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Editado por Harlequin Ibérica.

Uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Núñez de Balboa, 56

28001 Madrid

 

© 2002 Sara Wood

© 2015 Harlequin Ibérica, uma divisão de HarperCollins Ibérica, S.A.

Uma família feliz, n.º 844 - Dezembro 2015

Título original: For the Babies’ Sakes

Publicado originalmente por Mills & Boon®, Ltd., Londres.

Publicado em português em 2005

 

Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor, incluindo os de reprodução, total ou parcial.

Esta edição foi publicada com a autorização de Harlequin Books S.A.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, carateres, lugares e situações são produto da imaginação do autor ou são utilizados ficticiamente, e qualquer semelhança com pessoas, vivas ou mortas, estabelecimentos de negócios (comerciais), feitos ou situações são pura coincidência.

® Harlequin, Sabrina e logótipo Harlequin são marcas registadas propriedades de Harlequin Enterprises Limited.

® e ™ são marcas registadas por Harlequin Enterprises Limited e suas filiais, utilizadas com licença.

As marcas em que aparece ® estão registadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutros países.

Imagem de portada utilizada com a permissão de Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos estão reservados.

 

I.S.B.N.: 978-84-687-7539-5

 

Conversão ebook: MT Color & Diseño, S. L.

Sumário

 

Página de título

Créditos

Sumário

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Se gostou deste livro…

Capítulo 1

 

O seu marido tinha uma amante?

Pálida, horrorizada, Helen permaneceu imóvel, no hall. Entrou em casa, com o olhar fixo na roupa interior cor-de-rosa que estava no primeiro degrau. Não queria mexer-se, com medo de descobrir mais roupa interior espalhada pela escada de madeira, que desaparecia, fazendo uma curva. O seu coração batia muito depressa. Aquelas cuecas eram muito sedutoras e, definitivamente, não eram suas. Era o tipo de lingerie que as modelos usavam para posar para as revistas. Como tinham ido ali parar aquelas cuecas?

Helen esbugalhou os olhos cinzentos e ficou a observar o laço ridículo que enfeitava a costura de seda das cuecas. Quem conseguiria usar algo tão incómodo e pouco prático? E o que fazia ali, no meio das suas escadas? A desconfiança começou a sufocá-la. Mal conseguia respirar. Cada vez que o fazia, sentia uma enorme dor no peito. Sentia-se mal. Gemeu e fechou os olhos com força, tentando ser mais forte do que as náuseas e as tonturas que a tinham afectado durante toda a manhã. Inclinou a cabeça e ouviu com atenção, tentando ouvir eventuais ruídos. Pelo menos, gargalhadas femininas abafadas… Contudo, só conseguia ouvir o barulho da chuva torrencial a bater no telhado. Seria um bom sinal?

Helen estremeceu e desabotoou o casaco molhado. Não era a gripe o que a fazia sentir-se mal, mas o medo e a decepção. Estava a tiritar. As provas do crime começavam a pô-la assustada. Em primeiro lugar, uma mulher, sexualmente activa, deixara cair aquela roupa íntima nas escadas da sua casa. Helen mordeu o lábio inferior, compreendendo por que chegara àquela conclusão em primeiro lugar. Ela não era uma mulher sexualmente activa. Dan e ela chegavam tão cansados do trabalho, que mal se viam e quase nunca faziam amor. Por isso usava roupa interior prática.

Em segundo lugar, há alguns minutos, enquanto calçava as botas no carro, imprescindíveis naquele chuvoso mês de Junho, vira que as cortinas do seu quarto estavam abertas, algo invulgar em pleno dia. Aquilo surpreendera-a tanto, que se esquecera do guarda-chuva no carro. Por isso, ficara com o cabelo todo molhado, já que ficara a olhar para a janela, como se fosse uma idiota, a tentar compreender o que estava a acontecer.

«Só podem ser ladrões», pensara ao princípio. No entanto, essa conclusão era uma estupidez. Nenhum ladrão se teria dado ao trabalho de abrir as cortinas do quarto, enquanto fazia o assalto. Isso levara-a ao terceiro ponto. Só uma pessoa tinha as chaves de sua casa, para além dela: o seu marido. Helen olhara, então, para o celeiro, diante do qual Dan estacionava sempre o carro. Fora um alívio vê-lo lá, em vez de uma carrinha de ladrões. Então, pensara que Dan devia ter voltado para casa mais cedo, tal como ela, por causa da gripe. Na pressa de ir ver como estava Dan, Helen tropeçara e caíra na lama, amaldiçoando o dia em que tinham decidido mudar-se para o campo. Porém, levantara-se e continuara a correr, desejosa de se aninhar a ele em frente da lareira, enquanto ambos assoavam o nariz.

Ah! O mais provável era que Dan não tivesse nenhuma gripe. Os olhos de Helen brilharam, ressentidos e furiosos. Talvez fosse outra coisa o que o fizera cair na cama. Outra pessoa, na verdade. Ela fez uma careta e os seus olhos encheram-se de lágrimas. Amava-o. Adorava tudo em Dan. E, como sempre, tirava conclusões precipitadas, quando o mais provável era que houvesse uma explicação perfeitamente simples e inocente.

Mas… a roupa interior nas escadas, o seu marido em casa, as cortinas abertas… Tudo lhe parecia muito desanimador. Helen afastou o cabelo da cara e, por fim, as gotas de água deixaram de escorrer pelo seu rosto. Tinha que descobrir a verdade.

Sabendo que não descalçara as botas cheias de lama e que estava a sujar a casa, Helen aproximou-se das escadas e agarrou-se ao corrimão novo, tentando evitar desmaiar. Tinha um nó na garganta, era incapaz de raciocinar e perceber o que estava a acontecer. No entanto, tinha a certeza de que devia haver uma explicação. Dan jamais a trairia. «Não, Dan, não», repetia várias vezes em pensamento.

Talvez tivesse ficado doente. Talvez, antes de voltar para casa, lhe tivesse comprado roupa interior erótica, para avivar a sua inexistente vida sexual e, por acaso, alguma roupa caíra do saco, enquanto subia as escadas. Doía-lhe a cabeça. Helen parou durante alguns segundos, à espera que aquela náusea lhe passasse. A gripe fazia-a sentir-se fraca. Custara-lhe muito regressar de Londres, uma vez que se sentira quase a desmaiar a caminho de casa. E a viagem fora cansativa: duas longas caminhadas a pé, duas estações de metro, uma hora de viagem de comboio e vinte minutos a conduzir.

Regra geral, ela passava o dia todo fora de casa. Era executiva financeira de um dos mais importantes armazéns de moda de Knightsbridge, em Londres. Naquele dia, Helen decidira voltar para casa mais cedo. Oxalá não o tivesse feito, pensava, enquanto as dúvidas a martirizavam, aterrorizada perante a possibilidade de Dan estar no quarto com outra mulher. Ela levantou a cabeça e, para seu desespero, viu outra peça íntima, uns quantos degraus mais acima. Era uma meia de seda. A outra meia estava enrolada de maneira erótica pelo corrimão da escada.

– Oh, Dan! – exclamou Helen num tom trágico, à espera que ainda houvesse uma explicação racional para tudo aquilo. – Por favor, que não estejas no quarto! Não conseguiria suportar!

Dan era tudo para ela. Por ele, até aceitara mudar-se para aquela casa horrível, rodeada de lama, com umas águas-furtadas cheias de esquilos que não paravam de correr durante toda a noite. Helen tentara não ligar às aranhas, que apareciam nos lugares mais inconcebíveis. Aceitaria fazer qualquer coisa, desde que, com isso, ele ficasse feliz. Tinham sido felizes, não tinham? Há dois anos, no dia do seu casamento, jurara-lhe amor eterno e atravessara a soleira da porta daquela casa campestre em Deep Dene com ela ao colo, indicando, orgulhoso, as qualidades daquele lugar, enquanto Helen só via naquela casa abandono e isolamento. Mas, por ele, ela suportara a presença constante de trabalhadores e o funcionamento estranho da cozinha e do forno.

Criada na cidade, Helen sonhava com ruas pavimentadas, estradas alcatroadas, cheias de trânsito e inalações de monóxido de carbono. Dan, pelo contrário, adorava Deep Dene e as suas vigas antigas de madeira, as suas lareiras e os cinco hectares de jardim, por isso, ela acabara por ceder. E assim, depois de contratarem um construtor, tinham começado as viagens diárias para Londres, para os seus empregos, vindos da futura casa de sonho de Dan, em Sussex Downs. Aquilo era um pesadelo.

Helen ficou pensativa. Talvez o problema fosse aquelas longas viagens diárias para o emprego. Mal se viam. Não se abraçavam há muito tempo e há semanas e semanas que não faziam amor. Ela chegava tarde a casa e punha qualquer coisa no microondas. Dan voltava a altas horas da noite, às vezes demasiado cansado até para pronunciar uma única palavra. Porém, ele era demasiado viril, demasiado masculino para permanecer celibatário durante muito tempo. Era precisamente nesses momentos que os homens se perdiam.

– Dan, não me faças isto… – sussurrou Helen, suplicante, sentindo uma insuportável dor no estômago que não sabia se devia atribuir à gripe ou ao medo.

Ela subiu com lentidão as escadas. A sua testa suava, fria. Estava mais doente do que pensava. Então, ouviu vozes. Eram fracas, distantes, e vinham do seu quarto. Imediatamente, pôs de lado a hipótese do regresso a casa de Dan, depois de lhe ter comprado lingerie. Helen conseguiu identificar a sua voz segura, profunda, e, a seguir, ouviu a de uma mulher desconhecida.

– Não, não! – negou inutilmente.

Havia uma mulher no quarto. Sem roupa interior. Com o seu marido. Helen engoliu em seco. Não teria de ser muito inteligente para imaginar o que estava a acontecer. Ela ficou petrificada, por causa do choque, enquanto sentia a cabeça à roda e ouvia aquelas vozes ecoarem na sua mente. Não conseguia suportar. Amava Dan. Confiava plenamente nele. Não podia ser verdade. Tinha que haver um engano.

Talvez houvesse alguma outra explicação, talvez houvesse outra possibilidade. Helen imaginou-se a si própria envenenada pelas explicações dele a respeito de reuniões de trabalho, de preparativos de festas surpresa… Mas, em seguida, pensou nas dúvidas que corroíam o seu interior, silenciadas para sempre perante o medo da verdade. Não, jamais poderia viver consigo própria, nem com Dan, a menos que soubesse a verdade. Tinha de saber se a enganara na sua própria casa, no seu próprio quarto. E, claro, não tinha outra alternativa a não ser subir. Ela levantou a cabeça e observou, aterrada, as escadas, desejando encontrar uma explicação. Talvez aquela mulher fosse designer de interiores, perita em tapeçarias, e tivesse puxado as cortinas para… para…

Helen levou um punho à boca, desesperada, tentando afogar um grito. E a roupa interior? Para quê, por que haveria, então, a designer de a tirar? Ela continuou a subir e viu outras… coisas mais à frente, coisas das quis não era capaz de afastar o olhar. Era impossível, Dan amava-a. Mas talvez já não a amasse. Talvez a tivesse amado, há muito tempo. Há quanto tempo não faziam amor? Não procuravam afecto? Há muito. Na verdade, as suas vidas andavam por caminhos diferentes.

Helen começou a sentir-se culpada. Estivera muito ocupada, muito cansada… No entanto, eram necessárias duas pessoas para se fazer amor. Também ele alegara cansaço e exaustão. Mas exaustão, de quê?, perguntou uma voz perspicaz no seu interior.

Dan chegava sempre cansado a casa. Era como estar casada com um homem invisível. Algumas vezes, o mais perto que estava dele era quando se levantava de madrugada para lhe passar a ferro uma camisa. Ele vestia duas camisas lavadas por dia, às vezes, três. Depois de ele queimar duas camisas, ela decidira ocupar-se dessa tarefa. Naquele momento, perguntava-se se não teria estado a prepará-lo para a sua amante.

Helen encheu-se de coragem e continuou a subir, sem olhar para os sapatos vermelhos de salto altos. Pareciam os sapatos de uma prostituta. Mais acima um sutiã, um cinto de ligas e uma t-shirt. Mais à frente, uma camisa azul de mulher, uma saia e um casaco, colocados, quase artisticamente, em cima do último degrau. Tinha a boca seca. Cada degrau era como o topo de uma montanha alta, que a aproximava cada vez mais da verdade receada. Só conseguia ouvir as vozes de Dan e daquela mulher. Não conseguia ouvir o que diziam, tão fortes eram os batimentos do seu coração. O seu corpo pesava. Rogava para que tudo aquilo fosse um sonho, uma alucinação. Desejava acordar e rir-se às gargalhadas, junto a ele, enquanto a abraçava e jurava que jamais olharia para outra mulher, reconhecendo que, nos últimos tempos, a deixara muito sozinha…

Chegara o momento. Chegara ao cimo das escadas. Helen soluçava e ofegava, enquanto observava duas pernas femininas nuas.

Capítulo 2

 

Eram umas pernas esbeltas, observou ela. Com as unhas dos pés pintadas de vermelho. Helen sentiu todo o seu mundo a desabar. Não se atreveu a olhar mais para cima.

– Meu Deus, Helen! – exclamou a mulher. – O que trazes calçado?

A gargalhada de Celine fê-la estremecer. Celine tinha os olhos fixos nas unhas dos seus pés, que estendia sobre o tapete, reclamando a posse de toda a casa e, simultaneamente, do seu marido. Era a secretária de Dan, o seu braço direito. E, a partir daquele momento, também era o seu braço esquerdo, as suas duas pernas, o seu tronco… Aparentemente, Celine já era completamente dele e ela nem sequer parecia envergonhada.

Helen ficou furiosa. Observou o ar triunfante de Celine, tapada somente com uma toalha azul, a sua toalha, e entrou no quarto. Helen, pelo contrário, devia parecer um rato acabado de sair da água. Contudo, pouco lhe importava o seu aspecto, embora estivesse a estragar o tapete de cor creme.

– Tenho as botas cheias de lama. Garanto-te que podem magoar alguns pés descalços! – gritou ela, enquanto a secretária se chegava para trás. – Agora, explica-me essa tua figura, Celine!

– Helen! – gritou, de repente, Dan, horrorizado.

Ela olhou para a porta da casa de banho, diante da qual estava Dan, de pé. Fechou os olhos e praguejou. Ele estava nu, embora trouxesse enrolada às ancas uma pequena toalha. O seu corpo magnífico, masculino e musculado, e o seu cabelo estavam molhados. «Tomou um banho depois de ter ido para a cama com esta mulher», pensou Helen, respirando fundo. Então, era verdade: fora-lhe infiel. Não conseguia acreditar.

– Desgraçado! – gritou, furiosa, enquanto via o seu mundo a desmoronar-se.

– Oh, meu Deus! – gemeu Dan.

Muito magoada, Helen observou a expressão dos olhos dele, que denotavam vergonha e horror. Estava pálido e tinha os lábios sem cor. O seu rosto espelhava a culpa. Ela começou a ver tudo à roda.

– Dan! – gritou Helen, num tom recriminador, incapaz de pronunciar qualquer outra palavra.

– Querida! – gritou ele, por seu turno, estendendo uma mão num gesto reconciliador, que ela recusou com tristeza.

– Não, não me toques!

– Não compreendes – começou ele, muito sério, franzindo o sobrolho. – Não é o que pensas…

– Não? Não me mintas! Não me tomes por parva! – gritou Helen, histérica.

Era inconcebível que Dan se atrevesse a usar a clássica desculpa masculina: «não é o que pensas». Mas, sim, era.

– Não estou a mentir-te! – exclamou ele, cruzando os braços, desafiante. Apesar da sua atitude, Helen reparou que estava nervoso, que lhe custava respirar. Todavia, preferia não saber porquê. – Estás a tirar conclusões precipitadas…

– Precipitadas? Olha para ti! Olha para ela! – exclamou ela, apontando para Celine. – Tu não tirarias conclusões precipitadas?

– Celine, disse-te que…! – começou a dizer Dan.

– Não posso acreditar! Não vais culpá-la, pois não? – continuou Helen.

– Celine…

– Já chega. Pára de fingir que não fizeste nada! Tinha uma boa opinião de ti, mas, segundo parece, estava enganada. Não posso acreditar que sejas cobarde ao ponto de a culpares só a ela. Como pudeste fazer-me isto? – soluçou Helen, com os olhos lacrimejantes. – Se gostasses de mim, nunca terias…

– Helen! – gritou Dan com o sobrolho franzido, surpreendido.

– O que foi? O que se passa?

– Tens um aspecto horrível! – afirmou ele, com crueldade.

– Muito obrigada – respondeu ela, com uma careta. – Só me faltava isso.

Helen olhou para Celine, que deixou escorregar, com grande arte, a toalha, revelando um pouco mais dos seus suaves e voluptuosos seios. Celine não estava molhada nem tinha o rosto vermelho de ira. Também não tinha o cabelo despenteado e todo salpicado de chuva. O contraste era visível. Em vez de sofisticada e irresistível, Helen estava coberta de lama e tinha um ar doente. Não podia competir com ela.

– Bom, estás com mau aspecto – insistiu Dan, com o sobrolho franzido.

– Sim, mas nem Cleópatra pareceria bonita, dadas as circunstâncias – respondeu ela, ressentida, levantando o queixo. – Alguma vez, ao voltar para casa, a rainha do Nilo encontrou o seu marido a arrancar a roupa a outra mulher, deixando peças íntimas pelas escadas?

– Arrancar o quê? Do que estás a falar? – exigiu ele saber, muito indignado.

– Aquilo! – gritou Helen, com amargura, apontando para as escadas.

Dan esboçou uma expressão de confusão muito convincente. Numa questão de segundos, com impaciência, as suas pernas longas percorreram a distância que os separava.

– Meu Deus! – comentou devagar, observando as roupas caídas, como se não as tivesse visto antes.

A sua actuação foi brilhante. Não era de estranhar que tivesse conseguido ocultar-lhe a sua infidelidade até àquele momento, pensou Helen. Dan era uma estrela de Hollywood, a fazer o papel de marido inocente, acusado por engano de ter uma amante.

– Estás a recordar-te ou a pressa era tanta que nem sequer te lembras de o teres feito? – perguntou ela.

Dan explodiu, então, de ira. Uma raiva aterradora tomou conta dele. Então, virou-se para Celine. Ela, por seu turno, tapou a boca num gesto revelador, como que a dizer: «Que tontos somos!»

– És uma estúpida!

A secretária, como resposta, encolheu os ombros e pestanejou. Helen chegou inclusive a temer por ela. Dan parecia estar prestes a rebentar de raiva, a expressão do seu rosto era aniquiladora.

– Não te atrevas a descarregar a tua ira nela! – exclamou Helen, consumida pela raiva. – Olha para ti! Foste tu quem provocou esta situação! Tu!

– Não! – gritou ele, virando-se para Helen. – Quantas vezes tenho de te dizer isso? Eu não sei o que se está a passar aqui!

Ela, intimidada, recuou. Dan estava disposto a negar as evidências, pensou, atónita. A mostrar-se até ofendido, a afirmar que ela estava a cometer uma injustiça.

– Será que estás drogado? Celine violou-te, por acaso? Não posso acreditar que te atrevas a negá-lo!

– É a verdade! – protestou ele.

– Por favor! – gritou Helen. – Não vale a pena negares e fingires que estás inocente! Não suporto mentiras!

Desesperada, olhou para os olhos de Dan e soluçou, quando viu neles compaixão. Não precisava da sua pena. Precisava da sua fidelidade.

– Não estou a mentir – repetiu ele, com mais calma. – No entanto, depois, falaremos sobre isso. Agora tens de te recompor, Helen. Estás molhada, cheia de lama e…

– Como se eu não soubesse!

– Já chega de sarcasmos! O que aconteceu? Caíste? – perguntou Dan.

– Sim, porque sou uma parva! – exclamou ela, com lágrimas nos olhos. – Vi… vi as cortinas do quarto abertas e…– gaguejou, esfregando os olhos. – Vi o teu carro e pensei que talvez estivesses doente… Fiquei preocupada! Meu Deus, se soubesse…! Porém, vim a correr, feita parva, para ver como estavas e… escorreguei na lama…

– Oh, querida! – exclamou Dan, com uma expressão terna de preocupação, dando um passo para Helen com os braços abertos.

– Não te aproximes de mim! – soluçou ela. – Não me toques! E não me chames «querida»!

– Mas, querida, juro que estás a interpretar mal a situação…!

– Isso não é verdade. Quem me dera que fosse – disse Helen, desesperada. – Está bem, força! Conta-me o que se passou! Estou ansiosa por saber por que estão os dois aqui, nus, e por que Celine parece tão… satisfeita.

– Celine… – disse Dan, num tom imperativo. – Apanha a tua roupa e… veste-te.

Helen observou Celine. A toalha escorregara mais uns centímetros. Dan pestanejava com rapidez, observando de soslaio o mamilo, de repente descoberto. Parecia atónito. Helen sentiu-se enganada.

– Sim – assentiu Celine, demorando muito tempo a executar a tarefa. – Todavia, não te esqueças da reunião. É daqui a uma hora…

– Não! – negou ele, passando uma mão pelo cabelo, esforçando-se por pensar com clareza. – Eu… Bolas! Desmarca a reunião. Chama um táxi e sai daqui. Quero ver-te esta noite no meu escritório…

– No teu escritório… Estou a compreender – a secretária riu-se.

– Duvido – respondeu Dan, furioso, respirando fundo. – Agarra nas tuas coisas e desaparece.

Celine esbugalhou os olhos, atónita, e esboçou uma expressão maliciosa, antes de dizer: