimiu um sorriso. Kate era exatamente o contrário de Lavinia, que devia estar a retorcer-se de inveja por uma mulher com alguns quilos a mais, insípida e mãe solteira ter conseguido casar-se com Aleksi Kolovsky.

– Kate deve ter outras virtudes mais importantes – indicou e não pôde resistir a acrescentar mais: – Ao fim e ao cabo, casou-se com o patrão!

O pincel da base deteve-se por um instante na face.

– Onde está o teu pessoal? – perguntou Lavinia, olhando para ele com o sobrolho franzido.

– Infelizmente para mim, tu és o meu pessoal.

– Não trouxeste ninguém contigo? – o espanto era evidente. E não lhe faltava razão. Zakahr Belenki tinha negócios por toda a Europa e a sua equipa encarregava-se de injetar enormes quantias de dinheiro nas empresas com problemas económicos para as manter a funcionar. A Casa Kolovsky não se encontrava numa situação precária e, embora Lavinia soubesse que Zakahr estava ali por motivos pessoais, era impensável que aparecesse no escritório sozinho. – E a tua equipa?

O pessoal de Zakahr ficara perplexo quando lhes comunicara que tencionava ir para a Austrália sem eles. Todos tinham presumido que estava a avaliar a viabilidade e o potencial de alguma empresa e, para esse trabalho, contava sempre com a sua equipa de confiança. Porém, Zakahr era um líder e, como tal, não podia dar a menor demonstração de fraqueza. A Kolovsky era a sua única fraqueza e ele não ia explicar à sua equipa os motivos pessoais daquela viagem. Nem a Lavinia. Em vez disso, pediu-lhe que lhe trouxesse café e entrou no escritório, fechando a porta com força.

Lavinia trabalhara para Levander e Aleksi Kolovsky, por isso era imune aos barulhos.

Sentada à frente da sua mesa, a única coisa que queria era fechar os olhos e dormir. Não causara muito boa impressão ao chegar atrasada, contudo, se Zakahr se tivesse incomodado em perguntar-lho, ter-lhe-ia falado do motivo. O fim de semana fora um verdadeiro inferno e o pior não fora o casamento.

Na sexta-feira, os serviços sociais tinham finalmente ficado com a meia-irmã e, embora fosse um alívio para Lavinia, nem tudo fora tão rápido como esperava. Em vez de a deixar com ela, tinham levado Rachael para um lar de acolhimento temporário e estavam a analisar a situação.

Lavinia passara três noites em branco a pensar no futuro de Rachael e em como a pequena devia sentir-se num lar estranho, a dormir numa cama estranha e rodeada de pessoas estranhas.

Não podia fazer mais por ela e sabia que, pelo menos, a menina estava sã e salva, mas mesmo assim, era uma tortura estar naquele escritório. Se tivesse sido qualquer outro dia, teria ligado para dizer que estava doente.

Mas ligar a quem?

A secretária que Kate preparara desistira na véspera do casamento. Aleksi estava na lua de mel. Os outros irmãos Kolovsky tinham ignorado a empresa por completo. E Nina, a pobre Nina, estava internada num hospital psiquiátrico desde que descobrira quem era Zakahr Belenki.

As autoridades estavam a examinar a fundo as aptidões de Lavinia para ser mãe adotiva, por isso precisava de um trabalho fixo. De maneira que, em vez de não aparecer, tomara banho e vestira-se com a roupa preparada na noite anterior: uma camisa escura e um fato preto com uma saia bastante curta. Calçara os seus sapatos de salto alto favoritos, também pretos, e conseguira chegar ao escritório com apenas cinco minutos de atraso... Ou melhor dizendo, quarenta e cinco minutos mais cedo, já que quase todos os escritórios abriam às nove. Um detalhe que Zakahr Belenki nem se incomodava em ter em conta.

Deitou a língua de fora para a porta fechada.

Era mais arrogante do que todos os irmãos juntos. E ela sabia quem era. Apesar do seu apelido, sabia que era um Kolovsky, o filho secreto de Nina e Ivan.

Uma vez satisfeita com a maquilhagem, reviu a agenda do dia no computador. Tivera muitos problemas com Kate, a ex-secretária e esposa de Aleksi, mas, naquele momento, sentia a falta dela.

Lavinia era uma secretária eficiente, mas sabia muito bem que a tinham contratado pelo seu aspeto. A beleza física tinha um papel primitivo na empresa Kolovsky. Na atualidade, no entanto, a equipa que Ivan formara fora desmantelada desde a sua morte. Isso, em conjunto com o facto de Zakahr não ter trazido a sua equipa impressionante, deixava Lavinia com uma responsabilidade enorme.

O que não deveria importar.

Lavinia era muito consciente de que muitos assistentes adorariam ceder as suas secretárias a Zakahr. Quem naquele edifício não quereria uma rota direta para o patrão novo e enigmático?

Ela. Não desejava estar ali, mas, mesmo que não gostasse, tinha de se certificar de que a empresa trabalhava bem até Zakahr compreender os mecanismos complicados da mesma. As pessoas podiam acusá-la de ter delírios de grandeza... Como se a Casa Kolovsky precisasse da sua ajuda para seguir em frente! Mas os detalhes também importavam e, sem ela, não poderiam resolvê-los.

Apoiou a cabeça na mesa e fechou os olhos.

Descansaria um minuto e começaria a trabalhar.

Um minuto, apenas. Então, levantar-se-ia, esboçaria um sorriso e prepararia café para ambos. Talvez Zakahr e ela pudessem começar do zero.

Só um minuto...

– Lavinia!

Deu um salto na cadeira.

Era exatamente o que Zakahr pretendia, depois de a ter avisado pelo telefone, de a ter chamado aos gritos algumas vezes e de a ter surpreendido a dormir na mesa.

Lavinia acordou ao ouvir a voz dele atrás dela. Sentiu a fúria que a presença dele emanava, tão intensa como a fragrância embriagadora da colónia, e sentiu a tentação de agarrar na sua mala e ir para casa em vez de seguir as ordens de Zakahr.

– Tu e a tua ressaca podem vir ao meu escritório?

Capítulo 2

 

Lavinia desejou que a terra a engolisse.

Durante um minuto, permaneceu sentada à mesa, vermelha de vergonha, antes de conseguir pensar em ir ao escritório de Zakahr.

Era o seu primeiro dia no escritório e o seu novo patrão surpreendera-a a dormir na mesa. Costumava recuperar rapidamente a compostura, mas, daquela vez, nem sequer tentou sorrir.

– Lamento, Zak... – fez uma pausa quando entrou no escritório e lhe indicou que se sentasse. Estava a falar ao telefone, em russo, e embora Lavinia não entendesse o que dizia, conseguia perceber que não estava a ser adulador.

A voz de Zakahr era grave e profunda e não precisava de gritar para transmitir segurança e convicção. Era incrivelmente atraente, tal como os irmãos.

Ou até mais. Como se Deus, não contente por o tornar perfeito, tivesse continuado a esmerar-se na sua obra. A beleza física de Zakahr era digna de um exame exaustivo e Lavinia examinou-o, tal como faria com as fotografias de um modelo recém-chegado à empresa.

As feições dele ofereciam uma simetria rara e perfeita, com umas maçãs do rosto marcadas e um nariz romano que fariam as delícias de um fotógrafo. Ou melhor dizendo, o pesadelo, porque Lavinia não o imaginava a posar para uma sessão de fotografias. Os olhos dele, cinzentos e penetrantes, não refletiam a menor condescendência nem permitiam adivinhar a sua natureza. Normalmente, Lavinia não tinha problemas para analisar as pessoas, mas, com Zakahr, era impossível.

Observou-o enquanto desligava o telefone e Lavinia sentiu que as faces lhe ardiam. Normalmente, nunca era a primeira a desviar o olhar.

– Quero pedir-te desculpa... – começou a dizer, quebrando um silêncio que só devia parecer incómodo para ela. – Ontem à noite, mal consegui dormir e...

– Estás preparada para trabalhar? – perguntou ele, num tom cortante, sem ouvir as desculpas. – Sim ou não?

– Sim – respondeu, incomodada por não poder explicar-se.

Ele levantou-se, deixando-a sentada, e começou a fazer o café, pois não podia confiar que ela o fizesse. Na verdade, era ele que estava a sofrer de uma ressaca terrível. O casamento de Aleksi fora um inferno. Cumprira com o seu papel junto do homem que tentara fazer o mesmo por ele, mas, assim que fora possível, saíra dali e afastara-se da mulher que desprezava com toda a sua alma.

Durante a cerimónia, esforçara-se para não olhar para Nina, a mãe biológica, para tentar demonstrar a sua mais absoluta indiferença. Ao contrário dela, que estava internada num hospital psiquiátrico depois de descobrir que Zakahr era seu filho.

«Quem semeia ventos, colhe tempestades», aprendera quando era criança. Devia alegrar-se por Nina estar hospitalizada e por ser ele a gerir o império dos pais. Porém, no dia anterior, em vez de saborear o momento, passara um longo momento sentado num táxi à frente do hospital, a tentar juntar coragem para entrar.

Eram muitas as coisas que precisava de dizer a Nina e que ela merecia ouvir, mas, ao descobrir como estava doente, não se sentira capaz de aumentar o seu sofrimento. Dissera ao taxista para o levar ao casino e consolara-se com a certeza de que, muito em breve, se assim o desejasse, poderia apagar o nome da Casa Kolovsky e fingir que nunca existira, como os pais tinham feito com ele. Durante várias horas, tentara abstrair-se entre as mesas de jogo e as mulheres mais bonitas, mas não conseguira fazer com que despertassem o seu interesse e passara a noite no hotel, afogando as mágoas em brande.

E, naquela manhã, era ele e não a secretária que estava a fazer o café...

Ofereceu-lhe uma chávena e ela fez uma careta de nojo ao prová-lo, queixando-se por estar demasiado açucarado.

Devia despedi-la, pensou Zakahr.

Dizer-lhe para desaparecer dali imediatamente.

Infelizmente, apesar de ser uma incompetente e não haver pior secretária no mundo do que ela, Zakahr precisava dela. Aleksi dera-lhe, de muito má vontade, uma contrassenha para aceder a todo o sistema informático, mas, para isso, antes tinha de iniciar a sessão no computador.

– Qual é a contrassenha para o computador?

– HoK. Com «O» minúsculo – esclareceu, quando Zakahr não conseguiu à primeira tentativa.

– Quero dirigir-me a todos esta manhã – informou-a. – Depois, quero uma entrevista de quinze minutos com cada um, desde os estilistas até às empregadas da limpeza. Quero ter o primeiro no meu escritório depois do almoço. Encarrega-te de coordenar tudo, dá-me o historial profissional de cada um e...

– Impossível – declarou ela e, pela expressão de Zakahr, supôs que não estava habituado a ser contrariado. – Hoje recebemos a visita de alguém importante... A filha do rei Abdullah. Vem para uma prova.

– E?

– Todos os meses, somos visitados por alguma noiva famosa e é importante que um Kolovsky a receba no aeroporto e a traga para aqui.

– Para aqui? Porque não para um hotel?

– Porque este é o momento com que ela sempre sonhou – Zakahr era muito masculino para entender. – Uma personalidade que viaja num avião privado espera que alguém importante a receba no aeroporto.

– O estilista pode ir – decidiu Zakahr, mas a postura rígida de Lavinia fê-lo mudar de opinião. – Está bem, vai tu... Se for necessário.